Rio Iguaçu, uma indústria de energia
Com mais de 1.320 km de extensão, o principal rio do Paraná abriga seis importantes usinas hidrelétricas e é a força motriz energética do estado
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revolucionou os lares brasileiros. A curva de consumo de energia, desde então, vem em uma crescente com o incremento da indústria brasileira no pós-guerra.
A variedade e a quantidade de equipamentos ligados continuamente ou de maneira esporádica em uma residência geram – segundo o levantamento da Companhia Paranaense de Energia (Copel), realizado no último dezembro – um consumo médio mensal de 165 kWh no Paraná.
Este número chega a triplicar com as severidades climáticas no inverno e no verão.
Embora algumas cidades paranaenses tenham mais de 300 anos, a história do desmembramento de
São Paulo e a emancipação política do Paraná são bem mais recentes, datadas de 1853. A exploração do território além da capital e região litorânea ocorreu, principalmente, no fim do século XIX e início do século XX. O ritmo de desenvolvimento das cidades e o acesso às inovações tecnológicas eram distintos e, até mesmo, restritos.
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Nelson Luiz de Souza Pinto, engenheiro e doutor em hidráulica (Crédito Imagem: Ivo Lima) |
Há pouco mais de 55 anos, a condição energética paranaense apresentava um cenário, na opinião
do engenheiro e doutor em Hidráulica, Nelson Luiz de Souza Pinto, classificado como caótico.
“A situação do Paraná, na década de 1960 era crítica. Os índices de consumo de energia eram na casa
de 240 kWh por habitante ao ano, não atingindo 80% da média nacional de 310 kWh. O estado paranaense estava em uma posição lamentável quando comparado a índices internacionais”, relembra.
Para tirar o Paraná do escuro
Jornal que circulou em Curitiba nos anos de 1940, O Dia trouxe em uma de suas matérias o estudo
que o governo federal fez para suprir a carência de eletricidade e o quanto a situação impactaria o
estado. “O Paraná conta com um apreciável montante de quedas d’água aproveitáveis industrialmente
(...). Os antiplanos paranaenses oferecem inúmeras vantagens para uma racional e barata
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Plano Hidroelétrico Paranaense Moysés Lupion (Crédito Imagem: Bruno Tadashi) |
ainda a avaliação de que “na era da eletricidade, quando o índice de adiantamento de um povo é
medido pelo respectivo consumo de força elétrica, a nossa posição é de verdadeira indigência. (...) É
do incremento da produção de energia elétrica que se oferece um futuro realmente promissor”.
Em paralelo ao estudo federal, o governo paranaense apresentou, em 1949, o Plano Hidroelétrico Paranaense Moysés Lupion, assinado pelo engenheiro Luis Orlando – na época diretor do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado do Paraná –, prevendo o aproveitamento dos recursos hídricos do estado. Foi este plano que desencadeou intensas transformações, tanto sociais quanto ambientais, nas regiões que margeiam os grandes saltos, principalmente do Rio Iguaçu, o maior rio paranaense.
Estatizações
Até a década de 1950, as principais cidades brasileiras, como Curitiba, São Paulo e Porto Alegre,
tinham o fornecimento de energia realizado por companhias estrangeiras, como por exemplo, a
Companhia Força e Luz do Paraná, do Grupo Bond and Share.
Como não havia controle do Estado sobre as empresas estrangeiras no fornecimento de energia, os lucros eram gigantescos e, com a liberdade tarifária, o custo da energia era muito elevado. Nelson Pinto lembra que o governo brasileiro passou a entender que o setor energético era estratégico para o país e não deveria estar sob o controle de empresas estrangeiras. Internamente, havia pressão para
que o Estado passasse a controlar o setor.
Foi somente após a promulgação, por Getúlio Vargas, do Código de Águas, em 1934, que o Estado passou a regulamentar o uso e a propriedade das águas no Brasil com profundas modificações no setor elétrico. “A lei brasileira criou um sistema de cálculo de tarifa que não reconhecia a inflação. Com base no valor final da construção de uma usina e a porcentagem de lucro que a empresa poderia
ter, era calculado o valor da tarifa. Como a inflação no Brasil era galopante, o preço da energia começou a ficar muito baixo para as empresas mais antigas”, ressalta o engenheiro.
Com a tomada do poder pelos militares em 1964, o governo brasileiro precisava de apoio internacional e, uma das condições para que isso ocorresse, seria a estatização das usinas hidrelétricas estrangeiras em território nacional. Foi o que ocorreu. No mesmo ano, a Companhia Paulista de Força e Luz passou pertencer à Eletrobras.
Copel
Criada em 1954, no período final do governo Bento Munhoz da Rocha, a Companhia Paranaense
de Energia (Copel) iniciou suas atividades em meados de 1955. Nos anos seguintes, coube à companhia absorver os serviços de luz e de força da maioria das cidades, até então servidas pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). “A atuação governamental, por meio do DAEE, era modesta. Com a criação da Copel, foram tomadas medidas que asseguraram o crescimento sustentado de alto padrão. Destaque que a companhia alcançou no cenário energético nacional e na sua contribuição para a modernização do Paraná. As grandes modificações na estrutura da Copel tiveram início em 1961, no primeiro governo de Ney Braga. Ele convocou o engenheiro Pedro Viriato Parigot de Souza e deu-lhe carta branca para resolver de forma definitiva a questão da energia elétrica no Paraná”, acredita.
A empresa foi responsável por levar às cidades do interior e ao campo o acesso à energia, provocando
mudanças sociais, culturais, comerciais, ambientais e industriais. Este trabalho exigiu qualificação, treinamento e capacitação. Em suas construções, a Copel inovou, seja em questões arquitetônicas, de engenharia, ambientais e de responsabilidade social.
Pinto lembra que ao fim da década de 1960 foi instalado em Curitiba o Comitê Sul, sob amparo da
Copel, com a tarefa de inventariar o potencial hidrelétrico da Região Sul. “Nessa análise, efetuada por uma equipe altamente qualificada, distinguiu-se a riqueza energética do Rio Iguaçu e se estabeleceram as prioridades de investimento nas obras de Salto Osório, Salto Santiago, Foz do Areia e Segredo, que caracterizaram as décadas de 1970 e 1980”, diz.
Foi com os estudos do Comitê ul que o Paraná não apenas percebeu as suas potencialidades
hídricas e riquezas hidrelétricas como também definiu um cronograma e lista de prioridades para
as próximas usinas.
O Rio Iguaçu
É na divisa de Curitiba com Pinhais e São José dos Pinhais e do encontro dos rios Iraí e Atuba que
se forma o Rio Iguaçu, o maior do Paraná, ligando o estado de leste a oeste, passando pelos três
planaltos paranaenses e desembocando em Foz do Iguaçu. Com 1.320km de extensão e inúmeras
sinuosidades, o Rio Iguaçu apresenta trechos de navegação, mas são suas quedas d’água a principal
força motriz do Paraná e uma das principais produções hidrelétricas do Brasil.
O Plano Hidroelétrico desenvolvido no governo Lupion inseriu na agenda política estadual a questão
energética e destacava na década de 1940 que a Bacia do Rio Iguaçu contava com 31 saltos com
capacidade de 1.568.787HP, algo em torno de 1.169MW. Em 1990, a Copel divulgou um novo estudo
atualizando o potencial de geração da bacia do Rio Iguaçu para 11.300MW.
Usina do Caiacanga
Os primeiros estudos teóricos em torno da geração e do comércio de energia elétrica no Rio Iguaçu
tiveram início em 1904 e o principal foco do atendimento eram os consumidores da capital paranaense e cidades circunvizinhas. O Paraná engatinhou lentamente na construção de usinas hidrelétricas. A primeira, a Usina do Caiacanga foi pensada em 1907 e apenas colocada em prática em 1955, em Porto Amazonas e, em poucos anos de produção, já estava defasada. No ano de 1963, o governador Ney Braga sancionou a lei de doação da Usina do Caiacanga ao município de Porto Amazonas.
De acordo com os Relatórios de Governo de 1947-1950, a usina tinha potência de 3.000HP (2,23MW) e custou aos cofres públicos Cr$ 1.492.847,50. “A hidrelétrica do Caiacanga representa um marco histórico na construção de barragens e hidrelétricas no Rio Iguaçu (...). É possível afirmar que desde então o Rio Iguaçu entrou definitivamente nos planos hidroenergéticos tanto estadual quanto nacional a partir da década de 1950”, analisa, em artigo científico, o doutor em História,
Cezar Karpinski.
Usina Piloto de Salto Grande do Iguaçu
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Usina Piloto de Salto Grande do Iguaçu (Arquivo Público do Paraná) |
200km de Curitiba, tinha potência de 15,2 MW. Esta construção seria temporária para dar lugar à Usina de Salto Grande do Iguaçu, que jamais saiu do papel. Com a construção da Usina de Foz do Areia hoje Governador Bento Munhoz da Rocha Neto), os equipamentos e maquinários foram vendidos e a usina, submersa.
Usina de Salto Osório
A primeira usina construída pela Copel foi a de Chopim I, no Rio Chopim, na região Sudoeste do
Paraná, entre os anos da década de 1960. Após terem sido estudadas as prioridades de construção das usinas do Rio Iguaçu, a Copel queria que a primeira usina a ser construída fosse a de Salto Osório. “Salto Osório ficava próximo ao canteiro de obras da Chopim I e certamente a Copel teria a concessão da nova usina. Em termos hidráulicos, não era um bom local para se começar as construções pois não havia reservatórios e estava limitada apenas à vazão do rio”, conta o engenheiro.
O então governador Parigot de Souza defendeu que logo seriam construídas as próximas usinas e,
por força política, obteve êxito em seu pedido. Entretanto, o Ministro de Minas e Energia, Antonio Dias Leite Junior, defendia o princípio de que grandes obras em rios principais deveriam pertencer ao governo federal e as concessões não poderiam ser dadas aos estados. Caberiam às unidades federativas obras de médio e de pequeno porte.
Leite Junior entregou a concessão de Salto Osório à recém-criada Eletrosul. A construção ficou a
cargo da Copel, que foi ressarcida. O Ministro garantiu que a usina de Salto Santiago seria de concessão da Copel. Com 1.078MW de capacidade instalada, a Usina de Salto Osório pertence hoje à Engie Brasil.
Usina de Salto Santiago
Acometido por uma grave doença, o governador Parigot de Souza precisou se afastar do governo e,
nesse período, o ministro Leite Junior passou a concessão da prometida Usina de Salto Santiago à
Eletrosul, que comandou as obras e as entregou finalizadas em 1980. Com 1.420MW de potência instalada, a usina fica localizada no município de Saudade do Iguaçu e também pertence à Engie
Brasil.
Usina de Foz do Areia
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Usina de Foz do Areia (Crédito Imagem: Copel) |
de Governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Os estudos do Comitê Sul previam que a usina teria
uma barragem 50 metros abaixo dos atuais 160 metros. Com isso, a potência inicial seria de 500MW,
uma obra de médio porte segundo os padrões do governo federal. A concessão foi dada à Copel.
Sob o comando do presidente Arturo Andreolli, a Copel solicitou estudos aos técnicos da Kaiser-Serete sobre as obras de Foz do Areia. “Verificou-se que se houvesse um aumento de 50 metros
na altura da barragem, haveria a necessidade de inundar a área da Usina Piloto de Salto Grande do
Iguaçu, mas haveria a criação de um grande reservatório”, lembra Pinto.
Como a potência vem do produto da vazão multiplicada pela queda, o projeto da Usina de Foz do Areia foi transformado na maior obra do Rio Iguaçu. Com potência instalada de 1.676MW, capaz de atender a 5,5 milhões de consumidores, está localizada entre os municípios de Pinhão e Bituruna.
Nos arredores da usina, é possível visitar o Jardim Botânico de Faxinal do Céu, uma área de 152
hectares de mata preservada que abriga espécies da flora dos cinco continentes. Na Vila dos Trabalhadores é possível realizar turismo ecológico e de educação ambiental. A Vila de Faxinal do Céu é aberta ao público, com serviço de hospedagem para até 1.200 pessoas. Recebe ao ano mais de 20 mil visitantes.
Usina de Salto Segredo
O governo federal havia concedido à Copel a Usina de Salto Segredo, e no segundo mandato do governador Ney Braga, foi dado início às obras. Em homenagem ao governador, a usina hoje leva o seu nome e tem capacidade instalada de 1.260MW para atendimento de 2,7 milhões de consumidores. Inaugurada em 1992, a usina foi a responsável por produzir o primeiro Relatório de Impacto Ambiental elaborado no Brasil para uma hidrelétrica. Como compromisso assumido, em 2000, foi inaugurado o Museu Regional do Iguaçu. Nele é possível ter acesso ao acervo que foi coletado durante as obras das usinas hidrelétricas construídas pela companhia no Rio Iguaçu. O trabalho desenvolvido pelo museu é focado na educação ambiental, está aberto à visitação e, em seu entorno, encontra-se um horto florestal e uma estação de ictiologia.
Usina de Salto Caxias
Em 1995, a Copel iniciou a quinta obra de aproveitamento do Rio Iguaçu, a Usina de Salto Caxias,
hoje denominada Governador José Richa. Com potência instalada de 1.240MW, a usina foi inaugurada em 1999 e está localizada a mais de 600km da capital paranaense, em Capitão Leônidas
Marques.
Assim como em Salto Segredo, a Copel desenvolveu o Estudo de Impacto Ambiental para a implantação da Usina de Salto Caxias que realizou 26 programas ambientais, entre eles, o de salvamento do patrimônio arqueológico, reassentamento, reorganização das áreas remanescentes,
apoio à área rural dos municípios atingidos, recomposição da infraestrutura econômica e social.
Para agendar visitas às usinas operadas pela Copel, é necessário agendamento prévio.
Usina do Baixo Iguaçu
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Usina do Baixo Iguaçu Crédito Imagem: NeoEnergia/Copel |
Baixo Iguaçu, localizada na região Sudoeste do Paraná, de concessão do Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu, formado pelo Grupo Neoenergia e pela Copel.
A usina terá capacidade instalada de 350,2MW, energia suficiente para atender a um milhão de habitantes. A inauguração do lago da usina foi realizada nos últimos dias de dezembro passado. Em 16 de janeiro deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica divulgou no Diário Oficial da
União, a autorização para que a Geração Céu Azul, associação entre a Neoenergia e a Copel,
inicie a fase de testes da primeira turbina. Com a sua entrada em operação, o potencial energético do Rio Iguaçu está praticamente esgotado. Pequenas Centrais Hidrelétricas ainda podem ser construídas
em seus afluentes.
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Oq foi feito com os moradores das areas inundadas? Ouvi dizer que existem moradores até hoje procurando ressarcimento de suas propriedades rurais.
ResponderExcluirOq foi feito com os moradores das terras inundadas? Ouvi dizer que existes pessoas até hoje procurando ressarcimento de suas propriedades rurais.
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