Cultura que transforma

Sesc Paço da Liberdade, em Curitiba
Crédito Imagem: Ivo Lima


Prédios antes abandonados são restaurados, tornam-se centros culturais e transformam vidas, realidades e lugares 

 


Diferente das transformações físicas que alteram o estado de uma substância mas ela continua tendo a mesma essência, a transformação química ocorre quando as substâncias iniciais são rompidas, há um rearranjo dos átomos e novas substâncias são formadas.  

A cultura – como conjunto de saberes e de conhecimentos – funciona como as transformações químicas: rompe padrões ao seu redor e provoca mudanças significativas. Por entender que as práticas culturais ocorrem quando há a apropriação do território pela ação humana e que edificações compõem o patrimônio cultural material de um povo, o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR vem cumprindo, ao longo de 18 anos, a tarefa de preservação de imóveis icônicos da vida dos paranaenses. A entidade, mantida pelo empresariado do comércio, tem auxiliado o poder público em questões que se revelam complexas e dá respostas rápidas e efetivas, a exemplo do prédio do Paço da Liberdade, em Curitiba; a Cadeia Pública de Londrina; a Estação Saudade, em Ponta Grossa, e o Teatro Geraldo Moreira, em Bela Vista do Paraíso, transformados em unidades culturais do Sesc PR. 

É por meio da cultura que o Sesc PR tem sido responsável por trazer novos usos a esses espaços para preservar a memória de um povo, de uma região e promover o acesso a uma infinidade de produções culturais, irradiar conhecimento, formar plateias, modificar entornos, entreter e emocionar.  

 

Paço da Liberdade 

Foi assim em Curitiba, quando o imponente, histórico Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, foi entregue via Decreto Municipal de Permissão de Uso ao Sesc PR, por 25 anos, em 2007.  

O prédio do Paço da Liberdade passou por um minucioso processo de restauro
Crédito imagem: Shigueo Murakami

A construção, que já havia abrigado as sedes dos governos executivo e legislativo da capital, sido sede do Museu Paranaense e tido outras ocupações ao longo de sua história, passou por um intenso e minucioso processo de restauro para preservar suas características arquitetônicas e construtivas originais. Depois de inaugurado, em 2009, passou a abrigar uma unidade cultural do Sesc PR e um charmoso Café-escola do Senac PR.  


O prédio do Paço da Liberdade passou por um minucioso processo de restauro
Crédito imagem: Shigueo Murakami




Desde então já recebeu, descontados os dois anos de pandemia em que o prédio ficou fechado para visitantes, mais de 1,125 milhão de pessoas. “Abrigar as atividades de um centro cultural do Sesc significa um compromisso com a propagação da cultura, tendo o Paço como polo irradiador. Quase 14 anos mais tarde, podemos afirmar que a intervenção foi um sucesso. O Paço tornou-se um espaço de conhecimento e entretenimento, além de um monumento turístico responsável por atrair visitantes de todos os cantos do planeta”, ressaltou o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR e vice-governador do Paraná, Darci Piana.


O prédio do Paço da Liberdade passou por um minucioso processo de restauro
Crédito imagem: Shigueo Murakami
 

Não apenas o prédio foi restaurado, a história do local foi resgatada com as escavações no subsolo que revelaram o piso do antigo mercado municipal. O comércio do entorno, que foi formado principalmente no fim do século XVIII e início do século XX e as construções que resistem até hoje também foram motivo de preocupação da entidade, que em parceria com o Sebrae/PR, desenvolveu o Programa de Revitalização de Espaços Comerciais. A ação conjunta deu tão certo que o projeto se tornou modelo replicado em todo o país. 


Restauro
Crédito imagem: Nilson Santana



Hoje o Sesc Paço da Liberdade conta com uma biblioteca com mais de três mil títulos de diversas áreas que podem ser emprestados ou consultados no local; um centro de informação digital permitindo o acesso livre à internet; uma sala de exibição de filmes com programação constante e aberta a diversas experiências audiovisuais; espaço de artes preparado para receber exposições e ofertar cursos; estúdio de gravação onde são realizados trabalhos de produção e pós-produção de áudios gratuitamente; laboratório de arte eletrônica, onde ocorrem cursos e oficinas com uma série de opções técnicas e artísticas para a produção digital; uma livraria, e a Sala Cândido de Abreu – gabinete do primeiro prefeito e mentor do edifício – com mobiliário original e  alguns de seus pertences pessoais. Além disso, a Sala de Atos – um ambiente clássico e imponente, com destaque para o teto, que apresenta um conjunto artístico de 25 painéis com pintura a óleo sobre tela – recebe shows, concertos, recitais, palestras e conferências.


Restauro
Crédito Imagem: Nilson Santana
 

Abrão Assad, arquiteto responsável pelos Projetos Arquitetônico de Reciclagem e de Arquitetura de Interiores da edificação, profetizou em 2009 o que hoje é uma realidade: “Sua privilegiada localização, no coração da cidade, aliada a uma programação adequada, transformará este local na ‘sala de visitas’ de Curitiba”. 

Sesc Paço da Liberdade
Crédito Imagem: Shigueo Murakami


O Sesc Paço da Liberdade é aberto ao público de 3ª a 6ª feira, das 10h às 21h; aos sábados, das 10h às 17h45, e aos domingos e feriados das 11h às 17h. Clique AQUI, faça um tour virtual e conheça a programação da unidade. 


                 

 

 

Cadeião Cultural 

Em Londrina, durante mais de vinte anos, a população questionava se algo de bom poderia surgir de um prédio degradado e com um passado tão sombrio – o Cadeião da Rua Sergipe. Erguida com recursos da população, a construção foi a única que sobrou da década de 1940 no município. 


Prédio abandonado da antiga cadeia pública de Londrina
Crédito Imagem: Sesc PR


A história conta que a região do entorno da cadeia ficava à margem do desenvolvimento da cidade que começava a nascer, e sua vizinhança era recheada por prostíbulos. Embora não estivesse em área nobre, era a primeira edificação a ver vista por quem chegava pela ferrovia e de alguma maneira maculava a imagem e enchia de vergonha aquela que viria a ser a Capital Mundial do Café. 

Ao longo de meio século o prédio abriu a Cadeia Pública Municipal e após a transferência dos presos, no início da década de 1990, cogitou-se a sua demolição. Um grupo de professores e alunos da Universidade Estadual de Londrina colocaram-se à frente de um trator que já havia arrancado o reboco de uma de suas paredes. O imóvel não foi demolido, mas ficou abandonado, até que em 2011 o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR assinou com a Prefeitura de Londrina a cessão do imóvel por 20 anos para ser transformado em espaço cultural. 


Sesc Londrina Cadeião
Crédito Imagem: Rubem Vital


Após a restauração, que envolveu demolição e construção de novos espaços, algumas celas e paredes foram preservadas em seu estado original. A proposta é que as novas gerações conheçam a antiga realidade do presídio e tenham uma mostra da rotina trágica e desumana dos homens que ali eram mantidos presos. 

O passado sombrio foi substituído por um espaço que pulsa ideias, cultura e conhecimento. O Sesc oferta no local, desde 2014, aulas de diversas áreas artísticas, como dança, música e cinema. Conta com um espaço para exposições e um teatro que oferece inúmeras atrações ao público. Com oito anos de funcionamento, a unidade Sesc Cadeião Cultural já recebeu mais de 515 mil visitantes.  

No solário onde os presos disputavam réstias de sol funciona o Café-escola do Senac, que se tornou um ponto de encontro do público apreciador das artes.  

A exemplo do que ocorreu em Curitiba, a Rua Sergipe, onde se localiza a unidade, passou por um processo de revitalização. Um grupo gestor foi formado e um plano de recuperação tem sido executado com o intuito de unir empresários de uma das ruas mais movimentadas de Londrina – com mais de 530 CNPJs ao longo de oito quadras – e fortalecer seu desenvolvimento socioeconômico e cultural. “Depois do projeto de revitalização da Rua Sergipe, o Sesc Cadeião só veio enriquecer, não só a Sergipe e, sim, fez uma grande diferença para o quadrilátero,  para Londrina e região. Me lembro muito bem quando era a delegacia da Polícia Militar, presídio e quase ninguém gostava de passar neste lugar pela insegurança e medo. Londrina teve uma grande conquista. Sempre passo para fazer uma visita”, ressaltou a empresária Júlia Lieko Sato Ribeiro, da DJuly Moda Íntima, integrante do grupo gestor da revitalização da Rua Sergipe. 

Está em fase de conclusão as obras da futura sede do Museu do Café, localizado anexo à atual unidade do Sesc Londrina Cadeião Cultural. O espaço abrigou, durante os últimos anos, a 10ª Subdivisão Policial de Londrina e, após a reforma, contará com salas de exposições, museu sensorial, sala de dança, biblioteca, salas de música, de múltiplas artes. 


Futura sede do Museu do Café, em Londrina
Crédito imagem: Sesc PR


O Sesc Cadeião Cultural é aberto ao público de 3ª a 6ª feira, das 9h às 21h; aos sábados e domingos das 9h às 18h. Diariamente, das 9h às 19h, é possível fazer visitas monitoradas à unidade, mediante agendamento pelo telefone (43) 3572-7709. Clique AQUI, faça um tour virtual e conheça a programação da unidade.  

 

 

Estação Saudade 

A terceira unidade cultural do Sesc PR foi inaugurada em Ponta Grossa, em 2019. Trata-se do prédio da Estação Saudade, construído em 1899, tombado pela Curadoria de Patrimônio Histórico do Estado do Paraná e pelo Conselho Municipal de Patrimônio Cultural desde 1990, de propriedade do município de Ponta Grossa, cedido ao Sesc PR por 25 anos. 

A Estação Saudade, a terceira edificação da cidade a ter dois pavimentos na cidade, foi a principal gare da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande do Sul e dali partiam os trechos para o Norte e para o Sul do Brasil. Depois dos tempos áureos, a última viagem férrea pela Estação Saudade ocorreu em 1990. O espaço abrigou por alguns anos a biblioteca pública mas foi desocupado, e sofreu com a ação do tempo, das intempéries e de vândalos. 


Estação Saudade abandonada, antes do restauro do prédio pelo Sesc PR
Crédito imagem: Ivo Lima


O prédio foi restaurado pelo Sesc PR com um intenso trabalho que envolveu 37 restauradores e trabalhadores das áreas de construção civil, engenharia e arquitetura. Foram preservados ou substituídos por peças iguais, as madeiras de imbuia e pinho das esquadrias, pisos, forros, na escadaria e na bilheteria existente; os ferros utilizados na construção original dos pilares e os detalhes decorativos das esquadrias; os ladrilhos hidráulicos em piscos; os lambrequins de madeira na cobertura da plataforma; as telhas cerâmicas francesas da cobertura do edifício e a telha metálica da cobertura da plataforma e marquise da entrada e os elementos decorativos.  

Hoje, o Sesc Estação Saudade oferece à população e visitantes uma variada programação cultural, incluindo ações de cinema, música, teatro, dança, biblioteca, exposições, minimuseu, além de cursos de qualificação profissional como Confeiteiro, Salgadeiro, Auxiliar de Cozinha, de Hospitalidade e o Café-escola do Senac. 


Sesc Estação Saudade, em Ponta Grossa
Crédito imagem: Bruno Tadashi


O Sesc Estação Saudade é aberto ao público de 3ª a 6ª feira, das 9h às 21h e, aos sábados e domingos, das 10h às 18h. Clique AQUI e faça uma visita virtual à unidade. 


 

 

Bela Vista do Paraíso 

A mais recente unidade cultural inaugurada pelo Sesc PR foi em Bela Vista do Paraíso, região Norte-central do estado, em outubro de 2020. Ela está abrigada no prédio ícone da cidade: o Teatro Geraldo Moreira, construído em 1962, no formato do avião 14-Bis de Santos Dumont e localizado em uma praça central da cidade.  

Desde sua construção, a edificação já foi local de múltiplos usos, de intensas atividades sociais, recreativas, de eventos políticos, congressos, apresentações escolares, festivais de talentos e até local de cultos religiosos. O edifício também abrigou a biblioteca municipal e o Museu Gecy Fonseca. Após um longo período sem manutenção, abandonado por quase duas décadas, o local apresentou graves problemas estruturais: parte do teto desabou, o piso apodreceu e ações de vândalos foram responsáveis pela quebra das janelas e pichações nas paredes.  


Prédio do antigo Teatro Geraldo Moreira, em Bela Vista do Paraíso, abandonado
Crédito Imagem: Sesc PR


Com o restauro realizado pelo Sesc PR, o espaço e os arredores ganharam vida nova. O salão central foi destinado à cultura, com sala de espetáculos com capacidade para 229 pessoas, palco elevado – com isolamento acústico nas paredes –, camarins, vestiário, sala de controle e infraestrutura necessária para apresentações.  

À disposição do público estão sala de leitura,  foyer – espaço onde os espectadores aguardam o início dos espetáculos –, sala para cursos diversos ofertados pelo Sesc e o espaço Conexão, para o ensino de informática. Também há dois ambientes pedagógicos do Senac com capacidade para atendimento de mais de 50 alunos, capacitados para atuar nas áreas do comércio de bens, serviços e turismo. 

A área externa, a Praça Brasílio de Araújo Filho, recebeu inúmeras melhorias. Foram instalados bancos, estacionamento de bicicletas, área infantil e fitness, pista de skate, quadras de areia e de basquete 3x3. Toda a unidade está equipada para proporcionar acessibilidade ao público.  


Hoje o prédio abriga a unidade cultural do Sesc Bela Vista do Paraíso e oferta serviços do Senac PR
Crédito Imagem: Sesc PR

Nascido em Bela Vista do Paraíso, Fabrício Ravello Aroni sempre morou vizinho ao antigo teatro, o tem como continuação de sua casa e conheceu o espaço no apogeu e testemunhou a decadência. Foi no palco do antigo teatro que Aroni teve a oportunidade de estrear no papel do Diabo, quando houve a reapresentação do espetáculo O Auto da Compadecida - peça que foi encenada na inauguração do prédio, em 1962. “Conheci o teatro antes do abandono, assistia a peças e a festivais de dança. Sempre gostei muito deste espaço e como morador, a vinda do Sesc, para nós moradores,  foi a melhor coisa que aconteceu, deixou de ser ponto de drogas e de prostituição e passou a ser um local familiar, onde podemos fazer diversas atividades esportivas e culturais”, contou Aroni, que revelou que frequenta a unidade com frequência. “Minhas filhas gostam muito de ler os livros e de brincar na praça e na areia. 

O Sesc Bela Vista do Paraíso é aberto ao público de 3ª a sábado, das 9h às 21h e, aos domingos, das 10h às 18h. Conheça a programação e os espaços da unidade pelo QR Code. 

 

 
 

Lapa 

Na última semana de outubro, o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR recebeu por meio de Escritura Pública de Transferência o prédio do antigo Fórum da Comarca da Lapa. O imóvel será restaurado pela instituição para sediar uma unidade Sesc PR. 


Prédio da futura unidade do Sesc PR na Lapa
Crédito imagem: Prefeitura da Lapa




Revista Fecomércio PR - nº 150

Texto: Silvia Bocchese de Lima


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