Caçadora de histórias


Letícia Wierzchowski (Crédito Foto: Carin Mandelli
Foi com apenas 25 anos de idade que a gaúcha Letícia Wierzchowski escreveu seu primeiro romance e, desde então, já são quase 20 obras entre romance, ficção e literatura infantil.  Seus livros já foram editados na Espanha, Portugal, França, Grécia, Itália, Alemanha e Sérvia-Montenegro.
A autora ficou conhecida em todo o país com a obra A Casa das Sete Mulheres, adaptada pela Rede Globo para uma minissérie e, depois, distribuídas para mais de 30 países. O livro conta, do ponto de vista feminino, a história da Revolução Farroupilha.
Letícia vem a Curitiba para a 35ª edição da SemanaLiterária Sesc PR e XIV Feira do Livro Editora UFPR  e, na noite de abertura, ao lado de Conceição Evaristo, participará da mesa-redonda “Brasil à mesa”, com mediação de José Carlos Fernandes.

Como você representa em suas obras a identidade nacional?
Bem, eu não penso nisso de forma clara quando escrevo. Eu penso nas histórias, na trajetória dos personagens cujo drama eu desejo narrar. Mas, depois do livro pronto, depois de vários livros editados, hoje eu posso dizer que toquei em alguns pontos muito claros da nossa identidade - construindo figuras humanas que os representam. Tenho vários romances que contam a história do homem do sul do país, seus dramas, guerras, sonhos. Portanto, como uma gaúcha, acho que levei para o resto do país (principalmente com A casa das sete mulheres) um pouco deste pedaço da nossa identidade, a gente do sul.
Outro ponto muito claro para mim tem a ver com a imigração. Tenho três romances (Uma ponte para Terebin, Os Getka, Cristal Polonês) e um outro romance ainda inédito que contam da vida dessas gentes que vieram da Europa para o Brasil, misturando seu sangue, suas heranças, suas sabedorias com as nossas. Meu avô veio da Polônia em 1936, depois voltou, lutou na Segunda Guerra Mundial, sobreviveu e, de volta a Porto Alegre, construiu uma empresa e aumentou a sua família. A história destes estrangeiros que se radicaram aqui é um pouco da nossa história, da nossa identidade também.

Sua obra não se resume à Casa das Sete Mulheres, mas é inevitável a vermos com destaque. Ela apresenta a mulher como protagonista em um cenário de guerra e dominado pelo homem. Como foi a inspiração para falar de mulheres neste cenário e qual a importância cultural, social e histórica em se abordar este tema?
Olha, eu penso nas histórias quando eu escrevo. Neste romance, o que eu fiz fazer foi contar um evento mil vezes contado aqui no RS por um prisma novo. A história é machista, as mulheres são apenas pegadas nos livros históricos. Eu quis dar alma, insuflar, com ficção, este lado escuro da história. A inspiração surgiu de muitos lugares, mas também de outros autores como o Tabajara Ruas e o Erico Verissimo.

Como é ser uma escritora no cenário literário brasileiro? Há barreiras a serem vencidas?
Viver é superar barreiras todos os dias. Mas, se a sua pergunta diz respeito à minha identidade feminina, ela é tão inseparável de mim que não sei como seria se eu fosse homem. Como autora, claro, diante do cenário nacional. Como escritora, diante da página, eu sou o que tenho de ser. Gosto de escrever sobre homens também - gosto de trocar de pele.

Você domina diferentes linguagens, como a literatura e o cinema. Como é transitar nestas diferentes áreas e como elas servem como inspiração para o seu trabalho?
O meu universo é a palavra - mesmo que ela seja um guia para a imagem. Para o escritor, que vive quieto, cerrado num espaço de trabalho limitado, longe dos outros (pois escrever é solitário), trabalhar com cinema é também um contraponto de vivências - a gente lida com muitas pessoas, isso é divertido. Mas, acima de tudo, sou uma romancista. É o que mais sei fazer. O cinema e a televisão são formas alternativas de contar uma história - e com um alcance diferente da literatura.

Você transita no universo histórico, antropológico e literário e tornou-se referência em todo o país e no exterior. A sua experiência de vida está representada na sua obra?
Olha, eu acho que é impossível separar o autor da obra - mas também é tão sutil. Minha experiência serve de suporte para dar vida a vidas alheias e este processo é tão misterioso. Nem eu sei onde estou nos meus livros, mas estou lá com certeza, liquefeita em imagens, sensações e palavras. Mas nunca tive um personagem que fosse um real alter-ego meu.

A temática de abertura da Semana Literária do Sesc PR trata da variedade de manifestações culturais no Brasil e seus contrastes. O que o público pode esperar da sua participação?

Vou falar destes dois brasis aqui - o Brasil da fronteira (também cosmopolita, mas que dialoga com a fronteira e com a história das guerras de fronteira), e o Brasil dos imigrantes, desta gente de além das fronteiras, além mar, que veio aqui dar o seu sangue e a seu futuro. Somos, principalmente no sul, uma mistura de raças. Isso me interessa demais, é rico em histórias - e um escritor vive atrás disso, de histórias.

Por: Silvia Bocchese de Lima e Andressa Parra

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