Culinária da Crise
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Setor Agrícola revela ingredientes para vencer a crise
Todo bom cozinheiro, antes de iniciar o preparo de seu prato, coloca sobre a mesa os ingredientes que dispõe, verifica o que está em falta, os itens que precisa substituir e aqueles que são indispensáveis. Sobre o cenário econômico mundial, mergulhado em crise, encontram-se dosagens de incertezas, de receios e apreensão.
Como medidas e ingredientes necessários para o menor impacto da crise no Brasil, o presidente do Sistema FAEP – Federação da Agricultura do Estado do Paraná -, Ágide Meneguette, acredita ser imprescindível o aumento no volume de crédito, a redução imediata da carga tributária e a reforma trabalhista. “Todas as ações que venham a reduzir os custos de produção e tornar as nossas exportações e vendas internas mais competitivas devem ser efetuadas, assim, fariam com que o impacto da crise fosse mais brando”, salienta Meneguette.
Embora os governos dos países desenvolvidos e seus bancos centrais busquem com os erros e acertos cometidos na crise de 1929, as soluções para a atual turbulência e, também, a alocação do máximo de recursos possíveis para o setor financeiro, Meneguette esclarece que não é possível afirmar que haverá uma solução a curto prazo. “Esperamos que todas essas medidas tornem a crise menos profunda e mais curta”, almeja o presidente.
Após quebras de produção ocorridas nas safras de 2004/05 e 2005/06, o setor agropecuário passou por um ciclo positivo nas safras de 2006/07 e 2007/08, com crescente demanda para seus produtos. “Aliada às boas condições climáticas e uma safra recorde, resultou em altas cotações no mercado internacional, das principais commodities”, revela o presidente do Sistema Ocepar – Federação, Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná -, João Paulo Koslovski. Hoje, o cenário mudou. Para o setor agrícola brasileiro, especialistas pedem cautela, uma vez que produzirá reflexos no recheio e cobertura do bolo: os setores secundário e terciário da economia.
Segundo dados da Ocepar, a safra de verão sofreu perdas devido à estiagem, ultrapassando as 6,3 milhões de toneladas de soja, milho e feijão. Isso representa uma redução no VBP – Valor Bruto da Produção - em torno de R$3,5 bilhões, com base nos preços atuais.
Receita
Koslovski revela que, em novembro passado, o Governo Federal anunciou a liberação de recursos para capital de giro, através do PRODECOOP – Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária, pelo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Esse programa previa a liberação de R$10 milhões em capital de giro para cada cooperativa e, segundo ele, ainda não houve a regulamentação pelo banco. “É preciso que as medidas anunciadas pelo governo cheguem, efetivamente, ao produtor. As cooperativas tentam amenizar a carência por recursos, com investimentos de longa duração e revisão de contratos com o mercado externo”, salienta Koslovski.
O presidente da Ocepar mostra-se preocupado com a possível falta de recursos que o produtor terá para o plantio da safrinha e afirma que houve pedidos ao Governo Federal para a imediata liberação de recursos.
Como reflexos imediatos no setor, Koslovski enumera o cancelamento de contratos, a redução das exportações e a queda de preços para a venda. Ele lembra que uma medida tomada pelos produtores e exportadores de frango foi a redução da produção em 20% e a destinação deste produto para o mercado interno.
Meneguette prevê que o agronegócio brasileiro sentirá a crise de modo mais agudo, a partir de março deste ano, quando terá início a comercialização da safra de feijão. Ele afirma que a exemplo da produção de frango, a demanda por outras commodities também vêm se retraindo. “Há quem estime que neste ano as exportações do agronegócio caiam dos U$72 bilhões, registrados no ano passado, para algo pouco acima dos R$50 bilhões”, diz Meneguette.
Devido a atual situação econômica, os valores dos insumos agrícolas sofreram forte redução nos últimos meses e esta diferença ainda não foi repassada nos valores pagos pelos produtores rurais paranaenses e brasileiros. O presidente da Ocepar destaca que com o objetivo de otimizar os custos de produção, as cooperativas paranaenses formaram, ainda no segundo semestre do ano passado, o Coonagro – Consórcio Nacional Cooperativo Agropecuário -, que busca a compra de fertilizantes e outros insumos com custos competitivos e com garantia de qualidade.
Em virtude da volatilidade do mercado agrícola, qualquer previsão com relação a preços de produtos serão pouco precisas. “Não há expectativas de alta nos preços atualmente, isso somente ocorrerá se houver uma grande frustração de safra e, consequentemente, redução de estoques”, diz Koslovski.
Toque Final
Momentos de crise podem alavancar os negócios, como acredita o presidente da Ocepar, e para fortalecer a economia sugere que o produtor procure novos nichos de mercado, cautela ao buscar investimentos a longo prazo e redução dos custos.
De acordo com a assessoria econômica da Federação do Comércio do Paraná, as condições de crescimento nas economias brasileira e paranaense permanecem, mas em escala abaixo da anteriormente prevista. Koslovski acredita que a partir de 2010, haverá a retomada de crescimento, mas enfatiza que neste ano é necessário “apertar os cintos, pisar no freio e manter os profissionais na atividade”.
Analistas também indicam que o PIB – Produto Interno Bruto -, deste ano será entre 2% e 3%, e na avaliação de Meneguette, haverá menos renda, problemas com relação às dívidas dos produtores rurais, incluindo aquelas criadas pela seca que destruiu parte da lavoura do Paraná.
Apesar de todas as orientações, especialistas são unânimes em dizer que a dose exata de um ingrediente, o “fermento para a economia mundial”, virá com as ações e pela mão do chef, o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Silvia Bocchese de Lima
Revista Fecomércio PR - Edição nº 69
Janeiro e Fevereiro/2009
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