Perspectivas econômicas para o Brasil

Falta de competitividade, ajuste fiscal e alta taxa de juros projetam queda do PIB
do Brasil. Economista faz uma análise do atual cenário mundial e brasileiro, previsões
para o próximo ano e passos a serem seguidos para que o país volte a crescer

O Brasil não é competitivo.  A avaliação é do economista, doutor em Administração, Ph.D. em Business e colunista da Folha de São Paulo e  da revista Você S/A, Samy Dana, em palestra apresentada durante o 31º Congresso Nacional dos Sindicatos Patronais do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, em Maceió-AL.
A tese defendida por Dana tem como base o último relatório divulgado pelo Fundo Monetário  Internacional (FMI), em meados de abril, sobre as previsões para economias desenvolvidas e emergentes. Segundo o relatório, de 2010 a 2014, o crescimento do Produto Interno Bruno (PIB) chegou ao maior percentual na China, com 8,5%. “O Brasil deveria estar no mesmo patamar dos nossos vizinhos: Argentina, Colômbia e Chile que cresceram, no mesmo período em torno de 4% e não apenas 2,8% como registramos”, apontou Dana.
Para 2015, a previsão de crescimento chinês é menor, chegando a 6,8%. Aumento bem acima do que
o esperado para os países em desenvolvimento, com elevação de 2,4% e a média mundial que deve girar em torno de 3,5%. Enquanto isso, Dana destaca que o FMI prevê retração de 1% para a economia brasileira em 2015 e uma ligeira recuperação em 2016, avançando 1%. “Alguma coisa não bate quando alegamos que estamos crescendo pouco porque o resto do mundo não cresce”, defendeu
o professor.

Competitividade
De acordo com o Fórum Econômico Mundial (WEF), no quesito competitividade, o Brasil ocupa a 57ª posição, atrás da China (28ª), Chile (33ª) e dos Estados Unidos (3ª). Quando se fala no ambiente macroecômico, o país está na 85ª posição. Na opinião do economista, “com a oscilação do dólar, o empresário não consegue fazer nenhum planejamento.
E pior do que o dólar alto é o dólar imprevisível. Dólar, taxa de juros e inflação deixam o cenário bastante hostil para qualquer empresário. Isso, de certa forma é falta de uma política consistente por parte do governo”.
Outro dado levantado na pesquisa diz respeito às instituições e com relação a sua confiabilidade. O Brasil ocupa o 94º lugar em confiança dos empresários. “Quase nenhum empresário confia nas instituições brasileiras. Perguntaram quais as duas instituições mais admiradas. A primeira foi a imprensa e a segunda, os militares. As duas não são convergentes. Isto é, no mínimo, preocupante”,
avaliou Dana.
Outro problema que impede a competitividade brasileira é a falta de infraestrutura e, se comparado ao
restante dos países, o Brasil ocupa a 76ª posição. “Em algumas cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o tempo médio de deslocamento de um trabalhador de casa para o trabalha chega a quatro horas. Sem dúvida isso é um custo. Enquanto a pessoa se desloca poderia estar trabalhando”,
destacou o economista que afirmou que o país está longe de resolver este problema.
A saúde e a educação primária são outros entraves para a competitividade do Brasil frente a outros países. Dana acredita que o Brasil cresceu muito no quesito educação, mas salienta que não foi apenas a educação brasileira que melhorou, a dos outros países também e, mesmo assim, o país ocupa
a 77ª posição. “Nós não investimos pouco em educação. A porcentagem do PIB investida em educação se compara com países como a Noruega, Dinamarca e muito além do que a Coreia do Sul e a Finlândia investem. Mas se fizermos qualquer teste internacional de matemática ou de compreensão de texto, o Brasil está na lanterninha”, disse.

Impostos
O brasileiro precisa trabalhar de 1º de janeiro a 31 de maio, todos os anos, para pagar impostos, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), ou seja, 152 dias. Enquanto isso, no México são necessários 72 dias. “E o que se faz com os impostos? O Estado é responsável por quatro itens básicos: educação, saúde, segurança e transporte. Nestes quatro itens, pelo valor investido, o Brasil é muito ruim”, destacou.
O economista defende que a tributação praticada no país é em função do consumo e que deveria ser
em virtude da renda. “A gente cobra muito e cobra mal. Nos países mais desenvolvidos, paga-se por renda”, pontuou Dana, defendendo que o sistema contábil brasileiro deveria sofrer mudanças e simplificações. “A velocidade com que se mudam as regras é incompatível com a capacidade
de adaptação. Além disso, é necessário declarar quando não se há nada a declarar”.
Dama citou o exemplo de um cliente, dono de uma multinacional. Os mesmos produtos são comercializados no Brasil e na Europa. Na Espanha, onde funciona o escritório sede, que comercia com todo o mercado europeu, há um coordenador no setor contábil, um contador júnior e dois estagiários. “No Brasil, o departamento de contabilidade emprega 400 pessoas e o curioso é que
todos os meses pagam multa. Isso é custo!”.

Desemprego x Produtividade
Apesar da taxa de desemprego do Brasil estar na casa dos 5,9%, considerado um índice razoável, o economista acredita que existe um lado ruim no baixo desemprego: a produtividade. Segundo dados do Conference Board, um empregado no Qatar produz ao ano uma receita de US$164.544, enquanto
um empregado no Brasil gera algo em torno de US$19.833. “Eu não acho que o brasileiro seja preguiçoso, como já ouvi falar por aí. Acredito sim que o sistema de educação é falho e isso afeta o setor produtivo. Muito se gasta em treinamento porque algumas pessoas chegam ao mercado de
trabalho completamente despreparadas”, alegou Dana.

Taxa de Juros
Segundo informou o governo, em 2015 a inflação deve sair da meta em 4,5%. Dana acredita que para o empresário, a taxa da inflação faz sentido, mas a taxa de juros não. “Dificilmente um empresário chega ao banco e consegue um empréstimo com taxa de 12,75%. Dependendo do tamanho da empresa, são 20% de taxa, mas é mais provável que consiga a 40%”, ressaltou.
Para calcular a taxa de juros real, desconta-se da taxa de juros, a inflação. Neste caso, o Brasil, segundo o Banco Mundial, é o terceiro país com a maior taxa de juros, com 4,69%. Para se ter uma ideia, a taxa de juros real da China é de 3,9% e do Japão, -2,34%. O país perde apenas para o Iraque e para o Paquistão.

Para retomar o crescimento
Para que o Brasil volte a crescer, Dana acredita que o governo deve admitir que os empresários são os
responsáveis pelo financiamento do país. “Algumas propagandas políticas pregam o confronto entre
patrões e empregados. Eu nunca vi isto em nenhum outro lugar do mundo. É preciso parar de pregar a ideia de que ter um negócio próspero é quase um crime e o governo deve se aproximar dos empresários”, defendeu.
Dana pontou que segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 47,7%
da população brasileira possui entre zero e 29 anos e isso, na opinião do economista, significa um
grande potencial de consumo. Nos Estados Unidos, este extrato da população corresponde a 20,4% do total de habitantes e, no Japão, não ultrapassa os 12,4%. “Temos mais de 100 milhões de brasileiros nesta faixa e isso significa um potencial enorme de vendas. Jovens consomem muito mais do que o restante das faixas etárias e um dos motivos é a indústria com foco neles.
Temos um potencial de consumo invejável", pontuou Dana.
Ainda citando o IBGE, Dana apontou o crescimento da Classe Média no país nos últimos anos, chegando a 26% no Nordeste brasileiro, 19% na Região Norte, 17% no Centro Oeste, 10% no Sudeste e 7% no Sul. “O que mais aumentou o consumo não foi a renda, em si, foi o acesso ao crédito. Houve muito pobre endividado que o governo chamou de Classe Média”, avaliou.
Contudo, segundo o relatório do Goldman Sachs, o consumo mundial é dividido em três lotes: commodities, bens duráveis e serviços. Países como a África do Sul, China, Egito, Índia, em que a renda per capita não ultrapassa os US$ 13 mil anuais, o principal consumo encontra-se nas
commodities, ou seja, basicamente o consumo é alimentar, de energia e água encanada.
O Brasil encontra-se na faixa de renda média per capita de US$ 15 mil anuais, ao lado de Turquia, Chile, Rússia, Portugal e República Tcheca, tendo como foco do mercado os bens duráveis, como automóveis e máquinas de lavar roupa e pratos.
Os países mais ricos do mundo, como França, Alemanha e Estados Unidos já superaram isso e já investem em serviços, como gastos com publicidade, seguros, turismo doméstico e internacional. “O lado bom é que se o governo ajudar, podemos chegar mais rápido no consumo de serviços. Para os empresários é uma ótima notícia de consumo e vendas”, enfatizou o palestrante.
O economista defende que uma meta a ser buscada pelo governo é a simplificação dos impostos e
destacou que quanto mais impostos são criados, mais ocorre sonegação. Dana defendeu ainda que
existem impostos municipais, estaduais e federais e são complicações para os empresários e para o
consumidor.





Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Pablo De Luca
Revista Fecomércio PR - nº 105

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