Coincidência ou estratégia?
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| Terry Crews - garoto propaganda da campanha 11.11 da Shopee | Crédito imagem: Divulgação |
Novembro costuma ser marcado por campanhas massivas de vendas, mas neste ano elas ultrapassaram o habitual. Na maior liquidação anual da Shopee, em 11/11, o carismático Terry Crews estrelou diversos comerciais parodiando A Thousand Miles. O que chamou ainda mais atenção foi a coincidência – ou estratégia –, da Rede Globo ao exibir na Sessão da Tarde – conhecida por reprisar clássicos do cinema –, no mesmo dia, o filme As Branquelas, em que o próprio Terry Crews canta a música. Uma integração quase perfeita entre publicidade e entretenimento.
Na despedida do William Bonner da bancada do Jornal Nacional, no dia 31 de outubro, outro lance magistral de branding de oportunidade. A Amstel brincou com o som da abertura da lata de água com gás que o apresentador bebeu no intervalo da apuração do segundo turno das eleições de outubro de 2022. O Nubank agradeceu, singelamente, aos mais de dez mil “Boa Noites” e o Café Pilão, em vez de “Bom Dia”, desejou um especial “Boa Noite”.
Mas o alerta veio nesta segunda-feira (18), durante o Jornal Nacional. Enquanto a repórter Graziela Azevedo apresentava uma matéria sobre a Black Friday, as imagens destacavam a marca Mercado Livre, citada também no GC, além do Magazine Luiza. E isso causa ainda mais estranhamento porque a emissora, historicamente, evita mencionar marcas comerciais em suas reportagens, exceto em situações inevitáveis ou de forte interesse público.O incômodo maior apareceu no intervalo: um comercial começou com a chamada “Nubank Informa”, seguido da frase “você acabou de assistir à matéria sobre a Black Friday”.
A pergunta que fica é: onde termina a reportagem e onde começa a publicidade? Quando o conteúdo editorial se mistura com a narrativa publicitária a ponto de induzir o espectador a interpretar conexões que não deveriam existir, um alerta ético se acende. Espera-se que a redação não compartilhe o conteúdo das matérias produzidas com o setor comercial, mas algumas pautas – inevitáveis para alguns períodos – permitem que anunciantes comprem o intervalo imediatamente após o bloco jornalístico, sabendo que haverá uma reportagem sobre o tema – mesmo sem conhecer seus detalhes. O resultado, porém, pode causar a sensação de integração indevida entre jornalismo e publicidade. Mas, como afirmou o jornalista Carlos Dornelles, “Deus é inocente, a imprensa não”.
Silvia Bocchese de Lima

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