Vozes para recriar o mundo

Há 38 edições, Sesc PR realiza a maior feira literária do Paraná e, 
de maneira simultânea, 24 cidades recebem programações 
durante uma semana

Mais de 150 mil pessoas visitaram e participaram da programação
São muitas as vozes. Coletivas, individuais, próprias, reproduzidas, algumas ouvidas outras marginalizadas, em uníssono ou em monólogo, gritadas ou cochichadas, mas todas, em diálogo, são capazes de promover mudanças significativas no tecido social. 

Descobrir quais são essas vozes na literatura, a quem elas são dirigidas e como se manifestam foi o objetivo central das discussões, mesas-redondas e bate-papos promovidos pelo Sesc PR durante a realização da 38ª Semana Literária & Feira do Livro, de 23 a 28 de setembro. A ação ocorreu simultaneamente em 24 cidades do estado e teve como tema Literatura: vozes para (re)criar o mundo. Em Curitiba o evento foi realizado em parceria com a editora da Universidade Federal do Paraná.

De acordo com os organizadores e a curadoria da Semana, a literatura permite “por meio da interação
verbal e também corporal, a comunicação, a liberdade e a representação. Ela é o registro da polifonia do nosso tempo, do nosso desejo. Imprescindível como memória. A literatura é o local do encontro por excelência, seja esse social, cultural ou afetivo”.

Diálogos
Sendo assim o evento possibilitou, também, o encontro do público com 138 autores, escritores e pesquisadores desses diferentes discursos. 

A escritora, ativista e chef de cozinha natural, Bela Gil, defensora da democratização da alimentação saudável, destaca que comer e viver são atos políticos. “Comemos três vezes ao dia e as escolhas que fazemos em relação a nossa alimentação têm impacto direto ou indireto em muitos setores da sociedade, na terra, em quem está plantando, na economia, na saúde. Ao mesmo tempo entendo que só pode ser considerado um ato político quando temos poder de escolha e temos o que comer. Isso não é o caso de pelo menos cinco milhões de brasileiros que não sabem quando vão comer a próxima refeição e, quanto mais, escolher o que será consumido”, pontua.

Bela defende que não só a literatura deve abrir espaço para a discussão desse tema, como também as redes sociais, as mídias tradicionais, e as conversas cotidianas. “As pessoas estão mais abertas para ouvir, mais interessadas nos impactos de sua alimentação e acredito que estão se tornando mais conscientes. Vemos um movimento de pessoas mudando para uma alimentação orgânica, com menos carne, menos açúcar. Há muito espaço para se falar e falar bastante”. 

Ailton Krenak foi um dos convidados do evento
Um dos mais destacados líderes indígenas no Brasil, o escritor, jornalista e ambientalista Ailton Krenak, conhecido por um emblemático discurso na Constituinte, há mais de 30 anos, determinante para a conquista do Capítulo dos Índios na Constituição Federal de 1988, ressalta que desde então houve progressos e retrocessos nos direitos dos povos indígenas. “Desde a Constituição Federal, os povos indígenas escaparam do risco de desaparecerem sozinhos, pois enquanto houver lugar para os outros povos, tem que haver lugar para os povos indígenas. A redemocratização da vida política do país foi um grande processo que tivemos e o retrocesso está crescente desde a década de 1990, com a desfiguração da Constituição, sua negação e constante violação pelo executivo. Demarcamos as terras indígenas, como uma conquista e hoje somos ameaçados pela invasão e destruição destes mesmos territórios”.
Disputada palestra com Ailton Krenak

Para Krenak, a literatura é uma voz acessível aos povos indígenas e tem sido usada para clamar por liberdade e visibilidade. “A literatura, assim como outras artes, tem a força de sobreviver ao autoritarismo e abuso dos tiranos. Agora escritores indígenas tomam a literatura como uma nova arma de luta na afirmação de seus modos de vida e cultura. Assim é a força da literatura indígena e toda arte tem a capacidade de fortalecer a presença dos povos no mundo. Não é diferente para os povos indígenas”, enfatiza.

Livrarias
Mais de 50 livrarias e editoras participaram comercializando livros e trazendo autores convidados a apresentarem e discutirem obras. A Edições Sesc trouxe a Curitiba as professoras da Universidade de São Paulo (USP), Claudia Amigo Pino e Viviane Pereira, para o debate sobre o legado de Simone de
Beauvoir ao feminismo e a obra Beauvoir Presente, da premiada Julia Kristeva.


Atividades
Em todo o estado foram promovidas apresentações musicais, teatrais, narração de histórias, oficinas, pocket aulas com especialistas sobre obras literárias do vestibular da UFPR, produções criativas, palestras, exposições, exibição de filmes, poesia slam e lançamentos de livros, totalizando 883 atividades.

O Sesc PR lançou durante a feira a 4ª edição da Coletânea de Contos Infantis, uma obra que reuniu, por meio de edital, 10 histórias inéditas que representam diferentes aspectos das tradições culturais do Paraná. Todos os contos foram ilustrados pela artista Camila Santos e escritos por novos autores que vivem no estado ou paranaenses que moram em outros lugares. 

Pacote de Desenhos reúne trabalhos de
diversos artistas de Curitiba
Em pacote, similares aos que embrulhavam pão, o Sesc PR, por meio de uma ação do Sesc Paço da Liberdade em parceria com o grupo Desenhadores de Rua, lançou o Pacote de Desenhos. Neste produto, pessoas com as mais variadas formações técnicas e diferentes conhecimentos no desenho realizaram registros gráficos de espetáculos apresentados no Festival de Teatro de Curitiba, neste ano.
Entre mais de 100 desenhos, foram selecionados 16. Os desenhos foram feitos rapidamente, à mão livre, por meio da observação direta, e sem o apoio da fotografia e, para o professor da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, José Marconi Bezerra de Souza, teve o objetivo de “treinar o olhar
a filtrar e sintetizar informações de uma ‘realidade’ cenográfica e literária”. Os Pacotes de Desenhos
têm edição limitada e estão disponíveis gratuitamente na unidade Sesc Paço da Liberdade. 

Editora Senac
O Senac participou da feira com um estande da Editora Senac SP, na capital. Durante os dias da feira foram vendidos mais de mil livros, sendo a maior procura pelas obras de gastronomia. Como parte da programação, o Senac PR realizou o lançamento do livro Cozinhando com Economia, bate-papo com as autoras Zenir Dalla Costa e Cláudia Moraes, sessão de autógrafos e aula-show.

Noite de abertura, em Curitiba
Na capital do estado, a 38ª Semana  Literária Sesc & XVII Feira do Livro Editora UFPR reuniu na noite de abertura, convidados, autoridades e parceiros, que pontuaram a necessidade da valorização cultural, dos encontros, das vozes e do ouvir. Para o presidente da Academia Paranaense de Letras e coordenador de jornalismo do Núcleo de Comunicação e Marketing do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, Ernani Buchmann, a realização da Semana Literária e Feira do Livro em todo o Paraná só é possível porque parceiros e a procura da população, dos estudantes e de todos aqueles que acreditam que “a cultura levará este país a outro patamar”.

Ricardo Marcelo, Ernani Buchmann e Darci Piana durante abertura da
38ª Semana Literária Sesc & Feira do Livro Editora UFPR
O reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Marcelo Fonseca, pontua que a universidade pública vive um momento sensível e de necessidade de reacender o seu protagonismo. “Essa universidade, a mais antiga do Brasil, a alma máter dos paranaenses, que tem formado gerações
e gerações, berço da produção de saberes precisa mostrar, talvez mais do que nunca, do que ela é feita. É preciso dizer com todas as vozes que não há um salto no próprio desenvolvimento econômico
sem forte valorização da ciência, da tecnologia, e da inovação. Mais do que nunca precisamos valorizar o raciocínio com mediações. Necessitamos da cultura, da inteligência, dos livros, instituições culturais e da universidade pública brasileira”, destaca.

Segundo o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, membro da Academia Paranaense de
Letras e vice-governador do Paraná, Darci Piana, é necessário destacar a importância de ações conjuntas para a realização de eventos culturais em todo o estado. “Parceiros como a Universidade Federal do Paraná, Rede Paranaense de Comunicação, Editora UFPR, prefeituras, mostram a grandeza desta união, e o que podemos fazer pela cultura, pelo conhecimento, servindo de exemplo no Paraná e para outros estados”, diz



Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Ivo Lima e Bruno Tadashi
Revista Fecomércio PR - nº 132



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