Uma proposta para o futuro



 A Fecomércio PR desenvolveu um estudo sobre as principais deficiências que inibem o crescimento consistente do estado e do país. O compilado traz sugestões aos novos dirigentes a serem eleitos, na busca por um melhor ambiente empresarial e de qualidade e de vida para a população

Darci Piana
Responsável por 65,8% de toda a riqueza produzida no país, o setor do comércio de bens, serviços e turismo emprega 62,8 milhões de trabalhadores brasileiros. O Paraná tem a sua massa de trabalhadores composta por mais de 1,8 milhão de pessoas e 518 mil empresas. Nesta edição, a Revista Fecomércio PR entrevista o representante dos empresários do mais importante segmento da economia paranaense, o presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR, Darci Piana, sobre a proposta elaborada pela entidade aos novos governantes.

Revista Fecomércio PR - (RF): A análise feita pela Fecomércio PR leva em conta fatores macroeconômicos, a possibilidade de construir um futuro sustentável e indicadores como a liberdade pessoal, comparável aos países mais desenvolvidos. O que nos arrasta para baixo são os índices de governança, saúde, capital social, educação e segurança?
Darci Piana - (DP): Sem dúvida o impacto é significativo quando se busca a capacitação de trabalhadores nas áreas que exigem interpretação de textos e conhecimento em matemática básica. Tradicionalmente, a prosperidade de uma nação era medida quase que exclusivamente com base em seus indicadores macroeconômicos como a renda per capita ou seu PIB, mas ao longo das últimas duas décadas, isso tem mudado. Estudiosos da área econômica passaram a mensurar a prosperidade incorporando outros fatores como saúde, segurança, capital social, educação e liberdade pessoal, tudo isso para buscar um resultado mais próximo da realidade da nação. Se compararmos com outras 142 nações, o Brasil tem apresentado melhoras significativas no ranking produzido pelo Legatum Institute do Reino Unido e atingiu a posição de número 46, duas abaixo do ano anterior e, ainda, atrás de vizinhos como Uruguai, Costa Rica, Chile, Panamá e Argentina.
Se pensarmos apenas sob o ponto de vinda macroeconômico e de liberdade pessoal, o país se aproxima muito dos melhores países do Hemisfério Norte, mas vários indicadores, como governança, saúde, capital social, educação e segurança que arrastam o país para posições muito abaixo da média. E com esta análise que fizemos pretendemos apresentar propostas que aos olhos do comércio de bens, serviços e turismo do Paraná, podem servir de base para uma melhora no nível de prosperidade da nação e, quem sabe, auxiliar os futuros governantes a buscar um ambiente empresarial melhor e levar qualidade de vida para a população.


RF: Um dos entraves e antigo empecilho da nossa economia é o Custo Brasil, que acaba contribui para evidenciar as limitações da economia brasileira, em especial à competitividade e produtividade. Como reverter estes custos?
DP: O Brasil possuiu um desempenho inferior a outros países em desenvolvimento e é preocupante essa ineficiência da máquina pública em sua missão de gerar serviços de qualidade à população. Se o olharmos o artigo nº 37 da Constituição Federal Brasileira, que trata do princípio da Eficiência, podemos ver que ele está longe de ser atingido pela maioria dos administradores públicos. É preciso reduzir o número de cargos em comissão e o peso da máquina pública. Nossa proposta é a implantação, de imediato, de uma governança pública gerencial, que se concentre na redução do número de ministérios, na simplificação do sistema de pagamento de tributos e contribuições e também no processo de abertura e fechamento de empresas.

RF: Empreender no Brasil nem sempre é uma tarefa fácil. Os problemas começam na abertura e se prolongam até o eventual fechamento de uma empresa?
DP: A burocracia e ineficiência do poder público desestimulam os empresários e tudo isso faz com que o país perca em competitividade. Urge-se a simplificação do processo de abertura e fechamento de empresas. Para abrir uma empresa são necessários, em média, 13 procedimentos nas esferas municipal, estadual e federal. Entendemos que é preciso centralizar os processos, por meio de um cadastro único. Os problemas são ainda maiores no fechamento de uma empresa, e todo o processo pode durar até mais de quatro anos! Mas nada funcionará enquanto vigorar o caos tributário. Precisamos retomar a proposta de reforma tributária nacional, e implementarmos o Imposto sobre Valor Agregado. Mais ainda, diminuir a carga tributária, bem como o número de espécies de tributos, simplificando assim, o sistema arrecadatório. A substituição tributária tem se transformado em um mecanismo cada vez mais complexo, e isso afeta a rentabilidade das empresas. Entendo ser vital eliminar a guerra fiscal entre os estados, e unificar as legislações e as alíquotas.

RF: Além da reforma tributária, o senhor concorda ser necessário também haver a reforma trabalhista?
DP: Sem dúvida o peso da arcaica legislação trabalhista, criada em 1943, que prejudica o emprego e a competitividade e onera empresários e trabalhadores. Entendemos ser imprescindível reduzir as alíquotas em contribuições, a equalização dos salários mínimos estadual e nacional e o aperfeiçoamento do processo de Conciliação Prévia.

RF: Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica mostram que o Brasil ainda ocupa uma posição abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. De que maneira do Sistema S pode contribuir para reverter este quadro?
DP: É fundamental que além de propiciar o acesso à educação básica seja ofertado ensino de qualidade e que na grade curricular estejam noções de moral, civismo, sustentabilidade e ecologia. Além disso, a acrescente demanda de mão de obra demonstra a importância da formação técnica especializada e esta é a nossa função enquanto Sistema S, por meio das instituições como o Senac e Senai. Por isso, é imperativo que seja mantido o apoio ao Sistema S para dar vazão à demanda com a necessária qualidade.

RF: Apesar da abertura comercial que o país viveu a partir de 1990, ainda há muitos entraves para o comércio exterior?
DP: Eu diria que a burocracia e a limitação na infraestrutura são os principais problemas que enfrentamos quando o assunto é comércio exterior. Vejo que é necessário melhorar a gestão para que sejam evitadas as constantes manifestações e reivindicações grevistas dos funcionários ligados às atividades aduaneiras. Além disso, precisamos manter as negociações entre os parceiros do Mercosul e fortalecer os acordos e superarmos o problemas políticos.

RF: Do campo à indústria encontram-se dificuldades para escoamento das produções e a infraestrutura deficiente encarece o preço dos produtos. Quais as ações que necessitam ser implantadas?
DP: A falta de infraestrutura representa um dos grandes gargalos para o crescimento econômico do Paraná e do Brasil. Nesse sentido, os desafios a serem superados contemplam os modais de transporte rodoviário, ferroviário, portuário, hidroviário e aeroviário, além de mais investimentos em mobilidade urbana e no setor elétrico.
O modal mais utilidade em nosso país é o rodoviário, representando cerca de 60% do transporte interno. São fundamentais as construções de novas estradas, como o trecho paranaense da BR-101 e a conclusão da BR-487 e da BR-153. Além disso, o crescimento econômico apresentado pelo Paraná tem exigido investimentos nos aeroportos, não só no Afonso Pena, mas também nos de Londrina, Maringá e Cascavel e naqueles destinados à aviação regional. Na área da energia é preciso estimular novas fontes e rever a política do etanol, para que retome sua competitividade.



Entrevista a Ernani Buchmann e Silvia Bocchese de Lima
Foto: Gilson Abreu 


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