Ouvinte de vidas. Leitor de almas
Reflexivo, ponderado e dono de um humor refinado, o Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom Peruzzo, traz consigo a missão de fazer discípulos e de ensinar
Foram três campos de futebol e a paixão pelo esporte que o levaram ao seminário. Ainda criança, integrou um grupo de coroinhas que acompanhava um padre a uma visita ao seminário e quando
lá chegou, não teve dúvidas. “Quando eu vi aqueles campos de futebol disse: – É para cá que quero vir! – pensei. Fui para jogar bola e também estudava, é verdade, mas estudar era uma exigência. O tempo passou e eu comecei a gostar para além do futebol. Ainda hoje gosto, mas as forças pararam e o esporte se foi”, conta o Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom Peruzzo.
Primogênito de uma família de origem italiana, José Antônio Peruzzo nasceu em Cascavel e iniciou os estudos no Colégio Marista. Ainda na adolescência, mudou-se para Curitiba para completar a formação acadêmica. Em 1985, foi ordenado padre. Mestre em Ciências Bíblicas, pelo Pontifício
Instituto Bíblico e doutor em Teologia Bíblica, pela Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino, ambos em Roma, foi nomeado, em 2005, bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão e, dez anos depois, o Papa Francisco o nomeou Arcebispo Metropolitano de Curitiba.
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Dom Peruzzo |
com caráter magisterial.
Leitor voraz, além de temas de especialização bíblica, Dom Peruzzo tem interesse pelos estudos sobre a cultura pós-moderna, especialmente os publicados por Zygmunt Bauman, pensador polonês que disserta sobre a Sociedade Líquida. É neste ritmo frenético de mudanças em uma sociedade que a tudo se ajusta que se encontra a tarefa de aliar a Igreja ao jovem. “Não só a Igreja, mas tudo o que é institucional, como escola, professorado, tem o desafio de conversar com este jovem. Para lidar com esta geração é preciso que aprendamos a ouvi-la. Quando eles se sentem ouvidos, abrem-se caminhos para que se sintam também amados. Vivemos em um tempo existencialmente ferido, com mudanças de paradigmas. Outrora se ensinava a quem precisava aprender, hoje todos precisam aprender a ouvir”, destaca o sacerdote.
À frente da arquidiocese, Dom Peruzzo revela que tem como desafio eclesial cumprir o “Ide”, ordenado por Jesus, nos evangelhos. “Estamos facilmente acostumados a esperar que o povo vá até a igreja. Precisamos vencer este tipo de paradigma e irmos até onde estão as pessoas. É desafiador o processo de saída. No âmbito da cultura e da civilização pós-moderna, em que o individualismo se tornou tão exacerbado, o desafio é levar a compreensão e o perdão. O forte tem dificuldade de aceitar
as próprias fraquezas e consequentemente não aceita as do outro. Já os enfraquecidos não são capazes e perdem a paz por se saberem fracos”, acredita. Outro desafio revelado por Dom Peruzzo é o de multiplicar os grupos de reflexão bíblica.
Atento ao cenário político e econômico brasileiro e frente a discursos ideológicos calorosos e agressivos, Dom Peruzzo classifica como grave a situação presente, principalmente pelas incertezas vindouras. “O individualismo se acentuou a tal ponto que quando existe uma cultura do direito desacompanhada da responsabilidade, as diferenças se tornam conflitos de direito e não possibilidade de convivência responsável. Quando o individualismo se torna até uma ideologia, a diferença é uma
ameaça. Constantemente temos discorrido sobre a grandeza da tolerância com comportamentos intolerantes”, avalia.
Texto: Silvia Bocchese de Lima
Foto: Bruno Tadashi
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