Entre campos e arenitos
| Construído em 2001, o Memorial da Imigração Holandesa tem uma réplica em tamanho original do Moinho Woldigt, do Norte da Holanda. (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
A Região dos Campos Gerais concentra importantes atrativos
turísticos do estado, ricos em histórias, diversidade cultural e rara beleza natural
“Paraíso terrestre no Brasil”. Foi assim que o botânico e naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire descreveu a Região dos Campos Gerais do Paraná quando a visitou em 1822. Ele foi responsável por escrever livros sobre as paisagens brasileiras e os costumes aqui praticados no século XIX. Em uma das obras pontuou que “esses campos constituem inegavelmente uma das mais belas regiões que já percorri desde que cheguei à América!”.
A abertura do trajeto pioneiro – por onde passavam os tropeiros –, que ligava Viamão, no Rio Grande do Sul, a Sorocaba, em São Paulo, certamente marcou o início do desenvolvimento regional e a formação das cidades dos Campos Gerais. Castro, a primeira a ser constituída na região e uma das primeiras do Paraná, é exemplo dessa ação, assim como a Lapa, Rio Negro, Campo do Tenente, Porto Amazonas, Palmeira, Ponta Grossa, Tibagi, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengués.
Ponta Grossa, desde muito tempo, é destino recorrente de minha família nas festas de fim de ano e, vez ou outra, durante o ano, mas carrego uma lembrança marcante de lá: os ventos recorrentes e intensos.
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| Além da já consagrada Taça, o Parque Estadual de Vila Velha é repleto de arenitos, em diversas formas. Na foto, em destaque, a Bota. (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
Vila Velha, em uma área de três mil hectares, tombado em 1966 pelo patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Acredita-se que a formação dos arenitos tenha mais de 300 milhões de anos. Essas pedras foram transformadas ao longo do tempo, principalmente, pela ação das chuvas e dos ventos, tomaram
variadas e gigantescas formas que mexem com a imaginação de quem visita o espaço seja a Taça, a Bota, o Índio, a Garrafa ou o Camelo.
Buraco do Padre
Não é difícil entender o motivo pelo qual padres jesuítas passavam longos períodos contemplativos,
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| Buraco do Padre, no Distrito de Itaiaca, em Ponta Grossa (Crédito: Prefeitura de Ponta Grossa) |
O atrativo turístico está localizado em uma propriedade privada, a 24 quilômetros do centro de Ponta Grossa. Para chegar até o espaço é preciso percorrer um trajeto de mil metros a pé. A trilha é adaptada para cadeirantes e pessoas com mobilidade limitada, mas apresenta obstáculos naturais.
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| Cachoeira da Mariquinha, em Ponta Grossa (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
Cachoeira da Mariquinha
Outra beleza natural de Ponta Grossa encontra-se no distrito de Itaiacoca: a Cachoeira da Mariquinha – uma Unidade de Conservação localizada a aproximadamente 30 quilômetros do centro da cidade
de Ponta Grossa.
Para ter acesso à queda d´água de 30 m de altura e ao balneário, é necessário o visitante percorrer
uma trilha, repleta de arenitos e capões de mata nativa. O local é ideal para caminhadas nas trilhas
e acampamentos, equipados com banheiros para banhos e estacionamento.
Para agendamentos e informações (42) 999 92-7579 ou (42) 98834-7490.
Em dezembro do ano passado, o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR entregou à população de Ponta
Grossa a antiga estação de trem da cidade, totalmente restaurada. Por esse espaço, de importância histórica e parte da memória afetiva da cidade, passaram personagens da política nacional, inventores, escritores e viajantes, muitos viajantes.
Hoje, o prédio abriga uma unidade cultural do Sesc, uma unidade de Educação Tecnológica do Senac
e um café-escola.
| Museu Histórico Castrolanda representa uma casa de fazenda, característica da Região Nordeste da Holanda. (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
Incertezas políticas, econômicas e a escassez de terras na Europa após o término da II Guerra Mundial impulsionaram a saída de muitas famílias holandesas do país de origem e a busca por um novo lar. Instalados nos Campos Gerais, em Castro, criaram a Colônia e a Cooperativa Agropecuária
Castrolanda, mantendo a tradição, arquitetura, grupo folclórico, gastronomia e língua.
Novamente os ventos da região me trouxeram novidades, ao conhecer o Memorial da Imigração Holandesa. Ele foi construído em 2001 e traz uma réplica em tamanho original do moinho de vento Woldigt, situado a Norte da Holanda. A construção tem 37 m de altura e os habitantes garantem que a estrutura, feita em madeira, permanece em pé sem o uso de pregos. O centro cultural ainda abriga um salão para eventos, restaurantes, loja de artesanatos e, de sexta-feira a domingo e aos feriados, é aberto à visitação das 13h às 18h.
Outro local a se conhecer é o Museu Histórico Castrolanda. O espaço representa uma casa de fazenda, característica da Região Nordeste da Holanda, de onde veio a maioria dos imigrantes da
localidade. No espaço visualiza-se como eram os cômodos das residências, objetos pessoais, decoração e é possível visitar uma exposição.
Museu do Tropeiro e Casa de Sinhara
| No Museu do Tropeiro, em Castro, é possível conhecer utensílios e objetos utilizados pelos viajantes. O acervo do museu conta com mais de mil peças (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
Com um acervo de mais de mil peças, o Museu do Tropeiro, primeiro no Brasil a resgatar a história
e a memória do tropeirismo, foi inaugurado em Castro, em 1977. Entre os objetos em exposição estão documentos, vestimentas, montarias, mapas, móveis de época, objetos sacros e pessoais dos antigos viajantes.
A Casa de Sinhara, localizada também em Castro, retrata a vida da mulher castrense no período do tropeirismo e, no prédio, é possível conhecer objetos, móveis e utensílios domésticos.
O museu e a casa funcionam de terça a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 12h30 às 17h. Os espaços também são abertos ao público no primeiro domingo de cada mês, das 9h às 17h.
| Parque das Águas, uma das atrações do Parque Histórico de Carambeí (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
Impossível não impressionar os olhos com o charmoso Parque Histórico de Carambeí – o maior museu histórico a céu aberto do Brasil, retratando a saga da imigração holandesa no estado e, hoje, é um três museus mais visitados do Paraná, com cerca de 134 mil visitantes em 2019. Com 100 mil metros quadrados, o parque reúne jardins e edificações que compõe o memorial da imigração e todas as vezes que visito fico encantada com a relação da cultura holandesa com a música. Em quase a
| Representação de uma antiga sala de aula, no Parque Histórico de Carambeí. No registro, além do quadro de giz e livros, uma harmônico (Crédito: Silvia Bocchese de Lima) |
O parque é composto pela Casa da Memória – que abriga o acervo do museu, uma confeitaria e um restaurante, onde aos domingos e feriados é servido um almoço que combina a gastronomia Indonésia
à Neerlandesa –, o Parque das Águas, a Vila Histórica, os Jardins e o Museu do Trator.
A cada dois anos é promovida no parque, em maio, a Festa dos Imigrantes; e, anualmente, no 1º sábado de julho, o espaço recebe o Arraiá no Parque, a maior festa caipira dos Campos Gerais, com
mostra de quadrilhas, gastronomia típica e fogueira de 11m de altura. Mais de 10 mil pessoas são esperadas todos os anos para a Festa Medieval, realizada no terceiro fim de semana de agosto, reunindo um público caracterizado para celebrar a Idade Média. Durante todo o mês de dezembro
os visitantes acompanham uma programação especial no evento Natal no Parque, que fica aberto
para apresentações à noite, com show de música, luzes e teatro. O parque está aberto para visitação
de terça a sexta-feira, das 11h às 18h e, aos sábados e domingos, das 11h às 18h30.
| Ponte Ferroviária dos Arcos, construída em 1880. (Crédito: Ivo Lima) |
Localizada entre o primeiro e segundo planalto paranaense está a Serra de São Luiz do Purunã, repleta de cânions, lagos, recantos e cachoeiras. São Luiz do Purunã também é um distrito de Balsa Nova e conta com paisagens espetaculares, além de ser local próprio para turismo de aventura, como escaladas e rapel, cavalgadas, caminhadas, trilhas, cicloturismo.
Rota dos antigos tropeiros, conta com diversas pousadas, hotéis e restaurantes que ofertam a comida tropeira, além da costela de fogo de chão, que foi oferecida a Dom Pedro II quando esteve na região para pernoitar.
Um pouco antes da junção do Rio dos Papagaios com o Rio Iguaçu foi construída, em 1880, a Ponte Ferroviária dos Arcos, com extensão de 585m e 60m de altura, é tombada pelo patrimônio artístico.
Parque Estadual do Guartelá
O Parque Estadual de Guartelá está localizado nos municípios de Castro e Tibagi, possui uma área
de 798 hectares. Em seu território encontra-se o Canyon Guarterá, cortado pelo Rio Iapó sendo considerado o maior canyon do Brasil em extensão, além de corredeiras, cachoeiras, grutas e inscrições rupestres dos primeiros habitantes da região. O parque permanece aberto de quarta-feira a domingo e nos feriados nacionais, das 9h às 16h30.
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| Museu Histórico de Witmarsum (Crédito: Ivo Lima) |
A região dos Campos Gerais é rica em atrativos naturais, como a Cachoeira da Fenda, em Arapoti; Parque Estadual do Cerrado e a Área de Proteção Ambiental Estadual da Escarpa Devoniana, em Jaguariaíva; as pinturas rupestres, em Piraí do Sul; a Lagoa Dourada e as furnas, em Ponta Grossa; a Gruta do Cercado e o Recanto dos Papagaios, em Palmeira e o Salto Santa Rosa, em Tibagi.
O turismo gastronômico passa pelas irresistíveis tortas de Carambeí, no charmoso e disputado Frederica’s Koffiehuis; pelo feijão tropeiro, arroz carreteiro e farofa de carne, prato típico de Castro; pelos queijos da Colônia Witmarsun que receberam selo de indicação geográfica do Sebrae/PR, atestando a qualidade do produto; pela Alcatra do Espeto, de Ponta Grossa, pelo Pão no Bafo, de Palmeira e pelo Entrevero de Pinhão, de Telêmaco Borba.
A região ainda promove eventos como a Müchen Fest, a Festa Nacional do Chope Escuro, que ocorre em Ponta Grossa desde 1990; a Festa do Carneiro no Rolete, de Carambeí, além dos espaços culturais como a Casa da Memória e o Condomínio Industrial Conde Matarazzo, de Jaguariaíva. A beleza que maravilhou o botânico francês continua a me deleitar e a encantar turistas de todo o mundo que visitam a região, em busca do turismo cultural, de aventura, gastronômico, rural, religioso, e do ecoturismo ou, como eu, do carinho familiar.
Texto: Silvia Bocchese de Lima*
Revista Fecomércio PR - nº 134
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*Apesar de ser natural de Pato Branco, Silvia Bocchese de Lima tem familiares nos Campos Gerais. Viaja diversas vezes pela região e a cada visita, uma nova descoberta.




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