Cheia de Vida
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Sesc Londrina Cadeião - Museu do Comércio | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
Londrinenses comemoram uma década do Sesc Londrina Cadeião, repleto de transformações por meio do acesso a produtos culturais, ideias e conhecimento
Onde há vida, há pulsar, ritmo, movimento e transformação. Muito além de tijolos armados e de sua arquitetura histórica, o Sesc Londrina Cadeião pulsa vida, conhecimento, ideias e cultura. Desde sua reforma, revitalização e inauguração, em 2014, o espaço está em constante movimentação, com pessoas transitando pelos diferentes espaços e usufruindo de serviços e da diversidade cultural, em suas múltiplas expressões. A vida também se manifesta nas interações sociais entre grupos de distintas faixas etárias, nas conexões humanas e na convivência. O local que servia de cárcere a pessoas privadas de liberdade, hoje permite o trânsito constante do público e a livre convivência.
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Públicos de todas as idades no Sesc Londrina Cadeião | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
TRANSFORMAÇÃO
O Sesc PR transformou a história sombria da região da Rua Sergipe e do prédio – que abrigou por mais de cinquenta anos a cadeia pública da cidade – em um equipamento cultural de referência em Londrina e no Norte do Paraná. Domingos Pellegrini, em A Arte da Transformação, relata que o terreno doado pela Companhia de Terras, ainda na década de 1930, para a construção da nova cadeia municipal, estava localizado em “área então ocupada por casas de tolerância e prostituição noturna ambulante, como seria durante décadas”. O autor ainda detalha que o prédio, construído para deter, no máximo 60 pessoas, chegou a abrigar mais de 200 homens em condições desumanas. “Tinha 24 celas cubiculares e corredores estreitos e escuros, instalações elétrica e hidráulica sempre precárias e falhantes, um pequeno pátio interno cercado de altas paredes que reduziram a poucas horas o sol diário, e não tinha cozinha nem refeitório. (...) Este ambiente era tão propício à violência quanto estimulante para fugas”. A região do entorno da cadeia ficava à margem do desenvolvimento da cidade que começava a nascer, e embora não estivesse em área nobre, a cadeia era a primeira edificação a ser vista por quem chegava pela ferrovia e de alguma maneira maculava a imagem e enchia de vergonha aquela que viria a ser a Capital Mundial do Café.
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Sesc é para todos! | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
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O ator Rafael de Barros, da Cia. Exército Contra Nada, durante a apresentação do espetáculo Chorinho de Uma Rosa Só | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
RECOMEÇO
O recomeço do Sesc Londrina Cadeião trouxe novas perspectivas e mudanças profundas e positivas em sua finalidade. O prédio passou a pulsar cultura com aulas de diversas áreas artísticas, como dança, música, educação e cinema, além de abrigar espaços para exposições. Um teatro foi incorporado às atrações e, no solário – onde os presos disputavam réstias de sol – o Café-escola do Senac é ponto de encontro do público apreciador das artes. Nestes ambientes, artistas, músicos, escritores, poetas e pensadores podem lançar livros, fazer apresentações, conversar com o público e disseminar a cultura paranaense e brasileira. “Conheci este prédio muito antes de ele ter qualquer possibilidade de se tornar um centro cultural. Trabalhei como jornalista em redação e muitas vezes vim até aqui cobrir alguma ocorrência policial. O Sesc conseguiu ressignificar este quarteirão, transformando não só a cidade, mas toda a região, ao implantar este centro cultural que trouxe vida. Considero este espaço muito democrático, acessível, há sempre a possibilidade de proposição e de desfrutar da programação.
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Sesc Londrina Cadeião | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
Thais Gonzaga participa com a filha das atividades do Sesc Londrina Cadeião há mais de sete anos. “Nossa relação com o Sesc é maravilhosa. A minha filha frequenta este espaço desde os três anos de idade e ela adora qualquer atividade proposta aqui. Quando a convido para vir aqui, ela não quer nem saber o que terá, já vem feliz. Os serviços são excelentes, de muita qualidade”, conta Thais, complementada pela filha Gilda Gonzaga Leite. “Eu faço o projeto Criar, mas já fiz teatro, dança, música e várias outras coisas e ainda quero fazer costura. Quero que o Sesc continue sempre assim, porque está ótimo, maravilhoso. É sempre incrível vir aqui”.
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Crianças do Projeto Criar Sesc | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
SESC CELEBRA
A vida também pulsou no ritmo das mais de quatro mil e quinhentas pessoas que se emocionaram e participaram das atividades que o Sesc PR preparou para celebrar os dez anos do Sesc Cadeião Cultural e os 90 anos de Londrina, no dia 8 de dezembro. O estacionamento e a rua em frente à unidade serviram de espaço para uma feira cultural, gastronômica e de artesanato e uma série de atividades para toda a família. Foram propostas recreação infantil, espetáculo circense e musical com Rafael de Barros, shows com a banda de pop rock londrinense Sr. Bonifácio, além de muito samba com Janine Mathias.
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Show com a Banda Sr. Bonifácio | Crédito Imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
Colaborador do Sesc Cadeião desde 2014, o técnico de atividades na área musical, Rodrigo Rafaeli Figueiredo, revela que as pessoas foram desenvolvendo uma relação afetiva com a unidade. “Conseguimos desenhar uma programação acessível para toda a comunidade, de forma que todos compreendessem o significado e importância deste espaço. Hoje temos pessoas conectadas com este local, com crianças e famílias presentes, público que gosta de arte, de cultura”, disse.
A VIDA EM RITMO
Para encerrar a programação e promover a vida em ritmo, o Sesc Paraná levou a Londrina um dos principais compositores brasileiros, o músico Guilherme Arantes. Com 50 anos de carreira e com mais de 20 álbuns gravados, Guilherme é um dos hitmakers mais respeitados do país, tendo canções gravadas por Elis Regina, Maria Bethânia e Roberto Carlos. Com desenvoltura, ele transita entre gerações, conecta histórias, emoções e memórias, e continua sendo referência indiscutível na cultura brasileira.
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O músico Guilherme Arantes fez um show emocionante e trouxe um consagrado repertório musical | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
Com o poeta paranaense Paulo Leminski, Guilherme Arantes teve uma parceria que, em 2024, completa 40 anos: a que resultou no especial para a Rede Globo, voltado ao público infantil, Pirlimpimpim II, combinando música, fantasia e aventura. “Eu me diverti muito com Leminski. Ele era uma mente muito inquieta, sagaz, tinha domínio da liberdade da língua, sabia brincar com o idioma e também me ensinou a brincar com o lúdico da poesia. Ele tinha uma musculatura poética impressionante, trabalhava com o som das palavras, pesquisava a sensorialidade da palavra e isso ajudou a enriquecer o meu universo. Acredito que este foi o grande legado dele na minha vida!”, contou o músico. Ele complementa, lembrando o motivo do sucesso da parceria. “Leminski foi por diversas vezes à minha casa, mandava inúmeros fax para podermos trabalhar juntos, era uma figura muito querida, afetiva e a gente se identificou bastante. Os musicais infantis que existiam na época eram literários e muito sofisticados, com Vinícius, Chico, Edu Lobo, e ninguém imaginava que Pirlimpimpim II iria se transformar em um grande sucesso, pois nós éramos de um universo pop, voltado para todas as classes sociais. Com Pirlimpimpim II conseguimos entrar nas favelas, chegar ao povo mais humilde. A atração se transformou em um viral, um crossover social. Leminski foi perfeito para este momento”, conclui Guilherme Arantes.
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Show do Guilherme Arantes | Crédito Imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
Na apresentação em Londrina, ele relembrou sucessos como Planeta Água, Cheia de Charme, Amanhã, Lindo Balão Azul e Xixi nas Estrelas, uma das composições em parceria com Leminski. A participação no evento foi gratuita, mas o público foi convidado a levar doações para a Campanha do Brinquedo, que resultou na arrecadação de mais de 500 itens.
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Mais de quatro mil pessoas passaram pelo evento | Crédito Imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
Na avaliação da gerente executiva da unidade, Patricia Erika Sugeta, o Sesc Celebra Londrina & Cadeião é o momento de festejar a consolidação do espaço como referência em cultura e turismo. “Nos 80 anos de Londrina, o Sesc presenteou nossa cidade com este espaço e agora celebramos os 10 anos desta conquista, de um local que tem sido responsável pela formação de diferentes públicos, que tem proporcionado o acesso a distintas formas do fazer cultural. Hoje é uma grande festa com nossos clientes, fornecedores, artistas e com a comunidade! Que todos possam vibrar com este espaço, junto conosco”, avaliou Patrícia.
MÚLTIPLO CADEIÃO
A Sala de Leitura do Sesc Londrina Cadeião conta com amplo acervo de livros para empréstimos e consultas e no espaço ocorrem oficinas e atividades de leitura e literatura; consultas e leituras ao acervo; empréstimo de livros; cursos, oficinas e eventos de literatura; lançamento de livros e bate-papos literários com escritores; contações de história e atividades culturais para crianças. Também são promovidos o CineClube Literário – encontros para compartilhar ideias e percepções sobre as relações do cinema com a literatura – e o Clube de Leitura, com reuniões semanais para debate sobre livros, textos e publicações literárias.
A unidade também conta com o Inova Lab, um laboratório que oferece diversos cursos e oficinas voltadas para a inovação, para a formação tecnológica e digital, além de mídias e audiovisual para crianças, adolescentes, adultos, idosos, profissionais de empresas e colaboradores.
A Sala ArteSesc é dedicada às exposições temporárias de arte contemporânea, todas selecionadas por meio de edital. A unidade é contemplada também com o Centro de Difusão Musical (CDM). Trata-se de um projeto social que oferece formação musical gratuita a estudantes da rede pública de Educação Básica e para dependentes de trabalhadores do comércio.
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Museu do Café | Crédito imagem: Maykon Angelo da Silva Barros |
O Museu do Café é o espaço mais recente da unidade, inaugurado em agosto de 2023. Nos dois andares do edifício de mais de mil metros quadrados, os visitantes conhecem a história cafeeira de forma versátil, moderna e dinâmica. Trata-se de um grande centro cultural com salas de cursos, espaços de convivência, sala imersiva, pensado para preservar a memória da cultura cafeeira e do patrimônio histórico, lugar de informações contemporâneas, exposições, eventos, experimentações e vivências. Além disso, há toda a estrutura do Café-escola do Senac e do Solário, um espaço adjacente ao Museu do Café, com mesas sombreadas por guarda-sóis, onde o visitante pode apreciar a presença dos cafeeiros.
Clique AQUI para acessar o site do Museu do Café.
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Maykon Angelo da Silva Barros
Revista Fecomércio PR - nº 163
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