2011 e as tendências para a economia brasileira
Após a crise que atingiu a economia mundial em 2009, com reflexos em 2010, o Brasil vive as expectativas para o ano que se aproxima, e que trará mudanças nos governos federal e estaduais e as consequências que isso acarretará. Quais são os rumos que a economia tomará?
Depois um período de crise global e de expectativas nacionais com relação a mudanças de governos, reformas tributárias e políticas, eis o cenário ideal para que economistas possam projetar o futuro da economia, analisando o passado e comparando-o com o presente.
Na avaliação do doutor em economia e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, a economia mundial encontra-se em recuperação, após uma grave crise, mas acredita ser imprescindível uma política fiscal ativa, expansão da liquidez e redução dos juros. Loyola salienta que o crescimento da economia mundial, em 2010, tem duas características distintas. Para os países desenvolvidos, ele foi tímido e frágil, diferente do verificado nos países emergentes, que foi relativamente forte e dinâmico e que durante a crise mantiveram grande parte da demanda. Prova disso, foram os -2,9% de crescimento na economia registrados no ano passado, nos Estados Unidos, enquanto a China, no mesmo período, cresceu 8,7% e a Índia 6,4%. “Os desequilíbrios que levaram à crise econômica não foram totalmente resolvidos. O que se verifica é uma injeção de recursos dos governos, políticas contracíclicas e anticíclicas, sustentando o crescimento mundial. A história nos mostra que períodos de baixo crescimento são relativamente longos. Não se sai, normalmente, de uma recessão financeira rapidamente”, pontua Loyola.
Já, o Brasil, vive um momento de resgate do seu patamar de crescimento, verificado, principalmente no seu Produto Interno Bruto (PIB) – o melhor indicador do grau de desenvolvimento da economia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 1995 a 2002, o PIB brasileiro cresceu 2,5% ao ano, enquanto de 2003 a 2009, o indicador foi de 3,5%. “No primeiro trimestre deste ano, a economia nacional cresceu 2,7%, com 1,2% de alta no segundo trimestre. Para este ano, projetamos alta de 7,2% e o crescimento potencial do Brasil está entre 4% e 4,5%”, acredita o economista.
Quando questionado sobre a perspectiva para a economia brasileira, Loyola avalia que o país está mais resistente, com um sistema financeiro sólido e sofisticado.
Brasil e a Economia
Segundo dados do IBGE, a confiança do consumidor voltou a atingir patamares recordes, o que sustenta o aumento de demanda por produtos e, com base nisso, Loyola acredita que a economia brasileira voltará ao crescimento potencial em 2011 e que a desaceleração recente será temporária. E quem comemora é o comércio. Em julho deste ano, as vendas cresceram 0,4%, após alta de 1% em junho. Já, o consumo, deve ter alta, no ano que vem, de 5%, um reflexo das boas condições do mercado de trabalho, do crédito e do alto patamar da confiança do consumidor. Loyola salienta que o consumo das famílias cresceu acima de 5% neste ano e seguirá o mesmo patamar em 2011.
Se o consumo está em alta, o mercado de trabalho também. A ocupação já se encontra a níveis acima do período pré-crise. “Durante a crise, o desemprego foi menor do que o esperado e, em 2010, a recuperação do emprego veio com o crescimento da População Economicamente Ativa (PEA)”, ressalta. Ele projeta alta de 3,6% nas ocupações, em 2010 e, 2,5% no próximo ano. Já, a taxa de desemprego tem projeção de 6,9% para o fim deste ano, e 6,3% para os próximos 12 meses.
Com os incentivos do governo federal na redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a produção industrial neste ano, terá crescimento de 11% e para 2011, 5,7%, bem diferente dos registrados em 2009, quando houve queda de 7,4%.
Ao falar sobre taxa cambial, Loyola prevê enfraquecimento do dólar nos Estados Unidos e o câmbio, em 2011, deve estabilizar-se em torno de R$1,80. Já, o Banco Central, sinaliza a manutenção dos juros em 10,75% até o fim do ano e novas altas serão aplicadas em 2011. Loyola pontua que o principal risco que a economia brasileira corre em não ter um cenário positivo no próximo ano, é a possibilidade de uma má condução da política fiscal. “A retomada do crescimento elevará a inflação, o que levará o Banco Central a impor novos aumentos dos juros em 2011”, acredita.
A longo prazo, Loyola espera que se houver preservação da responsabilidade macroeconômica, a economia brasileira tem potencial de crescimento situado em torno de 4,5% ao ano e que a elevação da taxa de crescimento depende de reformas estruturais. Para ele, o maior desafio é promover uma infraestrutura adequada ao crescimento e evitar “apagões” setoriais. As boas novas é que os eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, adicionarão 0,2% ao ano no PIB, nos próximos cinco anos.
1Gustavo Loyola é doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas, foi presidente do Banco Central entre 1995 e 1997. Atualmente é sócio da Tendências Consultoria Integrada e participa de diversos conselhos de administração, tais como Banco Itaú, Grupo Mabel e Caramuru Alimentos.
Silvia Bocchese de Lima
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