A telefonia que ligou o Paraná ao mundo

Há pouco mais de 50 anos era criada a Telepar, empresa que revolucionou as telecomunicações
no Paraná. Referência em serviços, encurtou distâncias ao possibilitar o acesso aos telefones e,
em 2017 tem sua história contada em livro

“Alô. Alô, Telepar... alô!”. Horas antes do início da transmissão de uma partida de futebol, este era
o monólogo de um operador de rádio durante alguns minutos, ao realizar testes de linha para estabelecer o sinal telefônico, depois de mais de uma semana do pedido de disponibilidade de
linha, cabos puxados e, por fim, a disposição do sinal entre a cabine de transmissão em estádios e o estúdio.
Antes e durante a partida, mesmo após os comentários e entrevistas na beira do campo, a linha telefônica permanecia bloqueada aos demais usuários. “A reserva de uma linha telefônica
para irradiação de um jogo de futebol no interior do Paraná, por exemplo, tinha de ser feita com antecedência de, no mínimo, uma semana.
E durante a transmissão, quase sempre nas tardes de domingo, as ligações entre Curitiba e a cidade
do interior paranaense onde o jogo se realizava ficavam bloqueadas. No geral havia apenas uma linha e ela ficava ocupada pela equipe esportiva da emissora de rádio que conseguira a proeza de narrar e comentar o jogo”, revela trecho do livro Telepar – a revolução das telecomunicações no Paraná, de autoria de Walter W. Schmidt, José Francisco Cunha, Israel Kravetz, Paulo A. Bond, e Wilson R. Pickler.

O livro
A obra, lançada em dezembro, é um compilado de 560 páginas, dividido em seis partes, com 36 capítulos, e conta a história da Telecomunicações do Paraná S/A – a Telepar, empresa criada em 1963 pelo governador do Paraná, Ney Braga, e privatizada há 19 anos.
O livro também remonta aos primórdios da telefonia, quando telefone era grafado com ph, e conta a chegada dos dois primeiros aparelhos ao Paraná, em Paranaguá, dez anos depois de Graham Bell ter patenteado a invenção, além da saga desbravadora para possibilitar o acesso dos paranaenses às telecomunicações e a integração dos municípios.
Antigo telefone automático
De acordo com o livro, o primeiro presidente da Telepar, General Junot Rebello Guimarães, afirmava
que o Paraná era um estado feito de pedaços: o tradicional, formado por Curitiba, Paranaguá, Ponta
Grossa e o Norte Novo; o gaúcho, composto pelo Oeste e Sudoeste, e o mineiro e paulista, o Norte
Novo. “É preciso juntar estes pedacinhos por meio de estradas de rodagem, ferrovias e telecomunicações”, dizia.
A criação da empresa, na década de 1960, marca o período de crescimento e desenvolvimento do
estado, grande parte devido ao ciclo econômico do café. À época, o Paraná contava com 4,2 milhões de habitantes e pouco mais de 25 mil aparelhos telefônicos. Em outubro de 2017, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o estado registrou mais de 1,5 milhão de linhas fixas e 13,44 milhões de linhas de telefonia móvel, para 11,32 milhões de habitantes.
Pioneira, a empresa de telefonia foi a primeira estatal do Brasil a instalar uma rede de micro-ondas de alta capacidade, ligando o Paraná aos demais estados e ao restante do mundo. Foi responsável por integrar os municípios paranaenses ao disponibilizar telefonia em Discagem Direta a Distância (DDD) e Discagem Direta Internacional (DDI). Em 1965, o jornal O Estado de São Paulo trazia
como destaque o fato da capital paranaense passar a ter ligação direta com São Paulo. Foi considerada empresa modelo e referência, tendo recebido nota 10 entre as empresas do Sistema Telebrás.

Cidadania via telefonia
O uso de telefones para ligações interurbanas nos anos 1960 era impraticável. Os autores do livro revelam que uma ligação de Curitiba ao Rio de Janeiro, com duração de apenas três minutos, custaria o equivalente, em 2017, a R$ 600. “Estas chamadas eram caras devido à baixa capacidade de escoamento das chamadas e ao elevado custo operacional”, conta-se na obra.
Em testemunho ao livro, o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, Darci Piana, lembra que no início dos anos 1960, quando chegou a Palmas, vindo do Rio Grande do Sul, o telefone era um artigo de luxo, as ligações interurbanas eram mediadas por telefonistas e, em algumas vezes, esperavam-se horas ou dias para completá-las, em caso de ligações internacionais. “Com a criação da Telepar, as ligações começaram a mudar de patamar. Com o plano federal de ampliação do sistema, o mundo nunca mais foi o mesmo. As distâncias diminuíram, de forma que, em poucos anos, já
falávamos via DDD com qualquer lugar do país e do planeta”, destaca.
A expansão das linhas telefônicas possibilitou que, em 1976, todos os 290 municípios paranaenses fossem atendidos pelos serviços, e na década de 1980, telefones públicos instalados em conjuntos habitacionais e vias públicas, proporcionando que uma parcela maior da população tivesse
acesso ao serviço. Piana lembra que, para o comércio, o telefone foi fundamental para facilitar a tarefa de fazer pedidos, planejar entregas e fechar vendas. “Para quem, como eu, que passei os anos 60 e 70 correndo o Paraná, na função diária de vendedor de autopeças, o telefone tornou-se uma ferramenta fundamental, o meu principal aliado em uma época em que a telefonia celular ainda não
existia”, diz Piana.

Expansão e privatização
Em meio a uma série de equívocos, como a troca de construtora no meio da obra, erros de cálculos
e reforço estrutural, a conclusão e adequação das obras do prédio da Telepar – o Palácio das  telecomunicações Presidente Arthur da Costa e Silva –, foi encarado pelo então governador da época,
Paulo Cruz Pimentel, como desafiador. Pimentel, condecorado com o título de “Governador das Telecomunicações”, considera a obra, sua consagração. No dia 3 de outubro de 1970, o prédio de
20 pavimentos foi inaugurado em Curitiba, como sede da operadora.
A expansão da Telepar também passou pelo marketing. Divertidas e criativas campanhas publicitárias marcaram a história da empresa, como o Mudinho – assim apelidados os telefones instalados em residências e empresas, mas que em virtude de atrasos na entrega das linhas não funcionavam.
A crítica da imprensa tornou-se um argumento de marketing e o pejorativo Mudinho tornou-se peça
publicitária: “Sirva-se. O Mudinho – perdão, o telefone já fala.”.
A Telepar foi responsável, ainda, por inovações como o lançamento do cartão de crédito para  realização de ligações interurbanas; telefone público para portadores de deficiência auditiva, primeiro do gênero no Brasil; posto telefônico movido a energia solar, entre outros. Em registro no livro, a quebra do monopólio estatal das telecomunicações ocorreu em 1995, com a edição da Emenda Constitucional nº 8. A privatização da Telepar foi concretizada por mais de R$ 8,8 bilhões, em julho de 1998, e a empresa passou a ser controlada pela holding Tele Centro Sul.




Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Bruno Tadashi
Revista Fecomércio PR nº 121

Comentários

  1. Maria Emilia Staczuk10 de maio de 2024 às 05:29

    Onde eu consigo um exemplar do livro?

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    Respostas
    1. Maria Emília, você consegue o livro para empréstimo na Biblioteca Pública do Paraná e nas bibliotecas do Sesc da Esquina, Sesc Apucarana, Sesc Medianeira, Sesc Foz do Iguaçu e Sesc Londrina Centro.

      Excluir

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