Bons negócios do campo à mesa



Com um mix cada vez maior de produtos, os orgânicos que invadem as prateleiras de supermercados e feiras são opções para quem busca alimentação saudável
  
Não eram mais do que 15 produtores em todo o Paraná, quando há três décadas teve início, no estado, uma produção que visava, principalmente, a qualidade de vida e deixava de lado o uso de agrotóxicos e adubos químicos nas lavouras. Era o princípio da produção orgânica no estado, conhecida na época como agricultura alternativa. A variedade de produtos se resumia a 18 tipos de frutas e hortaliças e a comercialização era direta: produtor – consumidor.
Com a crescente busca por longevidade com qualidade de vida, o consumo de orgânicos teve um incremento. O campo paranaense respondeu a esta demanda, passando de 450 produtores e 4,5 mil toneladas de produtos, em 1990, para 7,3 mil produtores e 150 mil toneladas de produtos, na safra 2011/2012.
O mercado precisou se adaptar a este novo cenário de consumo e as prateleiras foram recheadas de produtos orgânicos com uma variedade que vai de frutas, verduras e legumes, a cereais, massas, queijos e carnes, até os mais inusitados, como batatas chips, água de coco, refrigerantes, roupas e cosméticos.
As lojas do Pão de Açúcar, presentes em todo o Brasil, apostaram neste segmento e há 20 anos ofertam produtos orgânicos. “Com a melhora da educação, do poder aquisitivo e a busca consolidada por uma vida mais duradoura e saudável, foi natural que as pessoas se interessassem por orgânicos. Há uma busca por se viver mais, porém com qualidade. Ao se informar, o consumidor vê que os orgânicos vão ao encontro desse desejo e passam a procurá-los nos supermercados”, revela a gerente comercial do Grupo Pão de Açúcar, Sandra Sabóia.
A rede também investe na capacitação dos fornecedores, enviando técnicos ao campo, que realizam visitas aos produtores, aplicam treinamento e realizam auditorias para garantir a qualidade da produção. “A rede trabalha principalmente com produtores locais e familiares, totalizando, aproximadamente, 140. Muitos deles possuem ainda a oportunidade de comercializar seus itens com a marca própria da rede, a Taeq. Todo esse trabalho, somando ao desenvolvimento e capacitação de fornecedores de produtos industrializados, fez com que o Pão de Açúcar chegasse a 600 itens orgânicos cadastrados”, conta Sandra.

O engenheiro agrônomo da Emater, Iniberto Hamerschmidt
Paraná Orgânico
O Paraná foi pioneiro em todo o Brasil, com a inauguração, em 2009, do primeiro mercado municipal de orgânicos, em Curitiba. Em uma área de 3.700m2, oferta mais de mil tipos de produtos orgânicos, entre hortaliças, frutas, bebidas, roupas e cosméticos, todas certificadas com selo de produtos sem agrotóxicos e aditivos químicos. Único mercado municipal no Brasil que permanece aberto diariamente para a comercialização de orgânicos.
Segundo o engenheiro agrônomo do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Iniberto Hamerschmidt, o carro-chefe da produção orgânica no Paraná são as hortaliças, com 60 mil toneladas produzidas na última safra, representando 40% do volume total de orgânicos do estado, seguido da cana-de-açúcar, com mais de 16 mil toneladas e da mandioca, com 15 mil toneladas.
As feiras também são opções de comercialização e compra de produtos orgânicos no Paraná. Somente em Curitiba, semanalmente são realizadas 12 feiras de produtores e, em todo o Paraná este número chega a 70.

 Mais resistentes
A principal característica dos produtos orgânicos é não utilizar agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas que agridam o meio ambiente. Parece controverso se comparado ao constante uso de agrotóxicos em produções convencionais para proteger plantações de pragas e doenças.
Segundo Hamerschmidt, o segredo da agricultura orgânica é a escolha da propriedade adequada ao cultivo, ou seja, isolada e, preferencialmente, distante de uma lavoura convencional, evitando assim, que os insetos “espantados” pelos agrotóxicos, migrem para a orgânica. “É preciso ter barreiras naturais entre as propriedades, como matas e a própria localização da área. A lavoura orgânica não pode ser ao lado de uma convencional”, alerta o engenheiro agrônomo.
Outro segredo é o período de conversão, ou seja, o tempo que uma propriedade precisa para sair do método convencional de produção até o sistema orgânico. “O primeiro passo é ‘limpar o solo’, com a utilização de calcário, pó de rocha, adubo verde e composto orgânico e este período de conversão pode durar de um a três anos, dependendo da situação de cada área”, revela Hamerschmidt.
Neste período, em que não é utilizado para produção, o solo adquire equilíbrio biológico. “A planta bem alimentada pelo solo, sadia, torna-se mais resistente às pragas e doenças. A lavoura de orgânicos pode utilizar produtos alternativos e naturais para proteção da plantação, como caldas, iscas e ortiga macerada, rica em ácido fórmico – um repelente natural”, salienta.

Garantia
Para garantir que um produto é orgânico existem no Paraná três tipos de certificação: a auditada, a participativa e a social. Na primeira, o produtor paga a uma empresa privada para enviar técnicos à propriedade para verificar as condições de produção. Na participativa, mais acessível ao produtor, é necessária uma organização em grupo, em formato de cooperativa, por exemplo. Nesta, os próprios produtores fiscalizam o grupo e o custo para receber a certificação é mais baixo, porém não é válida para exportação de produtos.
Outra opção é a certificação social que limita a comercialização ao município onde o produto orgânico é produzido, mas é necessária uma organização social, como associação, ou um grupo informal, que solicita o credenciamento ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A cada semestre são feitas inspeções nas propriedades rurais. A certificação é um ganho ao produtor, pois o produto tem valor agregado, além de ser atestada a sua qualidade. “Com a comercialização do produto orgânico, o produtor tem ganhos de 30% a 50% superiores à agricultura convencional”, revela.
Para o consumidor saber se um produto é orgânico, basta procurar pelo selo que o identifica e garante sua qualidade e origem. “Todos os produtos orgânicos comercializados no Brasil quer seja por certificadora auditada ou por sistema participativo, devem ter o selo nacional de produtos orgânicos. É lei há três anos. Esta é uma garantia para o consumidor. Nas feiras, o produtor pode apresentar o Certificado de Produtor Orgânico, dispensando o uso do selo individual”, alerta Hamerschmidt.




Produção Orgânica no Paraná
Em 1987:
450 produtores
4,5 mil toneladas de produtos

Em 2012:
7.300 produtores
150 mil toneladas de produtos
Fonte: Emater-PR




Diferenças entre a produção orgânica e as outras técnicas


Cultivo Orgânico
Cultivo Convencional
Cultivo Hidropônico
Agrotóxicos ou venenos
Não utiliza agrotóxicos ou qualquer outro produto químico
Utiliza agrotóxicos para a produção de alimentos
Utiliza agrotóxicos na maioria das culturas produzidas
Adubação com produtos químicos
Faz uso de adubos naturais e não tóxicos, proibindo o uso de adubos químicos altamente solúveis
Utiliza adubação química altamente solúvel
Utiliza adubação química altamente solúvel, diluída na água
Resíduos químicos nos alimentos
Produz alimentos livres de resíduos químicos
Produz alimentos que normalmente contêm resíduos químicos.
Produz alimentos que normalmente contêm resíduos químicos
Níveis de nitrato e nitratos (resíduos químicos com potencial cancerígeno e mutagênico)
Teores normais de nitratos e nitritos
Teores acima do recomendado
Teores de nitratos e nitritos muito acima do recomendado
Características naturais de sabor, cor, vigor, textura e cheiro dos alimentos
Mantém as características naturais
Interfere nas características naturais
Interfere nas características naturais
Qualidade nutricional
Mantém o equilíbrio natural das qualidades nutricionais dos alimentos
Os alimentos normalmente apresentam desequilíbrios nutricionais em função do uso de adubos químicos e agrotóxicos
Os alimentos normalmente apresentam desequilíbrios nutricionais em função das altas dosagens de adubos químicos e do uso de agrotóxicos
Vigor e Durabilidade
Os alimentos apresentam vigor e durabilidade naturais
Os alimentos NÃO apresentam vigor e durabilidade naturais
Os alimentos NÃO apresentam vigor e durabilidade naturais
Transgênicos
Proíbe a utilização de organismos geneticamente modificados
Permite a utilização de organismos geneticamente modificados
Permite a utilização de organismos geneticamente modificados
Biodiversidade
Recupera a biodiversidade, pois essa é uma condição básica para o equilíbrio da produção
Tem se apresentado como fator de diminuição e desequilíbrio da biodiversidade
Baseia-se na artificialidade e simplificação do sistema de cultivo, diminuindo a biodiversidade
Sustentabilidade
Atividade sustentável ao longo do tempo
Atividade insustentável ao longo do tempo
Atividade insustentável ao longo do tempo
Fonte: Conselho Estadual de Agroecologia do Paraná


Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Ivo Lima
Revista Fecomércio PR - nº 100

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