A Fiep em novas mãos
A nova diretoria da Federação das Indústrias do Paraná, sob a presidência do empresário Edson Luiz Campagnolo, traz como bandeiras uma gestão compartilhada: o fortalecimento da sua base sindical; a necessidade de reformas tributária, fiscal, política, previdenciária e trabalhista e o compromisso de defender a competitividade da indústria paranaense
Após oito anos à frente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo Rocha Loures passa o comando da instituição para as mãos do novo presidente, Edson Luiz Campagnolo. Eleito em agosto deste ano, ele e a nova diretoria foram empossados em cerimônia realizada em 30 de setembro, em Curitiba, quando reafirmou sua firme posição na defesa dos interesses do setor produtivo, algo em torno de 42 mil empresas no Estado.
Com quase 70 anos de fundação, esta é a primeira vez que a instituição será liderada por um representante do interior do Estado. O novo presidente é proprietário de uma indústria e comércio de confecções, em Capanema, no Sudoeste do Paraná, além de possuir unidades fabris em Santo Antônio do Sudoeste, Planalto e Itaipulândia do Paraná. E talvez seja este o motivo pelo qual ele pretenda que sua gestão interiorize as ações do Sistema Fiep, promovendo as demais regiões paranaenses como atrativas para novos investimentos. “Eu conheço muito das necessidades das nossas regiões e percebo o quão grande é o potencial do interior. A Fiep pode fazer com que sejam criados ambientes favoráveis para que as indústrias que já estão localizadas no interior continuem investindo ali, assim como as localizadas nos grandes centros procurem fazer novas plantas”, salienta Campagnolo. O potencial do interior do Estado é tanto que o novo presidente lembra um exemplo do segmento de calçados de segurança. “Há no Paraná, cinco indústrias que produzem este tipo de material, e duas delas, estão localizadas em Imbituva, cidade do Centro-Oeste, e juntas empregam mais de 1.500 colaboradores”, diz.
O presidente também defende que o olhar da instituição precisa estar voltado para as micro e pequenas empresas. “Necessitamos criar condições melhores de competitividade, incentivarmos a inovação, o microcrédito diferenciado e o empreendedorismo, para que novos negócios cresçam”, acredita. Ele defende que urgem reformas política, tributária, trabalhista, previdenciária e fiscal e a não ingerência política dentro das instituições como as integrantes do G8 (Fecomércio, Fiep, Faciap, Ocepar, Faep, Fetranspar, Fampepar e ACP).
Com os dias contados
Campagnolo enfatiza que, ao longo dos anos, por conta da informalidade, o governo brasileiro criou impostos e nunca reviu estes tributos, mas acredita que a sonegação está com os dias contados. “Por décadas foram aumentadas as alíquotas para combater a informalidade e a sonegação. Mas quem iria imaginar que em 2011 seria o Estado quem emitiria a nota fiscal da minha empresa? Se chegamos a este grau de informatização e de inteligência, por que não houve redução das alíquotas, que oneram injustamente a classe trabalhadora e os consumidores?”, questiona o líder da Fiep.
Para combater a informalidade, Campagnolo lembra que em 2008, o Governo Federal deu o primeiro passo para uma possível reforma tributária, com a criação do Microempreendedor Individual (MEI) e do Super Simples. “Com isso, já estamos tirando da informalidade a costureira, o vendedor de picolé e o pipoqueiro, mas não podemos nos esquecer de fazer esta reforma tão necessária. A incidência de tributos não pode incidir sobre a produção e sobre o comércio. A justiça tributária é urgente”, salienta.
Campagnolo também lembra o programa Brasil Maior, lançado pela presidente Dilma Rousseff, que prevê o fortalecimento das cadeias produtivas, o aumento da eficiência produtiva das empresas nacionais e a agregação de valor no País, além de coibir práticas desleais de competição.
Outra preocupação do novo presidente é a “guerra fiscal entre os estados”, que gerando problemas, principalmente, para as unidades federativas mais avançadas em suas indústrias e mais competitivas. “Já passou o momento em que havia um desequilíbrio entre as regiões e os estados. Nós percebemos que, nos últimos anos, o Nordeste e o Centro-Oeste brasileiro ampliaram seu nicho de mercado e seu nível de industrialização”, acredita o presidente.
Como hoje, a alíquota nas operações interestaduais é de 7% para os estados do Norte e Nordeste e 12% para os demais, Campagnolo defende que é necessário reequilibrar forças. Ele comemora a decisão dos 27 secretários de Fazenda dos estados e do Distrito Federal, que em julho deste ano, resolveram unificar em 4% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a partir de 2012.
Outra competição desleal enfrentada pela indústria brasileira e paranaense é a dos produtos chineses e orientais. O presidente acredita que o dólar, girando em torno de R$1,60 a R$1,70 é desfavorável ao exportador brasileiro e, extremamente favorável à importação, promovendo a desindustrialização. Campagnolo cita a dependência, cada vez maior de manufaturados, especialmente os oriundos da China. A carga tributária para a indústria interna de utilidades domésticas é de 30 a 33%, já o importador, desembolsará em torno de 10% a 12%. “Com o câmbio desfavorável e a alta carga tributária é uma luta desigual. O que acaba acontecendo é uma desindustrialização. Muitas indústrias brasileiras estão fechando as suas portas e tornando-se importadoras. Isso é um risco gravíssimo”, pontua.
União de Forças
Campagnolo acredita que graças à ação conjunta das lideranças empresariais a nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) tenha sido rejeitada. “Essa mobilização, tão importante aqui no Paraná, foi comandada pelo G8. Nós precisamos estar unidos naquilo que é comum, para que possamos perseguir esses resultados. Já tivemos muitas conquistas quando caminhamos juntos. Quando agimos de formas separadas, acabamos muitas vezes, não alcançando os objetivos de nossas instituições”, avalia o presidente.
Uma ação conjunta, que já foi discutida pelo G8 e defendida por Campagnolo, é a criação de um Banco de Projetos, com o intuito de solucionar problemas de infraestrutura, que o setor produtivo do Estado enfrenta. “Nós precisamos, urgentemente, capitalizar um Banco de Projetos, em torno de R$ 600 milhões a R$800milhões, para que consigamos investimentos na ordem de R$ 18 bilhões e este é um desafio do setor produtivo. Nós precisamos escoar as mercadorias, e para isso precisamos da infraestrutura de logística integrada e de projetos”, pontua.
O objetivo deste banco é construir projetos e viabilizar através de Políticas Público Privadas (PPPs) um programa de investimentos na área de infraestrutura no Estado, promovendo a melhoria da malha rodoviária, ferroviária, aérea e portuária..
Campagnolo também enfatiza que o grande desafio em desenvolver a industrialização em todas as regiões do Estado esbarra, principalmente,- nas deficiências de infraestrutura e logística. “Estes, sem dúvida, são gargalos que emperram o desenvolvimento e afugentam o interesse de investidores, em especial grandes projetos de empresas nacionais e multinacionais de ir para o interior”, diz.
Silvia Bocchese de Lima
Revista Fecomércio 84
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