PONTO

Diariamente pontuo frases, corrijo textos, reescrevo trechos, escrevo do zero. Risco e jogo fora o que não gostei, o que não ficou bom. Procuro , como um ouvires, descrito por Bilac, um texto trabalhado como o ouro.

Quem me dera escrever minha vida como fazer um texto... que vem cheio de desafios, mas com uma deliciosa dose de criatividade. Quem me dera eu dominasse os signos, linguagens, normas e símbolos para que a minha vida pudesse sair da ourivesaria sem defeitos. Queria eu, como um escritor, ditar os rumos que a personagem principal tomaria e que o mocinho fosse mocinho até o fim.

Quem me dera coubesse a mim, a escolha das frases que teriam pontos de exclamação, algumas interrogações e reticências. Mas eu descobri que a minha vida é um texto escrito a muitas mãos. Quem por ele passa, pontua, escreve comigo, apaga e até torna a poesia em borrão ilegível.

Descobri também, que os co-autores da minha história quando outorgam um ponto final perdem o direito ao uso de interrogações e sequer a um novo parágrafo. Quando o ponto final é imputado, cabe a mim, protagonista, escolher novos personagens, diferentes cenários, emoções desconhecidas e reeditar sonhos.

“Pra minha poesia é o ponto final... é o ponto em que recomeço...”