Zequinha: o doce sabor de infância
Criadas nos anos finais da década de 1920, as Balas Zequinha marcaram a infância, as brincadeiras e o ser curitibano.
Cantadas pelo samba-enredo da Embaixadores da Alegria – campeã no carnaval curitibano de 1992 –, citadas no conto Em Busca da Curitiba Perdida, de Dalton Trevisan, e recriadas em versos e desenhos por Valêncio Xavier e Poty Lazzarotto, em A Propósito de Figurinhas, as Balas Zequinha atravessaram gerações e fizeram parte do imaginário coletivo da capital paranaense por mais de 60 anos.
Criadas nos anos finais da década de 1920, pela fábrica A Brandina, dos Irmãos Sobania, as balas de açúcar, misturadas à essência de frutas e em formato quadrado, eram embaladas à mão, em figurinhas numeradas e que retratavam um personagem – o palhaço Zequinha –, em diferentes atividades, profissões, lugares e com as mais variadas emoções.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivy0f3RSukB3Ars7q0BNwC-nFPMAZ5v8tPA7tS5tFFXtzwrXd76sqq1mLQvgyffbaGh3iSRM5LOJJ18tqYdgwkxGI4TNkEYRwEfEKjIPKYGMQJ7qR9EPSZjV99-3RNrgF259Elj1XbXwY/s320/2+Balas+Zequinha+-+Irm%25C3%25A3os+Franceschi+-+Cr%25C3%25A9dito+Acervo+Gibiteca+de+Curitiba++Casa+da+Mem%25C3%25B3ria+-+FCC.jpg)
Em junho de 1976, o Estado do Paraná registrou o personagem no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Pouco tempo depois, o empresário Zigmundo Zavadski impetrou uma ação contra o Estado, alegando ser o criador e idealizador da figura do Zequinha. Segundo o INPI, em fevereiro de 2019 foi extinto o registro da marca por caducidade, que estava em nome de Experanza Administradora de Bens.
Onde tudo começou
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitnxBHo2NVDvhOzrUaChDVezSDJTUAMxacErDxLiDdQqlo1iOVBjgySQBSzh_7VI2On10x_fmANicfrg0jxUQSQIq7RpVdxN7pkBzJsZELyLt6k52lvbFNGatiQXUvA60xN2O5JwVtSGQ/s320/Palha%25C3%25A7o+Pinlin+-+Cr%25C3%25A9dito+Prefeitura+de+S%25C3%25A3o+Paulo.jpg)
No Paraná, as Zequinhas rapidamente ganharam a simpatia de crianças e adultos. As imagens desenhadas em papéis no formato 5x7cm, pelo litógrafo Alberto Thiele, logo foram ampliadas até a de número 50. O sucesso das balas foi tamanho que elas chegaram a 100 e rapidamente a 200 figurinhas. Os desenhos com numeração de 51 a 200 são creditados a Paulo Roberto Rohrbach – criador dos brasões de armas do Paraná e de Curitiba.
As Zequinhas eram embaladas, inicialmente, com os desenhos à mostra, para desespero dos vendedores de balas; afinal, as crianças queriam os doces com numerações específicas, a fim de completar a coleção. Logo a fábrica providenciou a mudança, e a numeração só ficava visível ao ser desembrulhado o produto.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnmKdMEcCH-59lO2j1Ql8W3tEYCuvwzw1XHUQhrWNBspqmFX1dnIBwZxgEz-qqUrzfdPQRhpekLru2UbDMJhtm3MuYTEgsiOfxL9JnQpo9zaOr9z00zfJvJJodfkuHX8OwIPOPoDxAWsk/s320/3+Balas+Zequinha+-+Gabardo+-+Cr%25C3%25A9dito+Acervo+Gibiteca+de+Curitiba++Casa+da+Mem%25C3%25B3ria+-+FCC.jpg)
Zequinha Faz-tudo
Em diferentes épocas, Zequinha foi retratado desempenhando inúmeras atribuições, de ferreiro a engenheiro, de dentista a astrônomo, de açougueiro a delegado. Foram tantas as funções que Zequinha tornou-se sinônimo de uma pessoa faz-tudo, aquela dedicada a vários ofícios.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ltLPbl9TddT3oosj3rmBKs6Of_qghOV0jgB5JbXmTJRto-H57Wp3QFs5zNqwRbfJdfGA2dhobN8UY_8XnJesczTOfZdz3PPVrzXoVA1swJhjybk_Xf1lK0fpcltXVQhqcq0V-TITqpQ/s320/4+Balas+Zequinha+-+Zigmundo+-+Cr%25C3%25A9dito+Acervo+Gibiteca+de+Curitiba++Casa+da+Mem%25C3%25B3ria+-+FCC+%25281%2529.jpg)
Controverso ou não, Zequinha era unanimidade entre as crianças que buscavam completar a série de 200 figurinhas para trocar por bolas de futebol, bonecas, porta-níqueis e lanternas elétricas, entregues pelos fabricantes.
O comércio das balas foi revolucionário entre as crianças, promovendo encontros para troca de figuras e disputas em jogos de Bafo e Tique. “O jogo de Bafo consistia em que cada adversário colocasse as figurinhas com a face dos desenhos voltadas para o chão: quem, batendo com a palma da mão nas figurinhas, conseguisse desvirá-las, ganhava-as. (... ) O jogo de Tique consistia em ‘casar’ as figurinhas perto de um muro, ou parede. Jogava-se moedas, ou chapinhas de ferro na parede, onde batiam e vinham ao chão. A que chegasse mais perto das figurinhas do adversário, ganhava-as”, explicou Xavier, no Boletim Informativo da Casa Romário Martins.
A marca e a concorrência
Zequinha não reinou absoluto entre as crianças das décadas de 1920 a 1950. Embora alguns periódicos tragam a informação de que a produção diária das Zequinhas era de 1.200 quilos, ou seja, 360 mil balas, Xavier destacou que as Balas Chico Fumaça, desenhadas por Alceu Chichorro, também encontraram na disputa pelo público, mas não foram tão bem aceitas.
De acordo com levantamento de Xavier, as Balas Bandeirinhas (com figurinhas de bandeiras de vários países), as Caramelo Aéreo-Lloyd (figurinhas que coladas em ordem, em uma folha de cartolina, formavam o desenho de um avião) e as Pastilhas Zoológicas (figuras com animais desenhados) encontraram relativo sucesso nos anos 1930.
ICM das Crianças
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn4FVRfsf64UGBb7XJWg2V0p18ulRGvWdTk3zm3lBKpVTh3OZlubBrNe7NqpSrSIoEzw8ekZbRZOKknyUWngMnmcvgs0YWmdPvweKJYdxKLOZqFiZQwrjgQct2OSPrIlqsKT7mj9X3tAc/s320/5+Zequinha+03+-+Governo+do+Paran%25C3%25A1%252C+Secretaria+de+Comunica%25C3%25A7%25C3%25A3o+Social+e+da+Cultura+e+Museu+Paranaense+%25281%2529.jpg)
correto em seus atos e práticas, visitava o Paraná, as obras e os órgãos públicos. Entretanto, a grande gola, a gravata borboleta, a maquiagem e os sapatos de palhaço foram mantidos.
A campanha do governo foi tão bem sucedida que, em três etapas da campanha, realizadas durante um ano inteiro, “houve a maior arrecadação de ICM dos últimos sete anos”, trazia matéria publicada no jornal Diário do Paraná, em fevereiro de 1981. Em 14 meses de campanha, foram emitidos Cr$ 53 bilhões em notas fiscais, arrecadação de Cr$ 37,9 bilhões em impostos, distribuídos 196 mil prêmios em todo o estado e impressas algo em torno de 206,7 milhões de figurinhas.
Para concorrer aos prêmios distribuídos pelo governo era necessário completar o álbum de 200 figurinhas. A cada mil cruzeiros em notas fiscais, as crianças trocavam por um álbum e uma carteirinha de sócio do Clube do Zequinha ou por um envelope com 20 figurinhas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGwWiGG1LGEwzzcP1_LfjGhD6NPl42g7Y_xVkIDvUjlLyTjlm9lp7JEyjzFRvbPlzJpWHdlyr6s67xvLrF03zjLOgJGAUa9VWAY2OsiAWhmb_eorZO8WnzPipr0TaL1oQCzTL-bD03ZKQ/s320/Envelopes+com+figurinhas+da+primeira+e+da+terceira+fases+da+campanha+de+arrecada%25C3%25A7%25C3%25A3o+de+ICM+-+Cr%25C3%25A9dito+Imagem+Murilo+Ribas+-+Governo+do+Paran%25C3%25A1%252C+Secret.jpg)
A febre para completar a coleção, a procura pelas figurinhas, as filas formadas para troca das notas fiscais foram tamanhas, que até bancos privados passaram a ser pontos de troca.
Valêncio Xavier foi um expert quando se tratava de Balas Zequinha. Ele escreveu diversos artigos, em inúmeros jornais e boletins e, com Poty Lazzarotto, desenvolveu o livro A Propósito de Figurinhas.
A obra, publicada em 1986 pelo Studio e Krieger, fazia uma releitura de 30 figurinhas das Balas Zequinha, os desenhos ficaram a cargo de Poty e Valêncio foi responsável pela produção de textos relacionados às imagens.
Controverso ou não, Zequinha foi um sucesso entre as mais diversas gerações que tiveram contato com ele e, como disse Xavier, em entrevista ao Correio de Notícias, de 1989, “Não existe nada mais curitibano que Dalton Trevisan e a Bala Zequinha”.
- Casa da Memória de Curitiba
- Casa Gomm - Coordenação do Patrimônio Cultural do Paraná
- Instituto Nacional de Propriedade Industrial
- Museu Paranaense
- Gibiteca de Curitiba
- Boletim Informativo da Casa Romário Martins: Desembrulhando as Balas Zequinha, de agosto de 1974.
- Jornal Correio de Notícias, de 1980 e 1989
- Jornal Diário do Paraná, de 1981
- Jornal Gazeta do Povo, de 1974
- Jornal O Nicolau, de 1989
- Livro A Propósito de Figurinhas, de Valêncio Xavier e Poty Lazzarotto
- Site da Prefeitura de São Paulo - Secretaria da Cultura - Artigo Piolin
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Revista Fecomércio PR - nº 135
Comentários
Postar um comentário