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Mostrando postagens de 2003

O meu peso é a minha balança

Pá, pá. Tiroteio. Pessoas correndo. Menino avião subindo as ladeiras do morro. Boca de fumo. Guerra pelo poder. Crianças respirando entorpecentes e a violência diariamente, armadas com a indiferença da sociedade e com uma pistola 765, onde policial corrompido não é exceção, é regra. Dentro desse contexto, aparentemente libertino, surge uma nova lei, a lei da favela, que obedece quem pode e segue quem tem juízo. A ordem é matar o inimigo, ou qualquer um que ouse olhar torto para um sujeito armado. Para os que acreditam no determinismo geográfico, seria impossível pensar que de um ambiente como este pudesse sair algo bom ou alguém de bem. O filme “Cidade de Deus”, dirigido por Fernando Meirelles e baseado no livro de Paulo Lins, é o relato do dia-a-dia de uma população que vive às margens da sociedade, dos seus regimentos e das suas preocupações. Sociedade essa, dominante, que se utiliza da indústria cultural para despertar os desejos, o consumo e anseios que a cocaína e o tráfico de arm

A ordem do dia é o exílio ou a morte!

Golpe de Estado, ditadura, repressão, imprensa e sociedade sendo objeto de censura, vivendo constantemente na berlinda. A década de 60 marcou o Brasil e os países da América do Sul pelo golpe de Estado dos militares. A liberdade de expressão foi ultrajada e de forma arbitrária, impostos os Atos Institucionais, que davam plenos poderes aos ditadores e direito algum ao cidadão comum. Ao burlar a censura imposta, músicos, artistas, escritores e qualquer pensador oposto ao sistema, estava sujeito às aplicações de corretivos. A imprensa que ousava transpor a barreira chamada censura, ficou conhecida, em 1970, como imprensa nanica. A música teve um importante papel na conscientização nacional. “Milhos aos Pombos”, de Zé Geraldo, é um alerta à população contra os abusos cometidos pelos governantes. Ele chama à atenção para a passividade do brasileiro frente aos acontecimentos nacionais. Mais uma vez, a sociedade encontrava-se na berlinda. Os anos 80 também foram responsáveis por colocarem a p

Eu Quero é Ser Feliz!

Já sei namorar, já sei beijar de língua, agora, só me resta sonhar. Já sei onde ir, já sei onde ficar, agora, só me falta sair.” O início da canção lembra a busca pela melhor sintonia, na minha emissora preferida, onde lá, certamente, encontrarei o som que desejo ouvir. De repente, me deparo com o refrão cantado e repetido inúmeras vezes nas emissoras de todo o país. Um trio de cantores, levando a geração surfista do ciberespaço a declarar aos quatro cantos do mundo, que já aprendeu a fazer de tudo, já descobriu como se beija, já descobriu os melhores lugares para visitar, só falta uma coisa, a ação, o ato de sair, ir em busca do que necessita ser conquistado e vivido. São inúmeros os impactos que as novas tecnologias têm causado na cultura, na comunicação e na sociedade. Tendo noção da sua realidade, o homem foi desenvolvendo técnicas, que agrupadas, tornaram-se tecnologias para melhor servi-lo. Há oitocentos anos, Marco Pólo trazia o papel, inventado pelos chineses, para a Europa. A

Tentando entender Barbeiro

Jesús Martin-Barbeiro, estudioso da comunicação, em seu livro “Dos Meios às Mediações”, relata que a vida no Ocidente está se tornando muito mais complexa. “A sociedade está vivendo mudanças profundas. Cada vez mais cedo, os jovens precisam tomar inúmeras decisões.” Santos Dumont e os irmãos Wright foram gênios com espíritos inventivos e corajosos, ao tornarem o desejo humano de voar, realidade. Charles Spencer Chaplin, Carlitos para seu público: um homem de pequena estatura, com um bigode gracioso, que carregava uma bengala e usava um chapéu-côco, encantou o mundo ao ajudar na construção da história do cinema mundial. Nos Estados Unidos da América, um homem sonhava que um dia, seus quatro filhos viveriam em uma nação onde não seriam julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Martin Luther King lutava pela liberdade e acreditava que negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos seriam capazes de darem-se as mãos e declararem que eram livres. Elvis P

Se me atrapalha, logo consumo

Não. Não cabe a nós, meros seres humanos, qualificarmos outros seres humanos como anjos ou demônios. O conjunto de restrições, imperativos e normas ditadas pela sociedade, bem como a índole de cada ser humano, o contexto em que este está inserido são determinantes na construção do caráter individual do cidadão. De acordo com a Filosofia, as necessidades são carências de qualquer natureza. Por força destas perdas e ausências é que atribuímos valor ao que nos cerca. Neste processo, tudo o que se apresenta capaz de suprir e acabar com o déficit é valioso. Gilberto Dimenstein afirma que vivemos em uma sociedade que reverencia a velocidade, o efêmero tecnológico, o corpo, o desempenho, o sucesso individual, a moda. O valor das pessoas está muito mais no ter e, principalmente no aparentar, do que no ser. A busca constante da satisfação imediata estimula a impulsividade. Tem-se tornado uma realidade, o fato do ser humano não saber lidar com os limites e com a frustração. A cada dia ele se tor

Livre, Eu Quero Ser!

Que coisa interessante. Sempre imaginei que a juventude da década de 60, aquela mesma que inventou, junto com Elvis, o rock n'roll; que com Martin Luther King sonhava com a liberdade e a igualdade racial, fosse presa. Mas como não pensar assim, se o Ernesto, é o Che Guevara, argentino, sangue bom, pregava e liderava a revolução cubana? Depois, vieram os anos 70, e por força do mesmo ideal libertário, os jovens burlaram todo o tipo de censura imposta pela sociedade, romperam as barreiras, cantaram "paz e amor" aos quatro cantos do mundo. E eu, achava que eles continuavam presos. Meu Brasil verde e amarelo buscava a sua democracia. Isso já era anos 80. Depois de anos de tirania, nas mãos dos militares e de uma ditadura que prendeu sonhos, destruiu famílias, demoliu a liberdade de expressão, a juventude protestou. As Diretas Já explodiram pelas ruas e tomaram conta do ideal nacional. Mas que ingenuidade a minha, eu pensava que eles continuavam presos. Minha liberdade começou