Cidadania por meio da Matemática

Neste biênio, o Brasil receberá dois dos mais importantes eventos mundiais da Matemática. Programações sistemáticas serão realizadas em todo o país para desenvolver atividades de ensino e aprendizagem da disciplina, atualizar e treinar professores, e colocar a Matemática, as Ciências e as Tecnologias em pauta


Nem todo mundo pode concordar com o matemático francês Jacques Salomon Hadamard quando ele afirma que a “Matemática é a mais simples, a mais perfeita e mais antiga de todas as ciências”. Frente aos números, resultado de uma pesquisa produzida no Reino Unido, foi constatada que a contribuição da Matemática e de suas profissões correlatas no Produto Interno Bruto (PIB) daquele país é de 16%. Percentuais bem próximos foram registrados também na França, Holanda e Austrália. Assim, fica fácil concordar com Pitágoras quando ele disse que “os números governam o mundo”.
Mais do que governar, a Matemática é cidadania, na opinião do matemático e diretor geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, Marcelo Viana. “Ser cidadão implica em uma série de
capacidades: ler, escrever, falar a sua própria língua e, inclusive, a ser alfabetizado matematicamente. Isso tudo não apenas para ser um profissional em diferentes áreas, mas para ser cidadão.
A Matemática carrega um valor social agregado que gera riquezas em todo o país”, salienta Viana, o primeiro brasileiro e primeiro matemático a receber a principal premiação científica da França, o Grande Prêmio Científico Louis D.
O matemático esteve na sede da Fecomércio PR, em 20 de fevereiro, acompanhado do deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Educação, Alex Canziani, para o lançamento
estadual do Biênio da Matemática Brasil (2017-2018). O lançamento marca o início das atividades
que permitirão reforçar o ensino e o aprendizado da Matemática em todo o país. A instituição do Biênio só foi possível por meio da sanção presidencial da Lei nº 13.358/2016, de iniciativa dos deputados federais Alex Canziani, Pedro Fernandes e Wilson Filho.
Nestes dois anos, o Brasil será sede dos dois maiores eventos mundiais da Matemática, a 58ª Olimpíada Internacional da Matemática, que será realizada em julho, reunindo estudantes do Ensino Médio de 100 países. Em agosto de 2018, o Rio de Janeiro receberá a 28ª edição do Congresso Internacional da Matemática, oportunidade em que será entregue a Medalha Fields, considerada
O matemático Marcelo Viana
uma das maiores premiações da área. Na última edição, em 2014, o matemático Artur Ávila foi o primeiro brasileiro a receber a premiação. “Jamais o Hemisfério Sul recebeu estes dois eventos. Para que não ficassem restritos à cidade-sede e pudessem ser ampliados e para obtermos
uma participação maior ainda de estudantes e comunidade, idealizamos o Projeto de Lei que tive o
privilégio de ter sido autor, criando o Biênio da Matemática. Com isso, pretendemos desenvolver uma série de ações e atividades que mostrem a relevância que a Matemática tem para a economia do país e para a sociedade, além de melhorarmos os índices registrados na disciplina, no Brasil”, afirma o deputado federal.

Ensino e Aprendizagem
Quando o assunto é Matemática, os testes que medem o aprendizado da disciplina no país não são satisfatórios. O último resultado obtido na avaliação da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, em 2015, o PISA (sigla inglês para Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), mostra retrocesso no aprendizado da disciplina no país. Entre 70 países avaliados, o Brasil ficou com a 63ª posição, regredindo em comparação ao resultado de 2006, quando ocupava o 59º lugar.
Se o calcanhar de Aquiles da educação brasileira é a Matemática, os dados obtidos com o PISA apenas corroboram com o Índice Nacional de Qualidade da Educação, o IDEB, que revela que somente 16% dos estudantes que concluem o Ensino Fundamental têm conhecimento adequado na disciplina e, entre os que terminaram o Ensino Médio, este percentual é ainda menor, 9%. “Dificuldades com a Matemática há no mundo inteiro. Ela é uma forma de conhecimento que se o professor não tiver a preocupação de conectar com a experiência do aluno, parece algo abstrato e arbitrário. Gosto de dizer que a Matemática é uma amiga que gosta de brincar, mas só brinca se eu também brincar. Ela exige uma atitude ativa da parte de quem a está estudando”, defende Viana.
Para o matemático, o atual sistema educacional brasileiro propicia as dificuldades no ensino e no aprendizado da disciplina. “Temos de um modo geral, professores que não são bem formados, desmotivados em sala de aula, pois a carreira não é compensadora e atraente. Nosso sistema
educacional deveria proporcionar incentivos ao bom desempenho dos educadores”, enfatiza.
A opinião do matemático é apoiada por Canziani. “Precisamos ter outras abordagens com a Matemática. Muitas vezes, o próprio educador a estigmatiza, dizendo que é uma disciplina complicada. É necessário mostrar em sala de aula que a Matemática faz parte do nosso cotidiano. O pintor precisa ter noções de Matemática, na Música a encontramos, para irmos ao supermercado e
recebermos o troco também. Ela está inserida em nosso dia a dia e é também por meio da Matemática, que nossos estudantes poderão ter uma perspectiva melhor de futuro”, salienta o deputado.
Diferentes instituições e empresas uniram-se para que o Paraná e o Brasil possam viabilizar educação de qualidade neste biênio e que o foco principal seja a disciplina da Matemática. Para o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, Darci Piana, todo o Sistema S tem foco na educação e ressaltou
o compromisso firmado em 2008 com o governo federal e o Sistema S que permite o repasse de parte dos recursos que o Sistema recebe por meio da receita compulsória, em ações de educação e gratuidade. “Temos uma preocupação muito grande com a educação, tanto o Senac, com a profissionalização, quanto o Sesc no contraturno escolar, com ações como o Aprender e Jogar”, revela Piana.
De acordo com o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ágide Meneguette, a entidade sob seu comando e instituições parcerias, realizam por quase 20 anos, o Agrinho. A ideia do programa é desenvolver a educação criativa entre os alunos. “Criamos um programa, uma maratona anual de Matemática a Língua Portuguesa e detectamos no campo a dificuldade de aprendizagem dos alunos. Uma pessoa que não sabe o mínimo de Matemática não tem cidadania. Infelizmente nossas escolas estão certificando e diplomando pessoas sem conhecimento”, avalia.
Para Piana, a união de forças é essencial para que o Biênio da Matemática Brasil seja sucesso e colha os frutos esperados. No Paraná, a ação conta com apoio da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR), Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público (Apiesp); Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro); Instituto Nacional de Matemática Aplicada; Frente Parlamentar da Educação, entre outras.

Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos:  Ivo Lima
Revista Fecomércio PR - nº 116

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