A magistral Maestrini

Alessandra Maestrini lotou o Teatro Sesc da Esquina, em Curitiba  |  Crédito imagem: Bruno Tadashi

 A multiartista Alessandra Maestrini mostrou versatilidade no teatro musical

Os jornais do mês de maio noticiaram cancelamentos de programas estudantis norte-americanos focados em diversidade e inclusão, o medo da deportação tomou conta de pesquisadores e o clima de tensão cresceu devido a políticas xenofóbicas. As notícias de agora escancaram problemas antigos: segregação social e cultural; quem pode ou não atravessar a fronteira para estudar, trabalhar ou viver em outro país; perseguição às minorias e o constante não pertencimento.

Essas fronteiras – visíveis ou simbólicas – continuam a delimitar quem tem direito ao conhecimento, ao afeto e à liberdade. Sob esse contexto, a atriz Alessandra Maestrini subiu ao palco do Teatro do Sesc da Esquina, em Curitiba, em uma fria noite de outono, acompanhada pelo conceituado maestro João Carlos Coutinho para interpretar Yentl, a jovem protagonista do musical Yentl, the Yeshiva Boy. 

A história se passa no início do século XX, mas as inquietações seguem atuais. Filha de um rabino que a ensinava secretamente o Talmud e o Torah – saberes proibidos às mulheres – Yentl desafia o destino: traveste-se de homem para estudar em uma yeshivá, escola tradicional no judaísmo. Lá, apaixona-se por um colega e se vê obrigada a lidar com os limites entre identidade, desejo e pertencimento.

Alessandra Maestrini  |  Crédito imagem: Bruno Tadashi

A peça é uma adaptação do conto homônimo, escrito por Isaac Bashevis Singer, e levado ao cinema, em 1983, por Barbra Streisand – quando ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora. Em uma apresentação magistral, Maestrini interpretou todos os personagens, comoveu o público – que lotou o teatro – com as canções, mostrando toda a sua versatilidade como atriz e intérprete de musicais. Contou com humor, sensibilidade e questionamentos a história de Yentl em busca por um céu que abrigasse suas asas. “Como sou fã do trabalho de Barbra Streisand e Denise Stoklos, resolvi criar este espetáculo, em 2014, unindo a minha expressão, meu corpo, minha voz – como prega o teatro essencial – com praticamente nada em cena”, compartilhou.

Ao entoar Papa, can you hear me? – que se trata de uma oração por amor, paz interior e um pedido de compreensão diante da dor, da dúvida e da transgressão –, Maestrini se emocionou ao lembrar do seu pai, um cidadão norte-americano, e as barreiras que a impedem de visitá-lo.

O performer e cantor Mefeus contou que conheceu a atriz Alessandra Maestrini pela divertida personagem Bozena que ela interpretou no seriado Toma Lá Dá Cá, da Rede Globo e que após o espetáculo teve a oportunidade de conversar com ela. “Vê-la no palco dessa outra forma foi inspirador e importante, uma aula! Como artista me senti tocado. Conhecê-la, ver o ser humano por trás da arte foi mágico e não me contive. Pensei em dizer mil coisas a ela, sobre como a admiro como artista, mas chegou na hora e foi apenas silêncio. O respeito e admiração por ela tomaram conta de mim. Que espetáculo de mulher! Uma artista em quem vou me inspirar para sempre!”.

Além de Curitiba, Maestrini também apresentou o espetáculo musical Drama n´Jazz no Sesc Maringá. 


Silvia Bocchese de Lima
Crédito imagens: Bruno Tadashi
Revista Fecomércio PR - nº 166

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