Quem foi Paulo Leminski?

Por Silvia Bocchese de Lima

Paulo Leminski | Acervo Familiar


O curitibano Paulo Leminski nasceu Paulo Leminski Filho, em 24 de agosto de 1944, no Hospital e Maternidade Victor Ferreira do Amaral, no bairro Água Verde, e faleceu aos 44 anos, também na capital paranaense, em 7 de junho de 1989. Apesar de sua morte precoce, viveu intensamente a vida que ele disse “ser uma viagem, pena eu estar só de passagem” e foi um “polivivente”, como chegou a declarar. 

O Polaco falava fluentemente oito idiomas, além do português: latim, grego, francês, inglês, espanhol, japonês, italiano e hebraico. Foi um expoente da poesia brasileira, professor, faixa preta de judô, escritor, músico, crítico literário, jornalista, publicitário, poliglota, boêmio, transgressor, tradutor, um autêntico inquieto cultural e um encantador de pessoas. Não é raro escutar de quem o conheceu e conviveu com ele, o quanto era cativante e dono de um magnetismo pessoal único. Toninho Vaz, biógrafo de Leminski, disse que “é possível compará-lo com a aparição de um disco voador – quem viu não consegue esquecer”. No livro Paulo Leminski: O Bandido que Sabia Latim, Toninho descreve que no escritor “havia algo de especial, algo de magnético, algo fora do comum, algo de louco. Sua profunda erudição e modernidade o transformaram em um intelectual peculiar, brilhante e eloquente – um ´especialista em generalidades´, como se definia”.



Em O Homem com Dois Lados Esquerdos, o escritor Ernani Buchmann compartilha as múltiplas particularidades de Leminski que ele conheceu. “Paulo Leminski conheci muitos. Fui aluno do professor, colega do publicitário, patrão do poeta doente. Amigo mais de 20 anos. Da lira dos próprios ao impróprio caixão. (…) Saudades do PauLeminski cachorro louco, do Paulo pauleira, polaco provocador irresistível, de quem me restaram alguns exemplares de seus livros, relidos sempre, a imaginar o riso irônico que a tudo dedicava, com que talvez ainda nos veja”. Buchmann ainda chegou a dizer que “Leminski não era uma pessoa, era uma usina. Vivia 24 horas por dia criando, tendo ideias, escrevendo poemas, fazendo músicas e discutindo. Tudo ao mesmo tempo, agora”. 



Domingos Pellegrini em Minhas Lembranças de Leminski destaca que o escritor era “poeta em alta voltagem, famoso e cultuado no país. Intenso em tudo o que fazia, sempre surpreendente nas coisas que dizia, aprendiz e engajado em tudo que se relacionasse à arte e à vida. Erudito e informal, culto e popular. Meio hippie, meio beat, um cerebrelétrico fascinante”. No livro, Pellegrini criou capítulos com as diferentes facetas que identificava em Leminski: “mestiço, noviço, anfitruão, estrategoísta, cerebrelétrico, polinguista, polivivente, anarquista, estoico e mito”. Neologismos como o próprio Leminski gostava de criar.



Autor de Roteiro Literário – Paulo Leminski, reeditado há dois anos com o título de Foi Tudo Muito Súbito, Rodrigo Garcia Lopes conheceu o escritor quando ainda estava cursando Jornalismo e saiu de Londrina, com destino a Curitiba, com a intenção de fazer uma entrevista para um jornal que não existia. De um encontro inesperado em uma livraria surgiu o convite para uma visita à sua casa, no Pilarzinho. “Foi uma coisa impressionante, um encontro muito marcante pra mim. Ele deixava a gente super à vontade, ao mesmo tempo era super inteligente, super articulado, extremamente bem-humorado. Uma figura. Acho que todo mundo que conheceu Leminski deve saber do que estou falando. (…) Encontrar com Leminski era sempre um enorme prazer, uma festa. (…) Todo mundo que conversava com ele, geralmente, ficava bastante impactado, (…) ele despertava a vontade de criar nas pessoas. Isso é uma coisa muito interessante. Parece que ele despertava o desejo de criar, seja uma tela, uma música, um livro, qualquer coisa. Ele tinha esse poder não só agregador, como também incentivador das pessoas. E uma generosidade que a gente não costumava ver muito no meio literário e intelectual. Para mim, foi uma revelação”, contou Garcia Lopes em entrevista ao podcast Janela Cultural do Sesc PR.

Obra

A obra de Leminski pode ser considerada marginal e é marcada por humor, ironia, neologismos e linguagem coloquial. Ele foi fortemente influenciado pela cultura oriental, pelo modernismo e pelo concretismo.

A bibliografia de Leminski conta com mais de 25 obras. Em 1975 ele publicou Catatau, e no ano seguinte, pela Etcetera, Quarenta Clics em Curitiba. Em 1980 publicou Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase, pela ZAP, e Polonaises, em edição própria. No ano de 1983, publicou Caprichos & RelaxosCruz e SouzaMatsuó Bashô, e a tradução de Folhas das Folhas da Relva, de Walt Whitman e, no ano seguinte, Jesus A.C.Agora é que são elas, e as traduções de Pergunte ao Pó, de John Fante; Giacomo Joyce, de James Joyce, e Vida sem fim, de Ferlinghetti, todos pela Brasiliense. Ele também traduziu, em 1985 e em 1986, Supermacho, de Alfred Jerry; Satyricon, de Petrônio; Sol e Aço, de Yukio Mishima; Um atrapalho no trabalho, de John Lennon, e Malone Morre, de Samuel Beckett. Leminski escreveu, ainda, Leon Trotsky, a paixão segundo a revoluçãoAnseios CrípticosDistraídos VenceremosGuerra Dentro da GenteCatatau (reedição em 1989); A Lua no Cinema, em 1989. Também foram lançados livros de Leminski postumamente: La Vie en Close, em 1991; Metamorfose: uma viagem pelo imaginário grego, em 1994;  Winterverno, em 1994 e 2001; O Ex-estranho, em 1996; Melhores Poemas de Paulo Leminski, em 1996, com seleção de Fréd Góes e Álvaro Marins; Toda Poesia e Vida, em 2014. Seus livros também foram traduzidos e publicados na Hungria, México, Argentina, Itália, Espanha e Estados Unidos.



Após sua morte, seu livro Metamorfose: uma viagem pelo imaginário grego recebeu, em 1995, o prêmio Jabuti na categoria Poesia.


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