Investimento é a palavra de ordem


Em entrevista exclusiva à Revista Fecomércio PR, o doutor em economia e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, avaliou o cenário econômico brasileiro e projetou indicadores para 2013

Gustavo Loyola
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do terceiro trimestre deste ano ficou inferior ao esperado, não ultrapassando a casa de 0,6% de crescimento no período. O anúncio foi do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), logo nos primeiros dias de dezembro. Com este número, o PIB de 2012 não deve ser superior ao 1,5% como projetado pelo governo, acredita o doutor em economia e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola. O aumento da economia nacional está longe dos 7,5% alcançados em 2010, e dos 2,7% registrados no ano passado.

A desaceleração da economia nesses dois últimos anos deve-se, segundo Loyola, a pelo menos três fatores. O primeiro foi a permanência excessiva de estímulos do governo federal brasileiro visando a recuperação da economia, depois da queda do Lehman Brothers, em 2008, resultando em um superaquecimento econômico e gerando a necessidade de desacelerar este crescimento. Outro aspecto que não pode ser ignorado é a crise mundial e as incertezas derivadas dos problemas econômicos europeus que afetaram, principalmente, os investimentos. Por último, Loyola acredita no esgotamento do modelo de crescimento que o Brasil adotou nos últimos anos, baseado no consumo. “Na medida em que as famílias estão mais endividadas, em que não há recuperação dos salários e dos rendimentos reais e que a taxa de desemprego caiu, aponta-se para um cansaço e fadiga neste modelo de crescimento”, avalia.

Embora o consumo esteja alto, o economista acredita que haja um limite para o crescimento do endividamento, prevendo que o consumidor não deixará de buscar crédito no mercado, mas o acesso a ele não acompanhará na mesma velocidade. “Há espaço bastante grande no Brasil para a ampliação, por exemplo, do crédito habitacional, que no Brasil ainda tem um taxa relativamente baixa neste tipo de financiamento”, diz o ex-presidente. 

Concessões Públicas
Uma atitude positiva do governo federal, na avaliação de Loyola, tem sido a reativação dos investimentos, exemplo disso são as concessões de estradas, aeroportos e portos, que trarão investimentos privados para setores de infraestrutura.

Na primeira quinzena de dezembro, a presidente Dilma Rousseff anunciou o “Programa de Investimentos em Logística: Portos” - com ações e capital na ordem de R$ 54,2bi, além de novas regras regulatórias para portos - que tem o intuito de melhorar a infraestrutura e com isso, estimular o desenvolvimento do país. De acordo com relatórios do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), entre os meses de maio e setembro deste ano, já foram investidos R$272,7bi em habitação, transporte e energia. “Trata-se de um movimento positivo; embora o governo não goste de usar a palavra privatização, é isso que está sendo feito. O governo federal está abrindo mão de preconceito ideológico e reconhecendo, de fato, que há necessidade de criar um ambiente para atrair investimentos privados para a infraestrutura”, destaca o economista. 


Perspectivas
De acordo com levantamentos feitos pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o Custo Brasil, ou seja, o conjunto de fatores que influenciam e comprometem a eficiência e a competitividade da indústria nacional, deixa em média, 36,27% mais caro um produto brasileiro se comparado a um alemão ou norte-americano.

Com a sinalização do Banco Central de que a Taxa de Juros Selic deva ficar em 7,25%, Loyola acredita que as perspectivas da economia para 2013 são melhores, aliadas a outras medidas tomadas pelo governo federal. “Acredito num crescimento na ordem de 3,5%. Os fatores que atrapalharam o aumento da economia em 2012 continuarão a existir, portanto, a margem para um crescimento maior me parece muito estreita”, crê Loyola.

Se esta perspectiva de crescimento brasileiro for comparada com a de países desenvolvidos que passam por crises financeiras, como Grécia, Espanha e Itália, o indicador é positivo, afinal estas economias crescerão perto de zero. A previsão é que os Estados Unidos cresçam em torno de 0,2% e o Japão próximo a isso. Quando a comparação é feita com economias emergentes, como é o caso do México, Peru e Colômbia, o Brasil passa por uma desaceleração. “Isto se deve em virtude da não competitividade da nossa indústria, da intervenção constante na economia, que impõe restrições na entrada de capitais e que muda as regras do jogo frequentemente e de maneira abrupta. Isso gera incertezas e de fato afasta os investimentos”, diz.

Para que haja desenvolvimento e vitalidade na economia, são necessários investimentos e reformas em um país que como o Brasil, custa caro e tem uma produção onerosa. Do campo à indústria encontram-se dificuldades para escoamento das produções, a infraestrutura deficiente encarece o preço dos produtos e sobre o valor final a ser pago pelo consumidor é imposta uma sobrecarga tributária. “Precisamos de fato gerar mais investimentos e aumentar a produtividade, caso contrário, a indústria brasileira não terá condições de concorrer e toda a ampliação do consumo doméstico será atendida pelas importações”, pontua o economista.

Texto: Silvia Bocchese de Lima
Foto: Tendências Consultoria
Revista Fecomércio nº 91

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