A primeira transmissão de TV em Pato Branco completa 50 anos

O resgate dos primórdios da comunicação televisiva no Sudoeste do Paraná. O trabalho de homens que fizeram a história da comunicação


Embora algumas cidades paranaenses tenham mais de 300 anos, a emancipação política do Paraná é bem mais recente, datada de 1853. A exploração do território além capital e região litorânea ocorreu, principalmente, no fim do século XIX e início do século XX. O ritmo de desenvolvimento das cidades e o acesso às inovações tecnológicas eram distintos e, até mesmo, restritos. Estradas, energia elétrica, telefone foram conquistas lentas e graduais. Motivados pelo empreendedorismo, homens dedicaram-se à implantação do sinal de televisão no Sudoeste do Paraná.


A transmissão oficial da televisão brasileira foi realizada em setembro de 1950 e recebida por aproximadamente 100 aparelhos espalhados pela cidade de São Paulo. O responsável pelo evento foi o empresário das comunicações Assis Chateaubriand, dono da pioneira TV Tupi Canal 3. Em Pato Branco e em todo o Sudoeste, demorou-se cerca de 20 anos para que houvesse a primeira transmissão de TV. Alguns nomes fizeram com que esse fato se tornasse realidade.

Geron durante trabalho na oficina da Eletrônica Lima.
(Crédito: Arquivo pessoal)
Foi por volta de 1965 que Newton Brum de Lima, um rádio amadorista, chegou a Pato Branco, vindo de Porto Alegre, onde trabalhava como técnico em eletrônica. Na cidade ele montou uma oficina de reparos, acreditava que os transmissores seriam o futuro das tecnologias e que precisava estar preparado. Isso o motivou a buscar maneiras para que Pato Branco pudesse receber imagens de televisão. “Lima foi para São Paulo e comprou uma grande antena para receber sinal de televisão. Ele adquiriu uma de 19 elementos, da Amplimatic para longa distância com o objetivo de buscarmos pelo melhor sinal”, conta José Antônio Geron, técnico de informática que trabalhou com Lima.

José Antônio Geron e Valdemar Ferreira no
alto da torre de 30 metros construída para receber
os sinais de televisão.
(Crédito imagem: Arquivo pessoal)

As primeiras tentativas

Passados três anos da chegada de Lima a Pato Branco, corria-se a notícia que em breve o homem pisaria no solo lunar e que haveria em todo o mundo a transmissão das imagens por televisores. Ansiosos por receber esses sinais na cidade e incentivados por pessoas vindas de capitais, Lima, Geron e Vitório Wrobil resolveram realizar alguns testes nos locais mais altos da cidade.

A primeira tentativa foi concretizada próximo à atual praça do Bairro Sudoeste, em novembro de 1968. Utilizaram a antena de 19 elementos, 18 metros de altura (três canos de seis metros cada), e adaptaram uma antena na ponta. Como na cidade não havia energia elétrica, os proprietários do Hotel Brasil forneceram um motor gerador de energia, para que os testes pudessem ser realizados. O primeiro aparelho de televisão utilizado nos testes foi um Philco, 17 polegadas, preto e branco, cedido pelo promotor de justiça de Pato Branco, Josafah Anacleto.

Os pioneiros da comunicação em Pato Branco. Na foto, José Antônio Geron,
Newton Brum de Lima e Valdemar Ferreira. Abria-se um novo
 mundo, um novo mercado ao Sudoeste do Paraná.
(Crédito imagem: Arquivo pessoal)
Na primeira noite captaram uma imagem de boa qualidade, do Canal 4, de Curitiba, a TV Iguaçu, imagem esta que poderia ser retransmitida para toda a cidade. Para se obter uma imagem definitiva era necessária a realização de testes diários, porém no terceiro dia não se captava imagem alguma. “Lima foi até a Telepar e de lá fez uma ligação para o Canal 4. Os técnicos da emissora informaram que a captação só havia sido possível devido a uma nuvem estacionária que ao chegar à ionosfera foi refletida e, coincidentemente captada pela antena de teste”, conta Geron.

Apesar da decepção, Lima estava certo de que as pesquisas precisavam continuar. No Morro do Divisor, a 18km do centro da cidade, e a 1.100m de altitude foram feitos os testes. O acesso era difícil e a subida de 2km era feita carregando o motor, o aparelho de televisão, a antena, e metros de cabos. Foram captados sinais fracos do Canal 5, da TV Piratini, que era retransmitida em Xaxim, vinda de Porto Alegre, através de repetidores. “Conseguimos captar sinais, mais seria inviável montar naquele local uma torre, em virtude da necessidade de levar energia até lá. Desistimos do Morro do Divisor e voltamos, novamente, decepcionados”, revela.

Resolveu-se procurar outro ponto de maior altitude e o escolhido foi o que se encontra no Bairro São Cristóvão, em terras do Sr. Soares. Foram captados bons sinais de televisão e acreditavam que poderia ser possível retransmitir para a cidade, apesar da imagem ter interferências. Lima, como tinha maior conhecimento sobre televisores, foi a São Paulo para comprar peças para a oficina e adquiriu um dos melhores da época, um Telefunken, 17 polegadas, preto e branco, para continuar os testes.

José Antônio Geron, em 2019.
(Crédito: Silvia Bocchese de Lima)
Na oficina da Eletrônica Lima, começaram a montar um transmissor, apesar de haver dificuldade com válvulas, a falta de energia elétrica e o desconforto em transportar o gerador de energia. Com canos de 18 metros de altura e uma antena na ponta, verificaram que havia a possibilidade de retransmissão do sinal. Montou-se uma torre, feita de conduíte (material que era usado antigamente para entrada de energia elétrica), de 28 metros de altura. Não havia experiência na montagem de torres, e contaram com a ajuda de Valdemar Ferreira. Direcionou-se a antena para o sul, onde foi captado o sinal da TV Piratini, no canal 5, que era retransmitido para a cidade no canal 3. “Com a autorização do proprietário das terras e com o auxílio de muitas pessoas e empresas, conseguimos material para construção de uma antena. Fomos até empresas que comercializam material elétrico como a Parzianello, a Petricoski e ao Pozza. Todo mundo colaborava quando contávamos o nosso objetivo. Construímos a antena, fizemos a sapata e os tirantes para dar firmeza à torre”, conta Geron.

No dia 20 de julho de 1969, os técnicos estavam nas terras do Sr. Soares. O boato de que os técnicos conseguiriam transmitir as imagens fez com que muitos se deslocassem até a base da antena. O pequeno televisor foi colocado em cima de um automóvel, e cerca de 500 pessoas assistiam às imagens do homem pisando na Lua.

Imagens por todo o Sudoeste

As cidades vizinhas começaram a receber as imagens e desejavam retransmiti-la e melhorá-la, para tanto, havia a necessidade de um outro transmissor, para substituir aquele feito na eletrônica local.
Newton adquiria peças em São Paulo, tinha acesso a técnicos e em conversa com engenheiros procurou informar-se dos procedimentos e das possibilidade para a transmissão. Com a cessão de um esquema técnico, montaram um projeto de um transmissor, com as válvulas QQO 06/40 e QQO 06/12. Técnicos da AVOTEL vieram até Pato Branco, realizaram levantamentos e procuraram sinais que vinham até Palmas. Foi montado um transmissor mais potente em Guarapuava, outro em Chopinzinho e em Coronel Vivida foi montada uma torre de 75 metros de altura. Houve incentivo das prefeituras da região na montagem das antenas.

José Antônio Geron e Valdemar Ferreira,
 acompanhados das esposas em
20 de julho de 1969, aguardando
a primeira transmissão.
(Crédito: Arquivo pessoal)
Como em alguns pontos da cidade de Pato Branco ainda não havia recepção de imagens, foi montada junto à caixa d’água, no Bairro Primavera, uma outra antena.

Quando a imagem começou a melhorar, cogitou-se a transmissão em micro-ondas, mas na região não havia tecnologia avançada para a transmissão. Depois de um certo período, a transmissão foi realizada pela Telepar, da qual foi alugado um canal para a recepção de imagens até a cidade de Pato Branco.   

A revenda de televisores era feita na Eletrônica Lima. Empire, Telefunken, Colorado, Admiral, Artel, Piloto, GE, Philips, Philco 12 polegadas - à bateria, foram os primeiros televisores comercializados na cidade, os mais vendidos foram o Colorado e o Philco 12 polegadas. Os primeiros televisores coloridos eram Colorado, Telefunken, ambos valvulados e o televisor Sharp transistorizado.

Até a montagem da primeira torre as transmissões não eram legalizadas, contatou-se, a EMBRATEL, DENTEL e os órgãos responsáveis pelas transmissões no Brasil, a partir de então, criou-se uma associação, a RADIPAR, para que a DENTEL, homologasse a transmissão para o Sudoeste. “Nosso trabalho era feito em nossas horas vagas, queríamos ter acesso às imagens e sem dúvida, foi o trabalho coletivo que possibilitou a concretização deste sonho”, conclui.


Jornal Diário do Sudoeste
Texto: Silvia Bocchese de Lima



Comentários

  1. que legal a reportagem sobre meu avô Vitório Wrobel. Onde quer que ele esteja está feliz pelo reconhecimento

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  2. Se me permitem corrigir, Vitório Wrobel é newton Brum de Lima compraram muitos equipamentos com o seu próprio dinheiro para que a população de Pato Branco pudesse ter uma repetidora. Minha mãe foi muitas vezes com meu pai ( Vitório Wrobel) até o local onde a torre estava instalada, porque ligavam para meu pai cobrando que o sinal havia caído.
    Eu presenciei muitas vezes meu pai e o Newton subindo na torre a noite as as vezes abaixo de chuva forte correndo o risco de cair.
    Homens de coragem lutando pelo progresso da cidade e nunca pediram nada em troca e nem mesmo recebiam para tal função, são nessas pessoas que devemos nos espelhar.
    Jussara

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