Um armazém de cultura
Antonina será a próxima cidade paranaense a receber uma unidade cultural do Sesc PR. O local escolhido é símbolo do turismo do litoral |
Baía de Antonina, com desta que para as ruínas do Armazém Macedo (Crédito Imagem: Shigueo Murakami) |
Antonina foi a única cidade paranaense contemplada pelo Programa de Aceleração do Crescimento Cidades Históricas, do governo federal, que destinou recursos para a restauração de três importantes prédios históricos: o Armazém Macedo, a Igreja Bom Jesus do Saivá e a Estação Ferroviária.
Com a conclusão das obras pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tiveram início ainda em 2018, a Prefeitura de Antonina cedeu ao Sesc PR, pelo prazo de 20 anos, o uso real do espaço, sendo renovável pelo mesmo período. Na última reunião do Conselho Regional do Sesc PR, em maio, houve a aprovação da cessão, que aguarda parecer do Departamento Nacional.
Vista aérea (Crédito Prefeitura de Antonina) |
A partir da aprovação do Departamento Nacional e contrato entre o Sesc e a Prefeitura de Antonina será de responsabilidade do Sesc PR o investimento em mobiliário e o planejamento das ações e serviços que serão ofertados no local. “A cidade já tem um grande potencial na área cultural, pois realiza diversos eventos ao longo do ano, entre eles o Festival de Inverno, organizado pela universidade Federal do Paraná, do qual o Sesc PR é um dos apoiadores. Para a instituição, é de extrema relevância ter essa unidade na cidade, o que potencializará as ações de cultura, além de fomentar o turismo local”, enfatiza o diretor regional do Sesc PR, Emerson Sextos.
O prefeito de Antonina, José Paulo Vieira Azim, revela que o prédio restaurado, um dos mais importantes exemplares da arquitetura industrial do século XIX, com inspirações coloniais, está localizado na Baía de Antonina e parte dele se projeta para dentro do mar. “A restauração e ocupação são importantes, embasados em três pilares: o estético, que é a beleza arquitetônica do prédio; o subjetivo, que é o sentimento que desperta na comunidade, e o objetivo, que é a geração de emprego renda e o desenvolvimento da cultura e do turismo”, ressalta.
Armazém Macedo agora revitalizado (Crédito imagem: Thiago Afonso de Souza) |
Ele também conta que a escolha do Sesc para assumir o local deu-se pela experiência que a instituição detém em outros projetos semelhantes, como o Paço da Liberdade, em Curitiba, a Estação Saudade, em Ponta Grossa, e o Cadeião Cultural, em Londrina. “Desde o início optamos pelo Sesc por ser uma instituição respeitável, que valoriza a questão cultural sem dissociá-la da realidade da vida das pessoas.
Não tenho dúvidas que hoje Antonina, berço da cultura do nosso estado, está a um passo de se reinserir como protagonista no cenário estadual”, pontua Azim.
Sobre o fomento do turismo, o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR e vice-governador do Paraná, Darci Piana, lembra que o Armazém Macedo faz parte de uma série de outros prédios do Centro Histórico de Antonina que foram restaurados, como a Estação Ferroviária. “Isso tudo faz parte da história do nosso estado e ela merece ser preservada”. Piana afirma ainda que o governo do estado está empenhado em valorizar o litoral paranaense como destino turístico: “Antonina tem vocação de destino turístico. Nossa nova unidade será uma grande atração para os visitantes”.
ARMAZÉM MACEDO
Considerada um dos mais importantes ciclos econômicos do Paraná e chamada de ouro verde paranaense, a erva-mate foi responsável pelo desenvolvimento do estado, pela construção de importantes vias de acesso – como a Estrada da Graciosa e a construção da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá –, pelo surgimento dos barões do mate, pela autonomia da província.
A produção e o comércio da erva-mate estavam em ascensão já no ano de 1820, mas foi depois da emancipação de São Paulo, em 1853, que se tornou um dos pilares da economia da nova província e o principal produto de exportação.
Embora a Região Centro-Sul do estado fosse o núcleo de produção, os engenhos para beneficiamento da erva estavam localizados nas cidades do Leste e uma delas, era Antonina. Foi a partir dali, em 1869, que o industrial e exportador de erva-mate, José Ribeiro de Macedo, o Comendador Macedo, fundou sua empresa dedicada à compra e à venda de erva-mate, edificando o Armazém Macedo, às margens da Baía de Antonina.
Casal Laurinda Rosa Loyola de Macedo e José Ribeiro de Macedo (Acervo Museu Paranaense) |
“Durante décadas, vagões e vagonetes com produtos vindos de serra acima chegam à entrada do armazém através de trilhos, que percorriam algumas ruas da cidade até o cais. Com arquitetura eclética e características estéticas neoclássicas, a edificação possui soluções construtivas típicas da arquitetura luso-brasileira. É possível visualizar vãos e porões com a ventilação necessária para o adequado armazenamento das mercadorias”, traz o Inventário Turístico Expandido de Antonina, produzido pelo Instituto A Mudança Que Queremos.
Rafael Greca de Macedo, prefeito de Curitiba e autor do livro Curitiba, Luz dos Pinhais, revela que seu bisavô, o Comendador Macedo, era um abolicionista e, apoiado por um grupo de maçons, entre eles Ildefonso Pereira Correia, Petit Carneiro, Emiliano Pernetta e Ermelino de Leão, financiava o resgate de escravos – uma atividade transgressora na época – e, a partir do Armazém Macedo, enviava escravizados para países da América Latina.
“Sequestravam de seus donos os negros em risco. Colocavam-nos dentro de barricas de erva-mate, despachando-os em segredo, dentro dos navios, a partir do Armazém do Comendador Macedo, em Antonina, para Montevidéu e Buenos Aires. Lá, outros abolicionistas maçons os recebiam, dando-lhes dinheiro para começar vida nova”.
Macedo foi agraciado, em 1874, com a Comenda da Imperial Ordem da Rosa, por decreto da Princesa Isabel.
Ruínas do Armazém Macedo (Crédito imagem: Shigueo Murakami) |
RESTAURO
O Armazém Macedo era dividido em duas partes: uma destinada ao depósito de erva-mate – com piso com arcadas de meio metro de altura, a fim de evitar que o produto entrasse em contato com o solo molhado pela maré – e, outra, à habitação da família Macedo.
As obras de restauro recompuseram a cobertura dos barracões, fachada, fundações e criaram espaços que abrigarão uma unidade cultural do Sesc, destinada a exposições, auditório, café, salas de aulas, e de convivência. Até o fim de 2020, a unidade estará em funcionamento em Antonina.
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Revista Fecomércio PR - nº 136
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