As pequenas grandes geradoras
Mensalmente, os mais de 500 pequenos
empreendimentos hidrelétricos espalhados
pelo Brasil produzem juntos quase
6GW de potência
Gregos e romanos, há mais de quatro mil anos a.C., já faziam uso da água em movimento para mover rodas e criar energia, capaz de irrigar lavouras, moer grãos e fornecer água potável às comunidades. Na região que hoje abriga a Bósnia, Montenegro e Croácia, os moinhos d´água eram utilizados desde o século II a.C. e, na Ásia, em período muito próximo, também. Leonardo da Vinci chegou a dizer que a “água é a força motriz da natureza”.
O uso das quedas d´água, como fonte de energia, faz parte da história brasileira. Em 1883, em Diamantina (MG), entra em operação a Usina Ribeirão do Inferno, marcando definitivamente o país como grande produtor de energia hidrelétrica do mundo. A inauguração da usina mineira, ainda em funcionamento, ocorreu apenas um ano depois da invenção das lâmpadas incandescentes por Thomas Edison e da primeira usina hidrelétrica ter entrado em operação nos Estados Unidos.
Foi após a década de 1920, quando a primeira onda de eletrodomésticos começou a invadir os lares brasileiros, e com o desenvolvimento da indústria nacional no pós-guerra, que a curva de consumo médio mensal familiar, que era praticamente incipiente, passou para 165kWh no Paraná, segundo levantamento realizado no último dezembro, pela Companhia Paranaense de Energia (Copel). Com as severidades climáticas, seja no verão ou no inverno, este consumo chega a triplicar.
O ritmo de desenvolvimento das cidades e o acesso às inovações tecnológicas têm feito a curva de consumo de energia elétrica aumentar consideravelmente nas últimas décadas. Com a substituição gradual e crescente dos veículos com motor de combustão interno por elétricos certamente acarretará mudanças no modelo e na produção de energia.
De grandes para pequenos empreendimentos
Na edição nº 128 da Revista Fecomércio PR, o engenheiro e doutor em Hidráulica, Nelson Luiz de Souza Pinto, foi um dos entrevistados na matéria Rio Iguaçu, uma indústria de energia. Ele relembrou que no fim da década de 1960 havia sido instalado na capital paranaense, o Comitê Sul, sob amparo da Copel, com a tarefa de inventariar o potencial hidrelétrico da Região Sul e, por meio desta equipe, distinguiu-se a riqueza energética do Rio Iguaçu – um dos mais importantes do Paraná – oportunidade em que foram estabelecidas as prioridades de investimentos dos grandes empreendimentos hidrelétricos.
Ao longo dos seus mais de 1.320km de extensão, o Rio Iguaçu abriga seis grandes usinas hidrelétricas, com potência instalada superior a 7GW; o Rio Paraná, conta com a Usina Binacional de Itaipu, com seus 14GW de potência instalada, além das usinas dos rios Tibagi, Paranapanema, Capivari e Jordão, que juntos abrigam 12 usinas hidrelétricas com potência instalada de 3.045,62MW.
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Jonel Iurk, engenheiro civil, matemático e ex-presidente da Copel |
A vez das pequenas
O potencial de geração de energia hidrelétrica do Paraná para grandes empreendimentos está praticamente esgotado, mas isso não significa que ele é inexistente. Existem outras modalidades e tamanhos de empreendimentos possíveis, entre elas as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e as Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs). O que as difere é o porte do empreendimento, mas, assim como as Usinas Hidrelétricas (UHEs), têm a finalidade de gerar energia elétrica por meio do aproveitamento da força das águas. “A diferença de uma grande e de uma pequena usina é a questão de volume d´água, aproveitamento e as quedas d´água. Para gerar energia hidráulica são necessárias duas variáveis principais: uma é a altura de queda e outra é a vazão. Não adianta ter uma altura de queda gigantesca e não ter água. Existe uma relação de equilíbrio”, explica Iurk.
EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS NO BRASIL:
» CGH: até 5MW
» PCH: de 5MW a 30MW
» UHE: acima de 30MW
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Na sede da ABRAPCH, o diretor de Assuntos Institucionais, Ademar Cury, e o vice-presidente da associação, Pedro Dias |
Dados da associação ainda demonstram que em 2019, o governo do estado encaminhou à Assembleia Legislativa, projeto de lei que aprova a construção de 14 CGHs e duas PCHs no Paraná. Pedro Dias, vice-presidente do Conselho Administrativo da ABRAPCH, destaca que existem 1.800 PCHs e CGHs sendo estudadas em todo o Brasil, algo em torno de 15GW em novos projetos.
Código de Águas
Quando Getúlio Vargas promulgou, em 1934, o Código de Águas, ainda vigente no país, determinou- se que as “quedas d´água e outras fontes de energia hidráulica existentes em águas públicas de uso comum ou dominiais são incorporadas ao patrimônio da União, como propriedade inalienável e imprescritível”.
Como a água pertence à União, em uma propriedade privada que tenha potencial para a instalação de uma PCH ou CGH é necessário requerer uma autorização, desenvolver um estudo e submetê-lo à Aneel. “É necessário realizar um inventário de potencial. No caso de uma CGH, o solicitante recebe uma autorização. No caso das PCHs e UHE são concessões. A diferença é que nos casos de concessões, o patrimônio, mais tarde, é revertido à união e as autorizações, patrimônio particular”, destaca Iurk.
BENEFÍCIOS DA ENERGIA HÍDRICA:
» Energia limpa e barata
» Fonte de Energia Renovável
» Sem emissão de gases poluentes significativos na geração
CGH Nicolau Klüppel
Em outubro do ano passado, foi inaugurada, em Curitiba, no Parque Barigui, a turbina da CGH Nicolau Klüppel, doada ao município pela ABRAPCH, capaz de gerar mensalmente cerca de 21.600kWh, o suficiente para abastecer 135 casas. Trata-se de um pequeno aproveitamento hídrico, mas de extrema importância. “A geração de energia da CGH Nicolau Klüppel, do Parque Barigui é pequena, mas estamos falando de uma economia na fatura de energia da Prefeitura na casa de R$132mil ao ano”, ressalta Dias.
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Bruno Tadashi, Ivo Lima e Murilo Ribas
Revista Fecomércio PR - nº 135
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