A casa dos imortais

Revista Careta (RJ), de 1936 - Acervo da Hemeroteca da Biblioteca Nacional

 

Academia Paranaense de Letras com quase 90 anos cultiva e preserva a cultura do estado


O Brasil fervilhava culturalmente na década de 1920, buscava-se uma identidade cultural e brasileira. Prova disso é a Semana de Arte Moderna, que pretendia romper com as já tradicionais expressões artísticas. Era o que Ruy Castro chamou, no Rio de Janeiro, de “Belle Époque carioca”. 

Com Curitiba, não foi diferente. A capital paranaense vivia um processo de modernização e urbanização, início da construção de importantes obras como o Palácio Avenida, o Paço da Liberdade, o Teatro Guayrá, a Universidade do Paraná, e o Palácio Belvedere construído no então Largo Emílio de Menezes – em homenagem ao um dos dois paranaenses imortais na Academia Brasileira de Letras –, hoje Praça João Cândido. 

Foi neste ambiente cultural que, em 1912, foi fundado em Curitiba o Centro de Letras do Paraná – em funcionamento até hoje e aberto a todas as manifestações artísticas –, por Euclides Bandeira e Emiliano Perneta e, em 1922, a Academia de Letras do Paraná, tendo como presidente o escritor e jornalista Rocha Pombo e outros 29 membros. 





A academia reunia nomes como Romário Martins, João Pernetta, Andrade Muricy, Dario Velloso e funcionou até o início de 1926. De acordo com o historiador brasileiro, escritor, advogado e jornalista, Valério Hoerner Júnior, na Revista da Academia Paranaense de Letras, nº 31, “por motivos especialmente afetos à ausência de unidade filosófica por parte de seus fundadores, desviou-se dos objetivos precípuos já no seu terceiro ano de existência. Desfalcada, acabou por dissolver-se”.

APL

O Rio de Janeiro foi sede, em maio de 1936, no Silogeu Brasileiro, do I Congresso das Academias de Letras e Sociedades Literárias, reunindo intelectuais e representantes de academias e associações literárias de todo o país. Na oportunidade foi deliberado que seria fundada a Federação das Academias de Letras do Brasil, com o intuito de defender o intercâmbio literário no Brasil. O Centro de Letras do Paraná foi representado no evento pelos membros Silveira Neto e Leôncio Corrêa, mas apesar de congregar as maiores expressões literárias da época, como o centro era aberto a todas as manifestações artísticas, não atendia aos moldes pretendidos pela federação. 

A primeira edição do congresso foi decisiva para a criação da Academia Paranaense de Letras (APL), em setembro do mesmo ano. “Os acontecimentos de 1936, pois, que moveram a recriação de um organismo acadêmico no Paraná, (...) por sorte coincidiram com a presença de Ulysses Vieira, o líder faltante de 1922. Sua pessoa era talhada para a empreitada”, enfatizou Hoerner Júnior. 

INTEGRANTES

Para compor o rol de 40 imortais, os intelectuais da cidade foram convocados pela imprensa para uma reunião, no anfiteatro da Escola Normal Secundária, e ficou decidido que seriam aclamados alguns componentes da antiga academia e as demais cadeiras seriam preenchidas por indicação de uma comissão mista. 

A formação da APL seguiu os moldes da Academia Francesa e da Academia Brasileira de Letras, que até as décadas de 1980 e 1990 eram exclusivas para homens. Cada um dos 40 acadêmicos escolheu o patrono da sua cadeira, e a presidência foi assumida por Vieira. “A Academia Paranaense de Letras, alguns reclamam, é instituição cultural por demais fechada. Realmente, o é. Há que se considerar, no entanto, que os escritores que nela têm acesso são os que realizaram obra duradoura, que serviram à coletividade nos diversos setores profissionais, e que através de sua produtividade têm levado o nome do Paraná aos mais remotos pontos do Brasil e também do estrangeiro. Todos os escritores que lá permaneceram por muito tempo ou por pouco, deixaram a marca de seu talento, a lisura de sua atuação na vida comunal, científica ou literária”, enfatizou Vasco José Taborda, em artigo publicado na Revista da Academia Paranaense de Letras, nº 25/26

APL, no Belvedere | Crédito imagem: Ivo Lima


A casa dos imortais, desde então, teve diversos endereços, sendo o primeiro, no prédio do Palácio Avenida. A sede da academia funcionou também no Edifício Luis Valente, na Rua Monsenhor Celso; na Rua Doutor Muricy; no edifício do Instituto Histórico, Geográfico, Etnográfico Paranaense, na Rua José Loureiro, nº 43; no Centro de Letras do Paraná, na Fernando Moreira, nº 268, no Centro Paranaense Feminino de Cultura e, hoje, no Belvedere da Praça João Cândido.

AÇÕES

Nestes quase 90 anos, a Academia Paranaense de Letras tem promovido concursos literários, de documentos históricos, intercâmbios com entidades culturais, lançamentos de livros, palestras e vem cumprindo a rigor a sua finalidade, a defesa do idioma e a divulgação da cultura pátria. “Espaço aberto e democrático, nem sempre entendido, combatido às vezes, a Academia cumpriu até aqui o seu papel histórico na preservação e expansão dos bens culturais do Estado, na revitalização do sentimento paranista e na obediência aos postulados que lhe deram origem e sustentação”, declarou Túlio Vargas, quando do aniversário de 60 anos da instituição. 

Não alheia às mudanças da sociedade, a APL tem incentivado a participação da comunidade e a divulgação da cultura e da literatura paranaense.

Revista Fecomércio PR - nº 154

Texto: Silvia Bocchese de Lima

Fotos: Ivo Lima

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