A primeira transmissão de TV em Pato Branco completa 50 anos
O resgate dos primórdios da comunicação
televisiva no Sudoeste do Paraná. O trabalho de homens que fizeram a história
da comunicação
A
transmissão oficial da televisão brasileira foi realizada em setembro de 1950 e
recebida por aproximadamente 100 aparelhos espalhados pela cidade de São Paulo.
O responsável pelo evento foi o empresário das comunicações Assis Chateaubriand,
dono da pioneira TV Tupi Canal 3. Em Pato Branco e em todo o Sudoeste,
demorou-se cerca de 20 anos para que houvesse a primeira transmissão de TV.
Alguns nomes fizeram com que esse fato se tornasse realidade.
Geron
durante trabalho na oficina da Eletrônica Lima. |
Foi
por volta de 1965 que Newton Brum de Lima, um rádio amadorista, chegou a Pato
Branco, vindo de Porto Alegre, onde trabalhava como técnico em eletrônica. Na
cidade ele montou uma oficina de reparos, acreditava que os transmissores
seriam o futuro das tecnologias e que precisava estar preparado. Isso o motivou
a buscar maneiras para que Pato Branco pudesse receber imagens de televisão.
“Lima foi para São Paulo e comprou uma grande antena para receber sinal de
televisão. Ele adquiriu uma de 19 elementos, da Amplimatic para longa distância
com o objetivo de buscarmos pelo melhor sinal”, conta José Antônio Geron,
técnico de informática que trabalhou com Lima.
José Antônio Geron e Valdemar Ferreira no alto da torre de 30 metros construída para receber os sinais de televisão. (Crédito imagem: Arquivo pessoal) |
As primeiras tentativas
Passados
três anos da chegada de Lima a Pato Branco, corria-se a notícia que em breve o
homem pisaria no solo lunar e que haveria em todo o mundo a transmissão das
imagens por televisores. Ansiosos por receber esses sinais na cidade e
incentivados por pessoas vindas de capitais, Lima, Geron e Vitório Wrobil
resolveram realizar alguns testes nos locais mais altos da cidade.
A
primeira tentativa foi concretizada próximo à atual praça do Bairro Sudoeste,
em novembro de 1968. Utilizaram a antena de 19 elementos, 18 metros de altura (três
canos de seis metros cada), e adaptaram uma antena na ponta. Como na cidade não
havia energia elétrica, os proprietários do Hotel Brasil forneceram um motor
gerador de energia, para que os testes pudessem ser realizados. O primeiro
aparelho de televisão utilizado nos testes foi um Philco, 17 polegadas, preto e
branco, cedido pelo promotor de justiça de Pato Branco, Josafah Anacleto.
Na
primeira noite captaram uma imagem de boa qualidade, do Canal 4, de Curitiba, a
TV Iguaçu, imagem esta que poderia ser retransmitida para toda a cidade. Para se
obter uma imagem definitiva era necessária a realização de testes diários,
porém no terceiro dia não se captava imagem alguma. “Lima foi até a Telepar e
de lá fez uma ligação para o Canal 4. Os técnicos da emissora informaram que a
captação só havia sido possível devido a uma nuvem estacionária que ao chegar à
ionosfera foi refletida e, coincidentemente captada pela antena de teste”,
conta Geron.
Apesar
da decepção, Lima estava certo de que as pesquisas precisavam continuar. No
Morro do Divisor, a 18km do centro da cidade, e a 1.100m de altitude foram
feitos os testes. O acesso era difícil e a subida de 2km era feita carregando o
motor, o aparelho de televisão, a antena, e metros de cabos. Foram captados
sinais fracos do Canal 5, da TV Piratini, que era retransmitida em Xaxim, vinda
de Porto Alegre, através de repetidores. “Conseguimos captar sinais, mais seria
inviável montar naquele local uma torre, em virtude da necessidade de levar
energia até lá. Desistimos do Morro do Divisor e voltamos, novamente,
decepcionados”, revela.
Resolveu-se
procurar outro ponto de maior altitude e o escolhido foi o que se encontra no
Bairro São Cristóvão, em terras do Sr. Soares. Foram captados bons sinais de
televisão e acreditavam que poderia ser possível retransmitir para a cidade,
apesar da imagem ter interferências. Lima, como tinha maior conhecimento sobre
televisores, foi a São Paulo para comprar peças para a oficina e adquiriu um
dos melhores da época, um Telefunken, 17 polegadas, preto e branco, para
continuar os testes.
José Antônio Geron, em 2019. (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
Na
oficina da Eletrônica Lima, começaram a montar um transmissor, apesar de haver
dificuldade com válvulas, a falta de energia elétrica e o desconforto em
transportar o gerador de energia. Com canos de 18 metros de altura e uma antena
na ponta, verificaram que havia a possibilidade de retransmissão do sinal.
Montou-se uma torre, feita de conduíte (material que era usado antigamente para
entrada de energia elétrica), de 28 metros de altura. Não havia experiência na
montagem de torres, e contaram com a ajuda de Valdemar Ferreira. Direcionou-se
a antena para o sul, onde foi captado o sinal da TV Piratini, no canal 5, que
era retransmitido para a cidade no canal 3. “Com a autorização do proprietário
das terras e com o auxílio de muitas pessoas e empresas, conseguimos material
para construção de uma antena. Fomos até empresas que comercializam material
elétrico como a Parzianello, a Petricoski e ao Pozza. Todo mundo colaborava
quando contávamos o nosso objetivo. Construímos a antena, fizemos a sapata e os
tirantes para dar firmeza à torre”, conta Geron.
No
dia 20 de julho de 1969, os técnicos estavam nas terras do Sr. Soares. O boato
de que os técnicos conseguiriam transmitir as imagens fez com que muitos se
deslocassem até a base da antena. O pequeno televisor foi colocado em cima de um
automóvel, e cerca de 500 pessoas assistiam às imagens do homem pisando na Lua.
Imagens por todo o Sudoeste
As
cidades vizinhas começaram a receber as imagens e desejavam retransmiti-la e
melhorá-la, para tanto, havia a necessidade de um outro transmissor, para
substituir aquele feito na eletrônica local.
Newton
adquiria peças em São Paulo, tinha acesso a técnicos e em conversa com
engenheiros procurou informar-se dos procedimentos e das possibilidade para a
transmissão. Com a cessão de um esquema técnico, montaram um projeto de um
transmissor, com as válvulas QQO 06/40 e QQO 06/12. Técnicos da AVOTEL vieram
até Pato Branco, realizaram levantamentos e procuraram sinais que vinham até
Palmas. Foi montado um transmissor mais potente em Guarapuava, outro em Chopinzinho
e em Coronel Vivida foi montada uma torre de 75 metros de altura. Houve
incentivo das prefeituras da região na montagem das antenas.
José Antônio Geron e Valdemar Ferreira, acompanhados das esposas em 20 de julho de 1969, aguardando a primeira transmissão. (Crédito: Arquivo pessoal) |
Como
em alguns pontos da cidade de Pato Branco ainda não havia recepção de imagens,
foi montada junto à caixa d’água, no Bairro Primavera, uma outra antena.
Quando
a imagem começou a melhorar, cogitou-se a transmissão em micro-ondas, mas na
região não havia tecnologia avançada para a transmissão. Depois de um certo
período, a transmissão foi realizada pela Telepar, da qual foi alugado um canal
para a recepção de imagens até a cidade de Pato Branco.
A
revenda de televisores era feita na Eletrônica Lima. Empire, Telefunken,
Colorado, Admiral, Artel, Piloto, GE, Philips, Philco 12 polegadas - à bateria,
foram os primeiros televisores comercializados na cidade, os mais vendidos
foram o Colorado e o Philco 12 polegadas. Os primeiros televisores coloridos
eram Colorado, Telefunken, ambos valvulados e o televisor Sharp
transistorizado.
Até
a montagem da primeira torre as transmissões não eram legalizadas, contatou-se,
a EMBRATEL, DENTEL e os órgãos responsáveis pelas transmissões no Brasil, a
partir de então, criou-se uma associação, a RADIPAR, para que a DENTEL,
homologasse a transmissão para o Sudoeste. “Nosso trabalho era feito em nossas
horas vagas, queríamos ter acesso às imagens e sem dúvida, foi o trabalho
coletivo que possibilitou a concretização deste sonho”, conclui.
Jornal Diário do Sudoeste
Texto: Silvia Bocchese de Lima
que legal a reportagem sobre meu avô Vitório Wrobel. Onde quer que ele esteja está feliz pelo reconhecimento
ResponderExcluirSe me permitem corrigir, Vitório Wrobel é newton Brum de Lima compraram muitos equipamentos com o seu próprio dinheiro para que a população de Pato Branco pudesse ter uma repetidora. Minha mãe foi muitas vezes com meu pai ( Vitório Wrobel) até o local onde a torre estava instalada, porque ligavam para meu pai cobrando que o sinal havia caído.
ResponderExcluirEu presenciei muitas vezes meu pai e o Newton subindo na torre a noite as as vezes abaixo de chuva forte correndo o risco de cair.
Homens de coragem lutando pelo progresso da cidade e nunca pediram nada em troca e nem mesmo recebiam para tal função, são nessas pessoas que devemos nos espelhar.
Jussara