No meio do caminho, várias pontes
As principais pontes localizadas nas fronteiras e divisas do Paraná que levam, trazem e fazem a história do estado
Se em Minas Gerais havia uma pedra no meio do caminho, no Paraná, há pontes. São 2.360 quilômetros de fronteiras e divisas que separam o Paraná, com seus quase 200 mil quilômetros quadrados de área, de outros estados e países latino-americanos. Cercado por água em toda a extensão de sua costa leste e na quase totalidade dos seus limites ao Norte e ao Oeste, é por meio de pontes que se tem acesso ao Paraná e, por meio delas, é possível conhecer a história política, social e econômica do estado.
Foi justamente o abandono político, econômico e social em que se encontrava o Paraná, além da falta
de justiça, que fez com que o capitão Bento Viana, em 1821, clamasse para que a comarca de Curitiba e Paranaguá fosse emancipada da capitania de São Paulo. O clamor foi respondido pelo juiz com um “Ainda não é tempo” e, somente 32 anos depois, a emancipação do Paraná foi concretizada. Foi a partir de então que se tem início à construção de importantes ferrovias, estradas e pontes em terras paranaenses.
Ponte Dr. Diniz Assis Henning (Crédito Imagem: Acervo Prefeitura de Rio Negro) |
Ponte Metálica
Uma das mais antigas pontes de divisa que se tem registro, entre o Paraná e Santa Catarina, é a Ponte Dr. Diniz Assis Henning, popularmente conhecida como Ponte Metálica. Ela foi inaugurada em 1896, ligando as margens do Rio Negro e os municípios de Rio Negro (PR) e Mafra (SC). Registros dão conta que ela foi construída na Bélgica, em estaleiros da Compagnie Dyle et Bacalan, e foi necessário um ano para que, no Brasil, fosse montada.Embora haja controvérsias sobre a verdadeira história da ponte, ela tem como medidas oficiais, 71,46m de comprimento, 7 metros de largura e 8,10m de altura – dimensões menores do que a distância entre as margens do rio. Com os viadutos de acesso, ela tem 110 metros.
À época, ela custou aos cofres públicos, segundo Mensagem Dirigida ao Congresso Legislativo do
Estado do Paraná pelo Doutor José Pereira Santos Andrade, Governador do Estado, em 1º de outubro de 1897, 270:470$856 (duzentos e setenta contos, quatrocentos e setenta mil, oitocentos e cinquenta e seis réis).
A ligação entre os estados, ao longo dos anos, foi testemunha de importantes ciclos econômicos paranaenses, como o do tropeirismo, o da madeira e o da erva-mate. No ano de 2000 a ponte foi restaurada e recebeu o nome de um médico local, o Dr. Henning, descente de Bucovinos – o primeiro grupo de alemães que chegou ao Paraná, em Rio Negro, em 1829.
A ponte, de propriedade do estado do Paraná, foi tombada, em 2000, como Patrimônio Cultural
do Paraná e, em 2002, pelo Departamento de Patrimônio Histórico do Estado de Santa Catarina.
Ponte Pênsil Alves Lima (Crédito: Acervo Prefeitura de Ribeirão Claro) |
Ponte Pênsil Alves Lima
A ocupação do Norte do Paraná deu-se principalmente pela chegada de paulistas e mineiros, atraídos pela fertilidade das terras paranaenses. Foi a dificuldade de escoamento da produção cafeeira, a primeira grande barreira a cruzar, uma vez que os meios de transporte eram poucos, quase não havia estradas e a safra precisava ser transportada por balsas.Ponte Pênsil Alves Lima (Crédito: Acervo Prefeitura de Ribeirão Claro) |
Manoel Antônio Alves de Lima, proprietário da Fazenda Monte Claro – uma das maiores fazendas de café do Paraná, localizada às margens do Rio Paranapanema –, tomou à frente da construção da ponte, contando com aporte financeiro dos dois municípios.
O texto de defesa do tombamento, no Patrimônio Cultural do Paraná, de 2001, traz a informação que embora seja conhecida como “Ponte Pênsil de Chavantes” – ela tem 164 metros de comprimento, 4,10m de largura e 2,88m de altura –, seu nome oficial é uma homenagem ao seu construtor, Alves Lima. “Bastante estreita para os padrões atuais, ela representou a ‘salvação da lavoura’ na época em que foi construída. Para comprovar a sua importância, a prefeitura de Ribeirão Claro chegou, em 1926, a dar uma ajuda de três contos de réis para construção da estrada”, traz o texto.
A ponte Alves Lima foi, por três vezes, destruída. A primeira, em 1924, durante a Revolução Paulista, quando as tropas dos revoltosos a queimaram. Quatro anos depois ela foi reerguida. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, as tropas leais a Getúlio Vargas dinamitaram a ponte para impedir e retardar o avanço das tropas paulistas. Novamente, em 1936, a ponte foi reconstruída.
A terceira destruição ocorreu em 1983, quando ocorreu uma das maiores enchentes do Rio Paranapanema e a ponte foi levada pelas águas. A reconstrução ocorreu em 1985 e desde então, uma placa traz a seguinte inscrição, cunhada por jovens de Chavantes: “Em 1924 e 1932 revoluções armadas destruíram esta ponte. Em 1983, uma grande enchente novamente a destruiu. Toda vez que um mal destruir um bem ele será reconstruído, para que não morra no coração dos homens a esperança”.
Em 2006, a ponte foi interditada, uma nova ligação entre os dois estados foi construída em concreto,
paralela à ponte pênsil – hoje restrita a trânsito de pedestres.
Ponte Ayrton Senna
Ponte Ayrton Senna (Crédito Imagem: Acervo Prefeitura de Guaíra) |
Ponte Ayrton Senna (Crédito Imagem: Acervo Prefeitura de Guaíra) |
Quando do cancelamento, parte da ponte já estava construída e iniciava ali o clamor popular para que a obra foi concluída. O governo estadual assumiu o desafio, em 1994, e investiu R$30 milhões na conclusão. A altura média da ponte é de oito metros, mas a pedido da Marinha Brasileira, foi construído um canal de navegação, com um vão de 52 metros entre um pilar e outro, com altura de 13 metros acima do nível do rio, possibilitando a passagem de embarcações. Isto fez com que a ponte tenha uma característica única no mundo, uma curva na parte central, com tobogã.
A conclusão da obra ocorreu em dezembro de 1997 e, em janeiro de 1998 foi aberta para o tráfego.
Ponte Internacional sobre o Rio Santo Antônio
Ligando o Brasil a Argentina, entre os municípios de Capanema (PR) e Andresito, foi inaugurada, em março de 1994, a Ponte Internacional sobre o Rio Santo Antônio, conhecida no país vizinho com Puente Internacional Comandante Andresito, tendo comprimento total de 124,15m e 13 metros de largura.Há 18 anos, com o fechamento da Estrada do Colono pela Polícia Federal e explosão da balsa que fazia a travessia de veículos e da população entre Porto Lupion e o Parque Nacional do Iguaçu, o governo do Paraná construiu uma ponte para ligar a cidade de Capanema à Argentina. A justificativa, além de permitir o deslocamento, era compensar a região por eventuais danos econômicos que foram
provocados devido ao fechamento arbitrário da estrada.
Ponte Internacional da Amizade
Ponte Internacional da Amizade (Crédito: Banco de Imagem) |
de São Paulo e a emancipação política do Paraná são bem mais recentes, datadas de 1853. A exploração do território além capital e região litorânea ocorreu, principalmente, no fim do século XIX e início do século XX. O ritmo de desenvolvimento das cidades e o acesso às inovações tecnológicas eram distintos e, até mesmo, restritos. Foz do Iguaçu é um exemplo disso.
A partir da década de 1950 a cidade começava a engatinhar na exploração turística das Cataratas
Ponte Internacional da Amizade (Crédito: Banco de Imagem) |
Com 552,4m de comprimento e 75 metros de altura, sobre o Rio Paraná, a ponte inaugurada em 1965, liga a cidade de Foz do Iguaçu a Ciudad del Este e representou o marco inicial de integração continental, permitindo a ligação rodoviária direta entre a capital paraguaia e os portos marítimos brasileiros.
Ponte Internacional Tancredo Neves
Para ligar a cidade de Foz do Iguaçu à argentina Puerto Iguazú os presidentes dos dois países, em 1972, Emílio Médici e Alejandro Lanusse, assinaram o “Tratado de Intenção”. Entretanto, este documento ficou arquivado e foi retomado somente em 1982, pelos presidentes João Figueiredo e Reynaldo Bignone.A ponte, localizada a 15 km abaixo das Cataratas do Iguaçu, está próxima ao marco das três fronteiras e dela é possível se ter uma visão dos três países: Brasil, Argentina e Paraguai.
Também conhecida como Ponte Internacional da Fraternidade, a ligação tem 489 metros de comprimento e foi inaugurada em 28 de novembro de 1985.
Ponte Prefeito Benedito Garcia Ribeiro
Outra ligação entre Paraná e São Paulo, construída sobre o Rio Xavantes, é a Ponte InterestadualPrefeito Benedito Garcia Ribeiro. Com 1.550 metros de comprimento, a ponte tem 53,5m de altura e
liga as cidades de Carlópolis (PR) e Fartura (SP). A construção da ponte demorou 14 meses para ser concluída em 1969 e recebeu o nome em homenagem ao ex-prefeito de Fartura, que governou o município por três gestões.
Segunda ponte ligando o Paraná ao Paraguai (Crédito: Divulgação Itaipu) |
Pedra fundamental |
Uma nova ponte Em 10 de maio de 2019, os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez, lançaram, em Foz do Iguaçu, a pedra fundamental da nova ponte que ligará Foz do Iguaçu a cidade paraguaia de Presidente Franco.
Com recursos da Itaipu Binacional na ordem de aproximadamente R$ 463 milhões para construção da ponte e da perimetral em Foz do Iguaçu, a previsão é de que a obra seja concluída em três anos e será essencial para aliviar o fluxo da Ponte Internacional da Amizade e evitar o trânsito de veículos pesados pelo centro de Foz do Iguaçu. De acordo com o projeto, a Ponte da Amizade será utilizada exclusivamente para o tráfego local entre a cidade brasileira e Ciudade del Este e, para o uso turístico, especialmente o de compras.
A nova ponte terá 770 metros de comprimento e um vão livre de 470 metros, o maior em ponte estaiada no Brasil.
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Revista Fecomércio PR - nº 130
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