O centenário de um marco

Prédio que abriga a unidade cultural do Sesc Paço da Liberdade completou cem anos


Sesc Paço da Liberdade
No decorrer de seu centenário de fundação, o prédio que hoje abriga a unidade cultural Sesc Paço da
Liberdade, em Curitiba, tem transformado histórias e o seu entorno. Tudo começou com o espaço que abrigou um antigo quartel, foi largo da cadeia, o pelourinho, mercado e ganhou novos ares quando recebeu a sede do governo. O centro da cidade mudou e o comércio também. A cada nova ocupação
e abandono da edificação, novas marcas foram deixadas em Curitiba.
Há dez anos, o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, em parceria com a Prefeitura de Curitiba, começou a reescrever a história do edifício e do centro da capital. No dia 24 de fevereiro de 2016, foi celebrada uma década de ação conjunta e o centenário do Paço da Liberdade.
Para o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, Darci Piana, o estado do Paraná ganhou muito com a chegada do Sesc Paço da Liberdade. “O Sesc tem feito um trabalho extraordinário na questão cultural e o Senac também faz seu papel nos arredores, com as empresas, qualificando a mão de obra; juntos procuramos fazer com que toda a região em torno da unidade melhore”, pontuou Piana.
De acordo com o diretor regional do Sesc PR, Dieter Lengning, todo o trabalho feito no Paço é resultado de importantes parceiros e foi graças a visionários que o Paraná recebeu a unidade cultural do Sesc. “Hoje celebramos não apenas o centenário deste prédio, mas podemos usufruir de um centro
de cultura que tem levado desenvolvimento e revitalização a todo o seu entorno e tem exportado conhecimento a outros municípios do Brasil”, disse.
Na opinião do governador do Paraná, Beto Richa, prefeito de Curitiba quando da parceria com o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, foi entregue um presente não só à capital, mas a todo o Paraná. Atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet enfatizou que o Paço da Liberdade é um referência
em engenharia e arquitetura e que a parceria firmada para preservação do patrimônio cultural da cidade é um exemplo para o estado e para o Brasil.
A Revista Fecomércio PR convida você a conhecer história de Curitiba por meio do prédio do Paço da Liberdade.

Marcas na capital
Descrita por Rocha Pombo como suntuosa e elegante, com seus pouco mais de 50 mil habitantes, frota veicular de mil carros e 300 fábricas, a capital paranaense vivia um efervescente processo de urbanização no começo do século XX. O prefeito de Curitiba em 1913, Cândido de Abreu, pretendia adequar a cidade a modernizações e atualizações que já estavam sendo implantadas em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador. Uma importante ação para este processo deu-se com a construção de um edifício para abrigar a Prefeitura e a Câmara de Vereadores. O local escolhido foi a Praça Generoso Marques, região central e berço da cidade, onde funcionou o antigo Mercado Municipal.Para a construção do prédio do então Paço Municipal, concluída em apenas 560 dias, técnicas inéditas foram utilizadas, exemplo disso, as antigas paredes do mercado que serviram de tapume.Não foram poupados talentos para entregar à população uma obra única, rica em detalhes. O talento dos artesãos europeus que moravam na cidade foi essencial. Coube aos imigrantes alemães e poloneses o trabalho na marcenaria presente na obra, os trabalhos com pedrarias e cantarias foram marcas deixadas pelos italianos e portugueses, e o trabalho em ferro feito pelos espanhóis. A construção é classificada como neoclássica, formada por uma junção de estilos e contém detalhes Art nouveau. “Além da memória que este prédio representa, o que marcou a história do Paço da Liberdade foi a participação do artesão europeu. Eles eram descendentes das guildas medievais – uma espécie de associação de profissionais que surgiu na Idade Média – que de pai para filho se passava uma profissão, e todos detinham uma especialidade”, pontuou o arquiteto responsável pelos projetos Arquitetônico de Reciclagem e de Arquitetura de Interiores do Paço da Liberdade, Abrão Assad. Já no início do século XX, a construção do prédio trouxe significativas mudanças no seu entorno: o comércio e a redondeza foram revitalizados, novas obras foram edificadas e o local tornou-se ponto de encontro, de uso e de consagração da vida pública dos curitibanos.Construído para acolher a sede do executivo municipal, o Paço da Liberdade abrigou até 1966 o gabinete de 42 prefeitos. As reuniões da Câmara de Vereadores de Curitiba até 1955. A partir de então, o prédio passou a ter e revelar novas marcas. “Por estar enquadrado no período que para Curitiba entendemos como ecletismo, esta edificação é uma perfeita reprodução dos padrões da arquitetura palaciana. É intenção mostrar muito de uma maneira representativa nas suas fachadas externas”, enfatizou Humberto Fogassa, arquiteto responsável pelo projeto de restauro do Paço da Liberdade.

Museu Paranaense
Por quase três décadas, o prédio do Paço da Liberdade foi a sede do Museu Paranaense, com um importante acervo de conteúdo histórico, fotográfico, documental e arqueológico que marcou a vida cultural dos curitibanos e dos paranaenses. Mais de 2,3 milhões de visitantes conheceram a estrutura do museu e suas exposições durante o período de instalação na Praça Generoso Marques. “A missão
principal do Museu Paranaense era cuidar da memória coletiva, usar o acervo que dispunha para fazer com que se pudesse contar a história do Paraná. Sobretudo, com seu acervo, que deveria ser bem estudado, dar condições para que o visitante pudesse reconhecer a identidade cultural paranaense”, pontuou o ex-diretor do Museu Paranaense de 1995 a 2002, Jayme Antonio Cardoso.
Na década de 1990, o prédio sofreu com infiltrações e problemas estruturais e, em 2002 ocorreu a alteração da sede do museu.

Desgaste
Com a saída do Museu Paranaense do edifício do Paço da Liberdade, a construção ficou sem ocupação e sem receber cuidados de manutenção durante cinco anos. Os principais ornamentos
externos do prédio ruíram, houve invasão na construção, roubos da tubulação de cobre e fogo no assoalho.
Mesmo deteriorado, o prédio não perdeu a majestade; entretanto, o abandono da edificação trouxe
marcas negativas para o seu entorno. “Em 2006, expus ao então prefeito Beto Richa a dificuldade dos comerciantes da região da Rua Riachuelo, com o velho Paço em situação de abandono”, contou o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, Darci Piana.

Revitalização
A chegada do Sesc ao prédio do Paço da Liberdade ocorreu em 2006, com a assinatura do Decreto de Permissão de Uso do Paço e da parceria firmada entre o Sistema Fecomércio Sesc Senac PR e a Prefeitura de Curitiba. O prédio foi revitalizado e mais de 15 mil horas de trabalho foram necessárias para recuperá-lo por completo. Hoje, é impossível transitar pela Praça Generoso Marques, no Centro de Curitiba e deixar passar despercebido o imponente prédio da atual unidade cultural Sesc Paço da
Liberdade Sesc PR, que atrai turistas e visitantes para a região.

Centenário
Para comemorar o centenário, durante todo o ano de 2016, a unidade Sesc Paço da Liberdade ofertará uma programação específica. A exposição Múltiplos Instantes – Croquis do Paço da Liberdade, com imagens retratando o prédio e o lançamento do livro Impressões – Diários Gráficos do Paço da
Liberdade, com organização de Celise Helena Niero e José Marconi Bezerra de Souza marcaram a festividade do centenário. O livro apresenta registros produzidos pelo grupo “Desenhadores de Rua”, vinculado à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em parceria com o Sesc Paço da Liberdade e com apoio do Departamento de Design e do Curso de Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade. “O grupo reuniu pessoas das mais variadas formações técnicas e conhecimento de desenho, as quais, durante o período de setembro a dezembro de 2015, produziram 250 composições. Uma seleção desses desenhos compõe esta publicação”, revelou o professor do Departamento de Design da UTFPR e PhD pelo Department of Graphic Communication
& Typography, University of Reading, Inglaterra, José Marconi Bezerra de Souza.


Texto: Silvia Bocchese de Lima
Fotos: Ivo Lima, Bruno Tadashi, Nilson Santana e Shigueo Murakami


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