Se me atrapalha, logo consumo

Não. Não cabe a nós, meros seres humanos, qualificarmos outros seres humanos como anjos ou demônios.

O conjunto de restrições, imperativos e normas ditadas pela sociedade, bem como a índole de cada ser humano, o contexto em que este está inserido são determinantes na construção do caráter individual do cidadão.

De acordo com a Filosofia, as necessidades são carências de qualquer natureza. Por força destas perdas e ausências é que atribuímos valor ao que nos cerca. Neste processo, tudo o que se apresenta capaz de suprir e acabar com o déficit é valioso.

Gilberto Dimenstein afirma que vivemos em uma sociedade que reverencia a velocidade, o efêmero tecnológico, o corpo, o desempenho, o sucesso individual, a moda. O valor das pessoas está muito mais no ter e, principalmente no aparentar, do que no ser.

A busca constante da satisfação imediata estimula a impulsividade. Tem-se tornado uma realidade, o fato do ser humano não saber lidar com os limites e com a frustração. A cada dia ele se torna escravo do desejo, alimentado por uma sociedade que instiga a satisfação imediata de suas vontades. O viver só se torna completo, a partir do momento em que se torna possível a realização instantânea das aspirações.

Fernandinho Beira-Mar, Elias Maluco, Suzane Richthofen, Francisco, o Maníaco do Parque, são retratos de diferentes histórias, mas classificados, pela sociedade, como detentores de características semelhantes: seres maléficos e malignos, demônios.Beira-Mar comandou o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, chacinas, roubos e mortes. Elias Maluco foi o mandante do esquartejamento do repórter investigativo Tim Lopes, no morro do Alemão. Suzane, uma acadêmica de classe média alta, matou os pais para poder viver o romance proibido com o namorado. Francisco estuprou, matou e colocou toda São Paulo em alerta.

Dos quatro casos mencionados, três são oriundos das favelas de dois grandes centros brasileiros. Enquanto a miséria e os miseráveis eram dóceis, a sociedade não se preocupava com ela. Hoje, ameaçada e desesperada, urge na busca de uma solução para o problema.

O que dizer então de uma garota, filha de uma bem conceituada família, que estudou em bons colégios, mas impulsionada pelo “amor”, planejou e executou a morte de seus pais?

Onde está o erro? Quem é o responsável por mudanças bruscas no comportamento humano? Já citamos anjos e demônios e a eles retornamos. Segundo a Bíblia, houve uma rebelião entre os anjos, no céu. Um terço decidiu seguir a Lúcifer, que também era anjo de Deus, mas que em determinado momento, não aceitou a sua condição e quis ser igual a Deus. Foi expulso da corte celestial, junto com os outros rebeldes.

A indústria cultural, aquela defendida pelos Integrados e repudiada pelos Apocalípticos, estimula a cobiça. Para Beira-Mar e Elias, a cocaína e o tráfico de armas possibilitaram a realização dos seus mais malucos desejos. Essa mesma indústria também prega o consumo, e guiada por essa filosofia, a garota rica, consumiu, literalmente, tudo e todos que pudessem impedi-la de alcançar os seus interesses imediatos.


Silvia Bocchese de Lima

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