O século da viola

Ela chegou ao Brasil pelas caravelas e, desde então,
agrada os ouvidos brasileiros. O modo de se tocar viola
no país é único e, ao mesmo tempo, diverso.
Em 480 concertos musicais, o Sesc apresenta
no Sonora Brasil: Violas Brasileiras

Peculiar e diversa, única em sua pluralidade e unânime no gosto popular. A viola foi fundamental no desenvolvimento da música no Brasil e, desde que por aqui chegou, ganhou o gosto popular. “A viola é, reconhecidamente, um instrumento com uma brasilidade muito clara e todo conhecimento da viola está focado, principalmente, na da região Sudeste. Existem não só outras formas físicas do instrumento, como outros repertórios espalhados pelo Brasil”, revela o assessor técnico de Música do Departamento Nacional do Sesc, Gilberto Figueiredo.

Músico e contador de
causos, Paulo Freire
Em sua 18ª edição, o Sonora Brasil, projeto de música do Sesc, traz como protagonista do espetáculo, nas regiões Sul e Sudeste, a Viola Brasileira. Serão 480 apresentações, em 130 cidades, tornando-o o maior projeto do país em circulação musical.

Segundo a gerente de Cultura do Departamento Nacional do Sesc, Márcia Rodrigues, desde a sua primeira edição, em 1998, o projeto já recebeu cerca de 80 grupos, em mais de 3.900 apresentações pelo Brasil, alcançando um público superior a 520 mil espectadores. “O Sonora Brasil não é uma simples circulação de músicos, de música e de instrumentos. Trazemos à cena a história da música brasileira e suas raízes. Pesquisamos o que é interessante mostrar para o Brasil, aquilo que está acontecendo na música, o que já aconteceu, o que precisa ser preservado, mostrado e, também, o que é necessário ser reconstruído e inovado, salientou Márcia, durante o lançamento do projeto, em maio deste ano, no Sesc Glória, em Vitória (ES).

Enquanto as regiões Sul e Sudoeste recebem a viola, o Nordeste, Centro-Oeste e o Norte do Brasil terão apresentações do tema “Sonoros Ofícios – Cantos de Trabalho”. Em 2016, realiza-se a inversão dos temas.

O projeto Sonora Brasil é singular. Uma das características marcantes é o fato de ser acústico, ou seja, não há o uso de sonorização. “Nossa preocupação é escolher um espaço adequado para uma apresentação que não faça uso de sonorização. É um convite a uma audição mais atenta”, pontua Figueiredo, explicando que o espetáculo não é didático, mas trata-se de um programa contextualizado. “Podemos ir a fundo no tema proposto e ir além da música. O projeto produz um catálogo que apresenta informações sobre os grupos que estão circulando e traz um texto relacionado com o conteúdo temático, produzido por um especialista. Esse texto serve de suporte para pesquisadores, estudantes de música e todos os interessados em música”, diz.

VIOLAS BRASILEIRAS
Quando o Sesc apresenta o tema Violas Brasileiras a intenção é aprofundar o olhar sobre este instrumento e traçar um panorama de como ele está presente no país e, em todas as regiões. Para contar a história da viola, quatro segmentos foram escolhidos: caipira; em concerto, nordestina e singular. “A Viola do Sudoeste é a mais consagrada pela mídia e conhecida como Viola Caipira ou sertaneja.
Violas Singulares
A Viola Nordestina está muito ligada ao repente; a Viola Machete, ao samba Chula, o samba de roda
Viola Nordestina
do recôncavo baiano. Seu repertório é próprio, construído a partir da cultura musical nordestina, que é o ponteado e outras expressões. Também apresentaremos a viola que chega às salas de concerto, com um repertório desenvolvido pelo meio acadêmico da música. O quarto segmento são as Violas Singulares, próprias de determinadas regiões, como é a Viola de Cocho, da região Centro-Oeste; a Viola de Buriti, de Tocantins e Maranhão e a de Fandango, localizada no litoral do Paraná e Sul de São Paulo”, explica Figueiredo.

Segundo o músico e contador de causos, Paulo Freire, que ao lado de Levi Ramiro apresentará as Violas Caipiras, o instrumento chegou ao Brasil pelos portugueses. “Aqui a viola se espalhou e é tocada de uma forma única, diferente do mundo todo. Essa música que pegamos lá no sertão, é um diamante bruto, e é muito bonito podermos trazer esta viola ao palco e mostrar o que os nossos mestres nos ensinaram”, diz.



PARANÁ NO SONORA
Viola de Concerto – Fernando Deghi
Embora tenha nascido em São Bernardo do Campo (SP), o músico de formação erudita, Fernando Deghi escolheu o Paraná para morar, sendo o representante paranaense no Sonora Brasil.
Estudioso da viola brasileira, tendo tocado por mais de 20 anos violão erudito, Deghi apresenta, ao lado de Marcus Ferrer, a Viola de Concerto. “Eu optei pela viola porque me interessei pelo instrumento, pelas afinações, pelas possibilidades que ela poderia me propor. A viola me traz o novo e trouxe também meu lado compositor”, revela.

O duo apresenta no Sonora Brasil um repertório que remonta ao período colonial brasileiro, quando a viola era uma das pontes musicais entre a Europa e o Brasil. “Na era colonial não temos um repertório solístico no Brasil, temos sim um repertório significativo e maravilhoso na Viola Barroca, tanto em Portugal quanto na Espanha. Deste período trazemos um renomado compositor, Gaspar Sanz, com a Dança Canários. Do período colonial um Lundu ou Lundum (anônimo) e uma modinha. O repertório solístico da viola no Brasil começa a partir de 1960, com compositores como Guerra-Peixe e Theodoro Nogueira e violeiros da nova geração, que eu faço parte, onde o objetivo maior foi
explorar as possibilidades solísticas e levar a viola para as salas de concerto. A maior parte do repertório do programa viola de concerto será com obras compostas para viola a partir de 1960”, conta Deghi.

No programa a ser apresentado há a obra “Modinha-Raivas Gostosas”, poema de Domingos Caldas Barbosa e música de Marcos Portugal. “Infelizmente a música negra no período colonial brasileiro não foi catalogada. Temos um importante representante, de 1750, Domingos Caldas Barbosa – um mulato carioca, filho de um português com uma escrava angolana que foi enviado para Portugal em 1763, para estudar em Coimbra. Celebrizou-se pelas trovas improvisadas ao som da sua viola de cordas de arame. Suas composições estão reunidas no livro Viola de Lereno, pseudônimo que ele adotava. 

Há no país um intenso e repleto repertório musical para a viola, que precisa ser organizado em termos de metodologia. “Enquanto os outros instrumentos já estão resolvidos nesta questão, eu creio que há um trabalho imenso a ser feito em termos de sistematização da metodologia na viola. Este é o século da viola!”, acredita.

 Cantadeiras do Sisal
(Credito Robson Di Almeida)
SONOROS OFÍCIOS
É recorrente em pesquisas sobre a música o tema cantos de trabalho e a proposta do Sesc é apresentar um panorama dessa expressão, no palco. Para isso, foram selecionados quatro grupos. “Três desses grupos são de fato de tradição, como as Destaladeiras de Fumo de Arapiraca e Mestre Nelson Rosa; as Quebradeiras de Coco de Babaçu e as Cantadeiras do Sisal e Aboiadores de Valentes. Cada um deles traz algo em comum que é um repertório utilizado na lida de trabalho diário, mas cada um com sua característica particular. São músicas com cunho político, conquista de direitos, ligadas à atividade laboral. Os cantos de trabalho estão muito ligados a essas questões do cotidiano e aos lamentos e queixas. Já Ilumiara não é um grupo de tradição, é formado por músicos e pesquisadores”, explica Figueiredo.

Em 2016, o Paraná receberá os 28 cantadores e as histórias dos cantos de trabalho.

Confira o cronograma no Paraná:
Viola Nordestina
Antônio Madureira, Ivanildo Vilanova e Cássio Nobre (PE/BA)
8/8 – Curitiba; 9/8 – Paranaguá; 10/8 – Ponta Grossa; 11/8 – Guarapuava;
12/8 – Pato Branco; 13/8 – Medianeira; 15/8 – Maringá e, 16/8 – Londrina

Viola Caipira
Levi Ramiro e Paulo Freire (SP)
3/9 – Curitiba; 4/9 – Paranaguá; 5/9 – Ponta Grossa; 6/9 – Guarapuava;
7/9 – Francisco Beltrão; 8/9 – Foz do Iguaçu; 10/9 – Maringá e, 11/9 Londrina

Violas Singulares
Sidnei Duarte, Rodolfo Vidal e Maurício Ribeiro (MT/SP/TO)
27/10 – Londrina; 28/10 – Maringá; 30/10 – Medianeira; 31/10 – Pato Branco;
1/11 – Guarapuava; 2/11 – Ponta Grossa; 3/11 – Paranaguá e, 4/11 – Curitiba

Violas de Concerto
Fernando Deghi e Marcus Ferrer (PR/RJ)
6/12 – Curitiba; 7/12 – Paranaguá; 8/12 – Ponta Grossa; 9/12 – Guarapuava;
10/12 – Francisco Beltrão; 11/12 – Foz do Iguaçu; 13/12 – Maringá e, 14/12 – Londrina




Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Divulgação Sesc


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