Tentando entender Barbeiro

Jesús Martin-Barbeiro, estudioso da comunicação, em seu livro “Dos Meios às Mediações”, relata que a vida no Ocidente está se tornando muito mais complexa. “A sociedade está vivendo mudanças profundas. Cada vez mais cedo, os jovens precisam tomar inúmeras decisões.”

Santos Dumont e os irmãos Wright foram gênios com espíritos inventivos e corajosos, ao tornarem o desejo humano de voar, realidade.

Charles Spencer Chaplin, Carlitos para seu público: um homem de pequena estatura, com um bigode gracioso, que carregava uma bengala e usava um chapéu-côco, encantou o mundo ao ajudar na construção da história do cinema mundial.

Nos Estados Unidos da América, um homem sonhava que um dia, seus quatro filhos viveriam em uma nação onde não seriam julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Martin Luther King lutava pela liberdade e acreditava que negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos seriam capazes de darem-se as mãos e declararem que eram livres.

Elvis Presley, um branco com voz e alma negra, revolucionou o mundo da música, quando na década de 50, revelou ao mundo o “rock’n’roll”. O novo estilo musical procurou o rompimento de tradições e comportamentos, gerou atitudes revolucionárias em relação às drogas e ao sexo. Seguindo o “Rei do Rock” vieram Beatles, Rolling Stones e Bob Dylan.

Após a Segunda Grande Guerra, o Japão encontrava-se com falta de petróleo e a locomoção por automóvel era praticamente impossível. Foi então que Soichiro Honda decidiu adaptar um pequeno motor em sua bicicleta. Sua invenção foi sucesso em seu país, nos Estados Unidos e em todo o mundo.

O século XX também foi marcado pela invenção e propagação dos meios de comunicação de massa: rádio, televisão e internet. Porém, todo o progresso tecnológico e social conquistado não veio necessariamente acompanhado da melhoria da vida das populações.

Dumont e Einstein quase foram à loucura quando viram suas invenções serem usadas para fins de destruição humana. Chaplin e Elvis deram o ponta-pé inicial de uma série de mudanças no cinema e na sociedade. Luther King sonhava que os esteriótipos, fórmulas já consagradas, que impedem o questionamento a respeito do que estava sendo comunicado fossem desfeitos.

O homem, que viveu há mais de 100 anos, não conhecia as facilidades de comunicação, locomoção e os inúmeros aparelhos tecnológicos, mas certamente não era escravo do relógio, não vivia sob a imposição de um capitalismo selvagem, não fugia da crescente violência urbana e da poluição.

Barbeiro, em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, declara que os meios de comunicação de massa, como o cinema, o rádio, a música e a imprensa tiveram, assim como o populismo, um papel na formação da nacionalidade latino americana.

O populismo, no Brasil, foi um fenômeno político que caracterizou o período de 1946 a 1964 e trava-se de um governo que manipulava as massas, acenando com perspectivas de melhoria de vida.

Dutra, Getúlio Vargas, Jucelino Kubisctche, Jânio Quadros e João Goulart são os representantes brasileiros desse período.Dutra e Jânio estimularam a entrada de multinacionais no país, o Estado não mais interferia na economia e os salários da população foram congelados.

Verifica-se hoje, que a TV nacional está, assim como na época do populismo, de portas abertas ao capital internacional e mais uma vez, o que é público não recebe incentivos fiscais e o que é para educação da população não merece destaque algum. A Time Warner, Disney, News Corporation faturaram, em 1997, US$ 90 bilhões e uma de suas estratégias de mercado é dar ênfase aos mercados emergentes da Ásia e da América Latina.

Denis de Moraes, em seu livro “Planeta Mídia”, relata que no Brasil, oito famílias controlam mais de 90% de toda a comunicação social no país. Trata-se de jornais, revistas, rádios, redes de televisão, internet. Estudo realizado pelo economista Régis Bonelli mostra que 90% dos 300 maiores grupos nacionais privados têm controle familiar iniciado no começo do século passado.

Com relação ao discurso televisivo, hoje ele não quer apenas convencer, pois este é um esforço dirigido à mente, à Psique. Hoje, o discurso que se encontra, tanto em telejornais, novelas, filmes, programas de auditório, procura persuadir, dominar o emotivo coletivo, seduzir, e isso, é próprio da deusa do amor, Vênus.

Hoje, as pessoas vivem normalmente em dois mundos. O mundo real é onde se encontram as obrigações espirituais, sociais, cívicas, ou seja, onde predominam normas e compromissos. Porém, há um outro mundo, o mental. Esse é subjetivo. Nele reinam as fantasias, sonhos, desejos, expectativas e esperança. Ele é vivo, criativo e extremamente inovador.

A televisão entra exatamente neste segundo mundo, no nível da fantasia, mesmo que mostre nos telejornais, acontecimentos e fatos ligados às obrigações. Por incrível que pareça, não são somente os filmes, novelas estão no mundo fantástico, mas os telejornais e noticiários também.

Nas tardes de segunda à sexta-feira entra no ar o programa intitulado “Hora da Verdade”, comandado por Márcia Goldschmith. Recentemente, foi mostrado um caso de uma mulher que precisava revelar um segredo ao seu antigo namorado. Ela, uma senhora de 43 anos, ele um jovem de 26. Depois de muito suspense, ela revelou que acreditava ser sua mãe. O caso, hoje, está gerando polêmica por sua legitimidade. Outro fato mostrado no mesmo programa é o de uma mãe que está apaixonada pelo filho. Esses dois casos, remetem à Mitologia Grega, ao caso de Jocasta e Édipo, que viveram um romance.

O mito trabalha com os princípios básicos do ser humano, ele se refere não apenas às explicações clássicas, mas a um processo dinâmico, contínuo de raciocínio humano. Ele media o que é estranho com o que já é conhecido. “A mídia entretanto, liga o mito com o mundo da cultura cotidiana”, explica Robert White.

Ciro Marcondes Filho diz que não se deve culpar a televisão pela perversão da sociedade. “Culpar a TV é localizar erroneamente o verdadeiro inimigo. O televisor é apenas um aparelho que transmite mensagens produzidas por homens. Homens com idéias, intenções, ideologias e interesses a divulgar”, destaca ele. Se a televisão ocupa nos lares, um local de destaque e é o mais considerado dos entes queridos, certamente há algo de errado, não com o aparelho, mas as pessoas.

De acordo com Cláudio Muller, “a TV é o lugar onde as pessoas se vêem: uma sociedade sem problemas, com um padrão de beleza e sensualidade. A TV não é tão mentirosa, a sociedade que é.”

Ao mesmo tempo que a televisão introduz idéias e comportamentos, ela também acaba limitando a potencialidade inovadora e imaginativa dos indivíduos.

Muitas vezes os veículos de comunicação atuam como pauteiros dos assuntos discutidos pela sociedade. Um exemplo disso, pode ser visto na questão do Movimento dos Sem-Terra – MST, no Paraná. O movimento invadiu, na semana passada, os postos de pedágio do estado, recebendo apoio dos caminhoneiros e depois, pelo Governador Roberto Requião. No mesmo dia do movimento, discutia-se, em todos os veículos de comunicação do estado, a questão. Nas ruas também era possível perceber que este assunto estava sendo debatido.

Assim como um noticiário pauta assuntos corriqueiros, a mídia serviu de mediadora e pauteira na sala do quinto período de Jornalismo da FADEP. Os estudantes de comunicação, discutindo a mídia, pela mídia.


Silvia Bocchese de Lima

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