E você, tem cultura?

Guimarães Rosa, escritor brasileiro, certa vez escreveu que o bonito no mundo era , justamente, a diferença e que certos fatos possuem lentas modificações, visíveis ou perceptíveis somente ao longo do tempo.

Um certo professor, em uma de suas aulas, comparou a cultura ao cabelo. Este, cresce devagar, está sempre no mesmo lugar, porém nunca é o mesmo. Esta história me faz lembrar Heráclito, que relata não ser possível pisar em um mesmo rio duas vezes, pois ele nunca é o mesmo. Ele sempre muda. E, Lulu Santos cantou que o que se vê não é igual ao que se viu há um segundo.

Sendo assim, lembrei-me do meu violão. Dificilmente faço uso dele durante a semana, mas aos sábados, antes de tocá-lo, é necessário afiná-lo. Diariamente, alguns raios de sol insistem em fugir ao bloqueio da cortina e atingem as cordas do violão. É impossível visualizar o aquecimento e a dilatação das cordas. Só percebo o trabalho do sol aos fins de semana, quando o primeiro som do instrumento está em total desarmonia. Assim como o violão recebe interferência do sol, acontece o processo de aculturação, quando há modificações dos modelos culturais pela interferência de outras culturas. Aí, afinamos e desafinamos.

A cultura é um conjunto de valores, costumes, objetivos, língua, vestimentas, hábitos, conhecimentos, religiosidades, conceitos e estes são dinâmicos e servem para organizar e dar sentido às coisas.

As aulas de Biologia, do Ensino Secundário, reforçam a classificação dos seres vivos e os agrupa em reino, filo, classe, ordem, gênero e espécie. Ao se fazer a nomenclatura oficial são verificados o gênero e a espécie, com possibilidades de subgêneros e sub-espécies. Com o ser humano não há sub-espécies, nem raças. Para o determinismo biológico, a diversidade cultural é determinada biologicamente. As críticas a essa corrente são inevitáveis.

Segundo Howard Gardner, os seres humanos são dotados de múltiplas inteligências. Para ele, o cérebro humano tem oito diferentes áreas que podem ser desenvolvidas. Roque de Barros Laraia destaca que o ser humano está biologicamente preparado para viver mil vidas, porém acaba vivendo apenas uma. Ou seja, se todos são munidos das mesmas capacidades de aprendizado, não é possível classificá-los, determiná-los biologicamente.

Outra corrente, defende o determinismo geográfico; que acredita que as diferenças ambientais e físicas condicionam a diversidade cultural. Portanto, não se pode determinar que o simples fato de ter nascido em Porto Alegre não me tornará uma exímia jogadora de futebol, como Ronaldinho Gaúcho.

Os indivíduos participam de maneiras diferentes da sua cultura, afinal, como foi mencionado anteriormente, a cultura é dinâmica.

A Revista Veja, de dezembro de 1999, apresentou um quadro com dez décadas e as diferentes formas como o sexo era encarado. Em 1910, a virgindade era tida como uma questão de honra para a mulher. Se na noite de núpcias fosse constatado que a moça não era mais virgem, poderia ser anulado o casamento e ela, devolvida aos pais. Em 1990, a virgindade não se tornou tão importante, alguns pais até abrem suas casas para o encontros dos filhos. Contudo, não se pode afirmar que houve ruptura. Para muitas garotas, a virgindade é um ideal a ser mantido até o casamento.

Aquele mesmo professor que contou a história do cabelo, certa vez contou que o homem é munido da capacidade de pensar, induzir, deduzir, abstrair, comparar e elaborar juízos, sendo capaz de construir as suas culturas. Para Laraia, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra.

Lembrei-me, então, que a adolescência é um período de descobertas, onde as capacidades de pensar, de induzie e, inclusive, de sedução, estão aflorando. Alguns se destacam nos grupos, seja pelo jeito de falar, de de expressar, pela beleza ou inteligência. É quando se formam as tribos, quando não enquadrado, cabe ao adolescente, a exclusão.

A participação de um indivíduo em sua cultura depende de sua idade, porém, ninguém é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura.Quando uma pessoa, por força de uma socialização inadequada, não conhece as regras de seu grupo, cabe a ela a morte ou o exílio.

No Brasil, durante 24 anos, viveu-se um regime de governo arbitrário, constrário à democracia. Os pensadores que aqui viveram, artistas, escritores, políticos e a população em geral, coube o exílio ou a morte.

Por fim, volto a afirmar, nascer no Brasil não é determinandte para saber dançar e jogar futebol, assim como, nascer nos Estados Unidos não me torna jogadora da NBA. Em suma, a cultura é dinâmica, mas existe postos que são regulares, aí, existem as tradições.


Silvia Bocchese de Lima

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